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A outra pergunta formulada era: “a aceitação, o assumir dos direitos humanos por parte da Igreja e o seu relacionamento com a sua tarefa constitutiva que luz projectam sobre a própria Boa Nova? A este respeito, impôe-se reconhecer que a leitura mais habitual da salvação, em termos meramente futuros e individualistas, por um lado, e espiritualistas, para não dizer angelistas, por outro, não corresponde à verdade. Melhor, corresponde à verdade, mas não à verdade toda. E, que, portanto, se apresentada como exclusiva de outras dimensões, está francamente errada. Em primeiro lugar. a salvação já está presente embora ainda em germen, com o dinamismo de um germen, fonte de vida e de crescimento. Além disso, é também, e talvez antes de mais, social e histórica. Tende a incarnar no socio-temporal e enquanto o não fizer, não está cumprida, pois o seu dinamismo intrínseco exige essa realização. E evangelizar, anunciar a salvação e facultar que ela se torne presente nos que a acolhem na fé, “ para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade: “Eis que faço de novo todas as coisas”...Estratos de humanidade que se transformam: para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação” (EN 18-19). Por isso, a Igreja evangelizadora proclama os direitos humanos (GS 41, 3º). Mas como a evangelização se inicia pelo testemunho de vida (EN 21), sem o qual o necessário anúncio explícito se perde e se anula, o que o Concílio nos está a dizer é que a Igreja, na sua prática, não apenas com palavras, mas existencialmente, tanto na sua relação com o mundo como na sua vida interna, e toda ela, pastores e fiéis, se deveria comprometer na causa dos direitos humanos (cf. Redemptor Hominis, 17). Referiria aqui, se o não tivesse feito antes, as nossas graves omissões, tanto do passado como do presente, neste campo. Mas, na mesma linha, parece-me preferível sublinhar o facto de que estas exigências de incarnação nos fazem perceber como o Evangelho tem forçosamente uma dimensão política, não no sentido de postular uma, e só uma, forma de intervenção, um, e só um, figurino da acção política -graças a Deus, esse tipo de leitura parece hoje ultrapassada-, mas no sentido de uma urgência muito real de descer dos grandes princípios a uma prática colectiva, juridicamente estruturada e controlada, tanto do poder como da responsabilidade de cidadãos. Como cristãos, e isso significa aqui como colaboradores da evangelização, deveríamos ser capazes de meter as mãos na massa, de estarmos presentes e activos, nomeadamente no que se refere aos direitos humanos que importa não já declarar, mas, segundo o cocnsenso geral, pôr definitivamente em prática, cumprir. Como toda a gente sabe, a política das “mãos limpas” sendo política, não é boa política e não é cristã. Mateus Peres |
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