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DOMENICO AGOSTINO VANDELLI |
PARA UMA BIOGRAFIA DE DOMINGOS VANDELLI |
(1735-1816) |
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1763 |
- Dell'Acqua di Brandola, dissertazione. Modena.
- Conspectus Musei Dominici Vandelli. Pádua. |
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Carta de António de Haen. Viena, 5 de Janeiro.
Envia tomo VII da Rat. Med. Omnia. Por carta de Benvenuti, soube que DV estava em polémica com Haller, indica o facto naquele seu tomo da Rat. Med. Refere ligações de Haller e Hirzel. Caso da varíola. Aparentemente é Haller o autor das calúnias. Refere-se a experiências com Cicuta e novamente a calúnias e mentiras que sobre ele recairam. Vandelli é convidado para leccionar na Universidade de S. Petersburgo, mas António de Haen dissuadiu-o de ir para a Rússia, com isso influindo na sua vinda para Portugal. |
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Carta de Lineu. Upsala, 12 de Fevereiro.
Alegra-se por nada de mal ter acontecido a DV na perigosa viagem alpina. Mas pelos vistos Vandelli sofreu de prisão de ventre, porque Lineu diz que os clisteres raro transcendem a válvula do colo e do ceco, e que segundo a opinião corrente, também injecta fumo de tabaco pelo ânus, o que muitas vezes tem prescrito, o qual sobe até à garganta e solta as cólicas más; principalmente se antes todo o abdómen for untado com muito azeite casado com vinagre. Ouviu falar de um exemplar antiquíssimo da Matéria Médica de Dioscórides, com imagens muito selectas; confessa que gostava de o ver. "Scopoli promete uma Fauna cárnica, oxalá seja boa. Mas por minha fé te digo que não exibe 300 novas espécies de insectos da Europa. Na altura em que saiu a décima ed. do Systema Naturae, dei 200 novas espécies de insectos noutra edição da Fauna. Agora tenho 200 novas europeias e 100 exóticas; mas não acredito que Scopoli apresente 300, tanto mais que
muitas são da Europa austral, que não vi, e Govani (Gouan?
Govano?) procura insectos de Montpellier".
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Carta de Lineu. Upsala, 1 de Outubro.
Lineu recebeu
documentos de DV e inclusas raríssimas e belíssimas flores:
sem dúvida uma variedade de Saxifraga burseriana, três
vezes maior, com mais flores, e folhas mais triangulares.
Saxifraga hypnoides?, mas com flores brancas, folhas
acumuladas na raiz. Saxifraga hypnoides varia muito; nunca
tinha visto antes tal variedade; é uma espécie diferente,
mas não o pode assegurar. Arenaria rotundifolia é uma planta
que Lineu obteve algumas vezes dos Alpes italianos; mas
sempre sem frutificação; "esta é nova para mim, merece
desenho e descrição. Recebi Thea (chá) da China, decerto a
primeira que já existiu num horto europeu. Junci Lacustris é
uma planta muito distinta do belo espécime de Vallisneria que DV lhe enviou.
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Carta de António de Haen. Viena, 17 de Novembro.
Na última cartas, Vandelli dizia que ia trocar o Paraíso
Europeu pelo hórrido Setentrião. Haen está estupefacto. Dá-
lhe conselhos, dissuade-o de tal ideia, é navegar de
encontro à tempestade. Fala muito de Colchicum, das suas
virtudes curativas, entre elas a diurética. Enuncia um
preparado que tem a ver com a urina. Continua a falar de
doenças, em relação a sementes egípcias. Considera o Colchicum uma das plantas mais venenosas. Colige-se no
outono. Parece que é venenoso mas não quando aplicado a cães
e pessoas. Dá a receita de extractos e remédios de Colchicum & Cicuta. Serve para curar úlceras malignas. Está munido de Dioscoridis e Dodonaeo, são bons para o cancro, úlceras,
etc.. Fala de outras plantas medicinais: Althaea, Brassica,
das sementes de Lupinus, usado em decocção, diz como se
administra. A cicuta parece que é anti-escorbútica e
purgante. Também tem curado cancros com ela.
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1764 |
Carta de Lineu. Upsala, 8 de Fevereiro. "Conforme a
tua carta, escrevi a um amigo que tenho em S. Petersburgo. O
teu papel era bastante extraordinário. É semelhante (no
caminho DaIekarchico ?) a Bysso fios aquae, o qual na Flora
Lapónica, 529, ocorre nos rios secos, onde oculta as pedras,
e aplicado à mão esquerda aparta-se dela com facilidade, à
maneira de um pedaço de papiro branco, e menos pegajoso."
Lineu lamenta o óbito infeliz e prematuro de Donati e a
perda das suas observações. Este Donati deve ser parente de
Angelo Donati (Angola, viagem filosófica).
DV Dirige-se a Génova, de onde embarca para Portugal. Veio por curiosidade científica, desejoso de conhecer a flora e a fau-na de um país que Lineu diz ser a India
europeia, terra felicíssima, mas sobretudo pela vontade de
fazer uma viagem filosófica ao Brasil, como se deduz da
carta seguinte de Lineu.
Em Outubro já se encontra em Portugal, de acordo com a
carta de Lineu de 12 de Fevereiro de 65. DV foi chamado pelo
Marquês de Pombal, com o fim de colaborar na reforma da
Universidade, que visava sobretudo a laicização do ensino e
incluir as ciências e a experimentação científica nos planos
curriculares. Colabora com José Monteiro da Rocha e Miguel
Franzini na organização da Faculdade de Filosofia. Com
Franzini e Dalla Bella, encarregado de delinear os planos
do Jardim Botânico de Coimbra. Incumbido de planear e
dirigir as obras do Real Jardim Botânico do Paço de Madeira
(Ajuda. Com biblioteca, museu de História Natural, casa
do risco, gabinete de Química). Preocupado com a arte tanto
como com a ciência, resultam belos jardins italianos.
Logo a partir da sua chegada se interessa pelos
planos de Pombal relativos às fábricas e em particular de
cerâmica, e liga-se à Real Fábrica das Sedas do Rato, pelo
que é natural que nos anos próximos seja nomeado para a
Junta do Comércio.
- Dirige o gabinete de História Natural do Marquês de Angeja.
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1765 |
Carta de Lineu. Upsala, 12 de Fevereiro.
Recebeu a
carta de Domingos Vandelli de Outubro. "Oxalá possas ir ao Brasil, terra
onde nunca ninguém andou, excepto Marcgrave com o seu Piso;
mas num tempo em que não estava acesa nenhuma luz de
História Natural; agora tudo deve ser de novo descrito à
luz. Tu estás apto para isso, és solidíssimo nas coisas da
Natureza, infatigável na inquirição, habilíssimo nos belos
desenhos. Porventura em Portugal ninguém reconhece que o fim
da obra da Criação é para a Glória de Deus; nós
verdadeiramente reconhecemos ter Deus Todo Poedroso escrito dois livros, Natureza e Revelação (nos
vero agnoscimos D.T.O. scripsisse duos libros et Naturam et
Revelationem)". Alegra-se se Portugal puder conhecer a sua
Boa Natureza, pois infelizes são os países que não possuem terras exóticas.
A carta de DV condu-lo pelos lugares amenos
da Lusitânia, sonha com as belas plantas portuguesas. Uma
vez que toda a Europa já foi palmilhada pelos botânicos,
falta só explorar a India europeia, esta terra felicíssima
que é Portugal. Sobre a flora lusitana há só o Viridarium
de Grisley e um trabalho de Tournefort, sem desenhos, com
descrições que ninguém entende. Quem poderá escrever agora
uma Flora Lusitanica?
Diz que o Zoophyton magnificamente
desenhado de DV, designado por Fretum Herculeum, é um
raríssimo Alcyonium que ninguém tinha visto, mas havia pouco
tempo fora desenhado por Ellis na Acta Anglicana, vol. 53,
p. 434, t. 21, f.3 como se fosse uma Pennatula, com o nome
de Cynomorii. "Mas o teu desenho é de longe melhor".
A
seguir fala dos médicos e dos farmacêuticos suecos, que
pelos vistos já não usam a Cicuta. Admira-se por o Colchicum
não ser venenoso.
Fenologia: pede observações idênticas às
que já haviam feito para Pádua e Upsala. Solicita a DV que
lhe meta numa carta flores do dragoeiro; "cresce mesmo em
Lisboa, no Horto Régio de Alcântara". Diz que em Portugal é
muito frequente um Lentiscus com folhas grandes e vermelhas.
Faz perguntas a respeito dos seus folículos, e de Aphis, Cherme e Cynips (1). Já que DV está no local onde essas plantas
existem, que o tire de dúvidas, para inserir as informações
na próxima edição do Systema Naturae.
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Carta de Lineu. Upsala, 16 de Agosto. |
Recebeu na carta
suavíssimas e doutas observações de DV, bem como a
belíssima Flora Ulissiponense, tudo lhe tendo inspirado o
mesmo deleite. Faz perguntas, comparações, e observações
elogiosas sobre algumas plantas que constam da Flora enviada
por DV: Gladiolus utrinque Floridus, Sempervivum arboreum,
Fumaria capreolata, Lysimachia Linum stellatum, Centunculi e
Anagallis.
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Carta de Lineu. Upsala, 15 de Outubro |
Recebeu carta
e belíssimas observações. Viu com suma admiração as flores
do dragoeiro que DV lhe enviara, e nunca tinha obtido
antes. Discute a hipótese de não ser Asparagus e de haver
duas espécies de Dracoena. Concorda com DV em que há afinidade com Asparagus.
Inseriu a nova Medusa de DV no
Systema Naturae, sob o nome de DV.
Lamenta-se por na Suécia
ter chovido todo o ano e em todas as estações e só ter
havido 8 dias de Verão. Ninguém se lembra de tal coisa ter
acontecido antes.
Os membros da Sociedade de C. Nat. de
Upsala mandam cumprimentos. (Vandelli era sócio).
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Carta de Lineu. Upsala, 19 de Novembro. |
Volta a falar
do dragoeiro e de Erythrina. Leu as observações de DV na
Soc. Upsa-la. Uma sobre os produtos dos Três Reinos em
Portugal, a outra a completar a história natural do
dragoeiro. Ambas agradaram.
Pergunta qual a pátria da
Erythrinia de DV (1). Pede a DV que interceda junto dos seus
mecenas para lhe enviarem Zalappa longiflora, Convolvulus
foliis variis, Ialappa officinarum, Ipecacuanha, Balsami Peruviani, plantas que certamente existem no Brasil. Apesar
de frequentíssima entre os médicos, desconhece o género de
Ipecacuanha. O Balsamus Peruvianus também é desconhecido.
Diz que os médicos de S. Petersburgo usam Spigeliam meam
para curar os vermes. Uma dose da erva chega a um ducado. DV, que mora em Portugal, o qual emparelha com o Brasil,
onde a erva é espontânea, bem podia preparar grande
quantidade do remédio e vendê-lo com enorme lucro na Europa.
Está a experimentar se a mordedura de GORDIUS (2) excita as
Paronychia.
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NOTAS |
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(1) Na Flora et Fauna Lusanicae Specimen, 1797, pág. 74: 5 espécies de Aphis e 3 de Chermes (Insecta: Hemiptera), Cynips rosae (Insecta:
Hymenoptera). Ver se são as Cochonilhas.
(2) No Fasciculus Plantarum, ed. Romer, p. 63, Erythrina (Crista galli) provém do Brasil.
(3) Gordius, Vermes, na Faun. Flor. Lus., 1797, p. 76.
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