A ação do Capitão Sarmento Pimentel no derrube da
Monarqa do Norte
“Conspiração Republicana”
“O jornal “A Voz Pública", do Porto, conseguiu obter de
uma individualidade de destaque no meio republicano portuense, e que
desempenhava ao mesmo tempo um notável papel na recente contra-revolução,
alguns pormenores interessantes sobre o movimento. Diz esse senhor que
chegou ao Porto pelas 10 horas da manhã, no dia em que se proclamou a
monarquia, e, depois de ter almoçado, descia a Rua de Santa Catarina
quando encontrou o alferes Nogueira Soares, que, indignado, lhe comunicou
o que se passava. Imediatamente se dirigiu a casa do seu amigo e velho
republicano Xavier Esteves, que, como ele, não queria acreditar em tal, o
que só aconteceu quando leram o jornal “A Pátria”. Resolveu-se que ele
seguisse na mesma noite para Lisboa a fornecer informações, acrescentou o
entrevistado o que eu fizesse por ser menos conhecido. Á despedida,
recordo-me bem, disse-lhe: é tal a minha confiança na república (…?) que
só acreditarei na restauração da monarquia, na capital, quando me mandar
dizer. No dia imediato comecei a conspirar organizando um “comité” de que
faziam parte, como meus companheiros, o velho republicano, sempre novo no
seu entusiasmo, José Ferreira Gonçalves, o capitão Sarmento Pimentel, de
Infantaria 81, regimento que não quis aderir á monarquia, e por isso foi
dissolvido. Iniciámos com grande entusiasmo os trabalhos da organização
dos elementos civis, todos os dias nos chegavam adesões trazidas por
dedicados republicanos (…). As reuniões com Ferreira Gonçalves pai e
filho, capitão Pimentel e Sá Ferreira, realizavam-se amiudadas vezes,
tratando-se da organização, quando foi intimado pelos grupos a civis a
marcar o dia do movimento, ou que saíram para a rua às 18 horas (?) do
mesmo dia, de qualquer forma. (…) Há cinco ou sete dias o José de Amorim
veio dizer-me que existia outro “comité” e indicou-me (ilegível). Como
nenhum de nós tinha outro interesse que não fosse salvar a República
resolvemos encarregar Ferreira Gonçalves (filho) e Sá Ferreira de
procurarem as pessoas indicadas para chegar a um entendimento e eu fiquei
encarregado de falar ao bravo capitão João Sarmento, a quem mandei pedir o
favor de me vir falar. Acudiu ele ao meu apelo, mas estava com todo o
entusiasmo (ilegível) ao trabalho de salvar os seus camaradas presos no
Aljube, que ele dizia seriam decerto assassinados ao primeiro movimento
revolucionário. Para abreviar lhe direi que por intermédio de Ferreira
Gonçalves (filho) se marcou uma reunião conjunta para ontem, 14, às 21
horas, mas foi desnecessária, pela resolução do capitão Sarmento Pimentel.
O entrevistado mostrou ainda um exemplar de uma proclamação que fez
distribuir e que é já conhecida …”.
“A acção do capitão Sarmento
Pimentel”
“O capitão Sarmento Pimentel, cujo papel na
contra-revolução do Porto foi primacial, sintetizou assim as causas que o
demoveram a assumir a atitude hoje conhecida da hostilidade contra a junta
monárquica. No entretanto vai-se tratando da reconstituição da política
republicana, trabalho a que os membros do governo que aqui se encontram,
se têm dedicado, colaborando com eles políticos vários de todas as
facções, salientando-se entre eles os que estiveram em plena actividade na
situação anterior, a da chamada Republica Nova. Ao Grande Hotel do Porto,
durante o dia, vão muitos desses políticos falar com os ministros, sendo
alguns deles portadores das aspirações dos revolucionários, que
trabalharam para restabelecer a Republica no Norte. Os representantes do
governo têm ouvido e discutido essas aspirações, devendo tudo ir a bom
caminho, pois os assuntos só são resolvidos a contendo de todos. O sr.
ministro da instrução, que deve seguir hoje para Lisboa, tendo chegado
ontem de Braga, tendo sido muito procurado pelos seus amigos políticos”.
“O capitão sr. Sarmento Pimentel, cujo papel na
contra-revolução do Porto foi primacial, sintetizou assim as causas que o
demoveram a assumir a atitude hoje conhecida da hostilidade contra a junta
monárquica. No entretanto vai-se tratando da reconstituição da política
republicana, trabalho a que os membros do governo que aqui se encontram,
se têm dedicado, colaborando com eles políticos vários de todas as
facções, salientando-se entre eles as que estiveram em plena actividade na
situação anterior, a da chamada Revolução Nova.
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Diário de Notícias, 20 Fevereiro 1919, Quinta-Feira
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