Os animais domésticos são criados pelos seres
humanos para seu proveito e reproduzem-se sob
o seu controlo. Dependendo das funções a que são
destinados, as diversas espécies de animais domésticos apresentam um aspecto diferente, em maior ou
menor grau, dos seus parentes em estado selvagem.
O cão é o animal doméstico mais antigo, dado
que descende dos lobos domesticados já no final
do Paleolítico (c. de 13000 anos a.C.). Seguiram-se
as ovelhas e as cabras, primeiras espécies importantes do ponto de vista económico. As relações
destas espécies com o ser humano são diferentes das
que este mantém com o cão. Tal como as plantas
cultivadas, os animais domesticados representam
a principal fonte de alimentação, ou inclusivamente a única, das populações agro-campesinas
sedentárias, que se desenvolveram a partir de
10000 a.C. no Crescente Fértil (região actualmente ocupada pela Síria, Israel, Iraque e Irão).
Pouco tempo depois, bovinos e suínos eram
também domesticados. Desde 8000 a.C., estas
quatro espécies de animais, assim como os conhecimentos para a sua criação, expandiram-se atéà Europa ocidental, ultrapassando os Balcãs e as
costas mediterrâneas, no contexto da «revolução
neolítica». A sua presença na Suíça foi comprovada a partir do ano 5000 a.C. Durante o período
de transição da economia de caça e recolha para a economia de produção, assim como durante os
períodos de escassez (nas épocas de más colheitas por condições meteorológicas adversas, por exemplo), os seres humanos continuaram a caçar e a
recolher alimentos. Não obstante, durante o Neolítico, a economia de produção estabilizou (na
Suíça, desde 5500 até 2400 a.C.). Desde o final
deste período, dispunha-se de uma riqueza
pecuária estável que garantia 80% ou mais da
alimentação de carne, conseguida pelo aperfeiçoamento dos conhecimentos e dos instrumentos
agrícolas, pelo desbravar de terrenos (anteriormente cobertos por frondosos bosques), e pela
adaptação às condições regionais.
A importância e a utilização das espécies de
animais domesticados tiveram grandes flutuações
no decurso dos milénios, devido às tradições
culturais e às condições ambientais, assim como ao
aperfeiçoamento dos recursos e dos conhecimentos
agrícolas (por exemplo, os cuidados a ter com o
gado durante os invernos rigorosos). O certo é
que estes animais sempre tiveram muita importância na região da Suíça, já que, para além da
carne, forneciam leite, couro, chifres e ossos; das
ovelhas obtinha-se a lã. As primeiras indicações
concretas da utilização de bovinos como animais
de tracção encontram-se na civilização Horgen
(c. 3400 a 2800 a.C.). Assim o evidenciam os vestígios de jugos e, no caso dos bovinos, a dilatação das
articulações das falanges, os corpos mais robustos e a alteração
da idade da matança. O mais provável é que, desde 2700 a.C., se
utilizasse com regularidade na Suíça a lã de ovelha. O leite
tomou-se parte da actividade agrícola numa escala intensiva
muito mais tarde, embora já anteriormente se reservassem
pequenas quantidades para o consumo humano.
Às cinco primeiras espécies de animais
domésticos conhecidos na Europa (cão, vaca,
porco, ovelha e cabra) foram-se juntando outras
ao longo do tempo. O cavalo, por exemplo, foi
domesticado nos finais do Neolítico; a galinha,
nos finais da Idade do Ferro (c. 400 a.C.); o burro,
a mula, o gato, o pombo e o ganso na época
romana; o pato e o coelho na Idade Média e, por
último, o peru e o porco da Índia são importações
do Novo Mundo. Uma nova dimensão no
relacionamento entre humanos e animais domésticos evoluiu recentemente com a utilização destes
como animais de laboratório, o que levou, por
exemplo, à criação de novas espécies de ratos.
O desenvolvimento da criação de gado na
Suíça não foi linear, sofreu muitos reveses. Estas
variações são observáveis em ossos de animais do
período pré-histórico, uma vez que são frequentemente encontrados durante escavações arqueológicas. Animais pequenos e enfezados indicam
condições fracas; no caso do gado, isto relaciona-se
especialmente com os problemas da sua manutenção ao longo do inverno. Ao longo da pré-história, até à época romana, o registo arqueológico mostra que o gado foi ficando cada vez
mais pequeno. Nos finais da Idade do Ferro, as
vacas com um metro de altura eram a normalidade.
Sob a influência romana, o tamanho do gado
voltou a aumentar, quer por causa de melhores
condições, que acompanharam a agricultura intensiva quer devido à reprodução com animais
maiores de outras regiões do Império Romano.
Na Idade Média, as pastagens foram cedendo
lugar aos campos de cultivo, o que, por sua vez,
provocou animais mais pequenos e magros. Na
Suíça, só no século XVIII e, sobretudo, no século
XIX se observou um aumento significativo no
tamanho dos bovinos, devido à selecção mais
cuidada de animais para reprodução, o uso de
fertilizantes artificiais, o cultivo intenso de pastagens, a produção de forragens e a prática crescente
de alimentar o gado no estábulo. Daí em diante,
passou a haver uma distinção clara entre a criação
de animais para obtenção de leite, a criação de
animais para obtenção de carne, e outras prioridades. As novas raças, de elevado rendimento,
produzem cerca de vinte vezes mais leite que as
raças anteriores à industrialização. Estas raças
especiais, que, com a ajuda da biotecnologia, atingiram recentemente novas e até maiores dimensões,
são conseguidas à custa da robustez e variedade
genética do nosso gado. As adaptações regionais
e os cruzamentos desenvolvidos ao longo de
milénios estão em perigo de se perderem nas
próximas décadas. Várias instituições por toda a
Europa tomaram a seu cargo a tarefa de preservar
para a posteridade esta herança cultural. Na Suíça,
este trabalho está, principalmente, a cargo da
Fundação Pro Spezie Rara, que cuida de uma
variedade de raças antigas de animais domésticos
e espécies cultivadas de plantas, ameaçadas de
extinção.