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No compasso de um instante, as lâminas tinham se fechado. E retesado, para além das horas, na forma estilizada de um V, cujo contorno negro e preciso estriava na profundidade de membranas escamosas, amarelas e distintas, enquanto todo o ar do quarto se sugava, expandido pelo abdômen fino e alongado, que latejava, assim como as antenas, terminando em bolas empapadas, obscurecendo todas as coisas na sombra chata planando compacta por debaixo da persiana estendida entreaberta. Com a atenção suspendida no vácuo, ele mirou exatamente no centro da argola negra, e penetrou com a ponta da linha na direção cinza úmida da parede, mesmo quando a atmosfera toda se contorceu, do branco dos olhos ao estrado de madeira da cama — o pé da cama calcado firme no carpete, que se rompia, as fibras eriçando nas trevas luminosas das asas, se quebrando, convulsivas, em pedras de luz atiradas súbito cravejando dentro, pela janela, refletindo cegas no fundo das pupilas como fogos de artifícios mirados no tímpano. E cerrou a linha, como uma prega arrebentada, na forma de um nó, na circunferência perfeita do circulo, que perturbou na astúcia exata de não romper. Amarrado. 9 horas. E a borboleta escapou pelo espaço aberto da vidraça, em direção ao sol, a fim de queimar, em vôo cambaleante, a imensa tromba preta que lhe tinham satanicamente colado aos beiços. * * * * * |
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ALESSANDRO ZIR – Professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Caxias do Sul (Brasil). Bacharel em Filosofia (UFRGS/Brasil), Bacharel em Comunicação Social (PUCRS/Brasil) e Mestre em Psicologia Social e Institucional (UFRGS/Brasil).
Membro do Grupo Interdisciplinar em Filosofia e História das Ciências do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados da UFRGS. Actualmente no Canadá, a preparar o doutoramento. E-mail: azir@zaz.com.br . URL: http://aletche.blogspot.com/ |