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Adílio Jorge Marques |
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OS
TEMPLÁRIOS E A SENDA JOANITA |
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"Homenagem àquele dos discípulos que Jesus mais amava, segundo
muitos. E que durante a Santa Ceia reclinou a cabeça no peito do
Mestre com toda a sua doçura juvenil. Ao pé da cruz recebeu, em
nome da humanidade, a Mãe de todos.” |
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“Simbolizado pelo cordeiro, símbolo da pureza, da paz, da inocência e da
amorosidade, assim como o seu Mestre, e que pode ser visto repousando
sobre um Livro Sagrado, um Livro da Lei, a palavra de Deus, transmitida
através de São João Evangelista. Este pode ser entendido como o
Apocalipse ou o Evangelho segundo ele mesmo, fechado com os sete selos
do Apocalipse, selos estes que abrem as portas internas de nosso ser
para a comunhão ou a Reintegração final com o Divino Criador. São também
as sete virtudes cardeais do homem que superou os sete pecados
capitais.”
“Outras
vezes é visto o mesmo cordeiro joanino com a cruz do martírio, ou a cruz
cristã, mostrando que sua voz ecoa pelo mundo cristão pela eternidade de
seus escritos.”
“Ninguém
pode ser um verdadeiro discípulo sem entrar no espírito que São João
soube transmitir por sua vida e pelos seus sagrados escritos, em
especial o seu Evangelho de luz e amor; a primeira Epístola, insuperável
por suas reflexões sobre o amor fraternal e a unção do Espírito; e o
Apocalipse, sempre atual e que nos submete às mais recônditas reflexões
sobre nosso destino, preparando-nos para o segundo grande encontro com
Jesus."
Autor desconhecido. |
SIMBOLISMO |
Todos os
mitos relacionados aos deuses, santos, mártires ou mesmo aos grandes
líderes de povos ou Manus, como diz a Teosofia, mostram personagens que
marcaram a história de forma grandiosa e inequívoca. São João, Batista
ou Evangelista, não fogem à regra descrita.
Um fato
inquestionável liga todos os deuses ou deusas do passado ao entendimento
e à simbologia mítica dos fenômenos celestes. A Astronomia, longe de ser
fantasiosa ou sem importância, era uma ciência marcante e necessária aos
povos antigos. Todos os povos mais adiantados, sem exceção, foram buscar
nos mistérios solares ou lunares explicações para os ciclos humanos e os
da natureza. O movimento do sol era muito importante em muitas culturas,
especialmente para os primeiros cristãos e para a maioria das religiões
e cultos modernos. O movimento aparente de nosso astro-rei durante os
dias e o ano pelos céus inspiraram os sábios antigos e muitas das vezes
trouxeram conhecimentos que revolucionaram o desenvolvimento da
humanidade. Por exemplo, se nossa humanidade atual teve sua origem na
mãe África, todas as fases humanas marcaram um degrau a ser cumprido: a
era da pedra lascada, do bronze, do ferro, porém a mais abrangente seja
a do cultivo dos próprios alimentos, ou seja, o desenvolvimento da
agricultura. Esta possibilitou ao homem deixar de ser nômade para ter a
condição de se estabelecer em determinados lugares e ali florescer como
grandes povos do passado. [3]
Os egípcios
à beira do Nilo talvez sejam os mais famosos dependentes dos recursos
naturais para entenderem e dependerem das estações do ano para a própria
sobrevivência. Existem ainda os calendários astronômicos de Stonehenge,
provavelmente de origem celta, no norte da Europa. Logo, conhecer e
dominar o estudo dos astros, principalmente a lua e o sol, deram uma
espécie de "poder" e "magia" àqueles povos, governados de maneira geral
por uma teocracia, possibilitando o florescimento excepcional que
tiveram.
Os egípcios
associaram a luz e o calor à vida e ao sol, através do deus Rá. E a
escuridão e o frio à morte. A relação entre as duas estações mais
extremadas levaram ao conhecimento de certas revoluções cósmicas que
perduram até os nossos dias, mesmo que veladamente nas religiões em
geral.
O verão é
associado até hoje ao sol, calor, luz, vida, dinamismo, atividade, o
triunfo da luz sobre a obscuridade do inverno, que por oposição
significa o frio, a vida numa semente ou hibernando à espera do sol
salvador que a fará irromper para o crescimento e para a vida. Quando
uma energia ascende, a semente da sua oposição já nasceu possibilitando
um ciclo eterno do nascer e morrer de tudo o que temos dentro ou fora de
nós. Os orientais associam esta idéia ao ciclo do Yin/Yang.
Os antigos povos também perceberam que quatro estações básicas dominavam
o cenário celeste, marcando também quatro épocas do ano que se repetiam
periodicamente e conhecidas hoje pelas estações: verão, inverno, outono
e primavera. A questão do tempo contado em trimestres não era relevante
para os povos antigos, pois não utilizavam o mesmo calendário que o
nosso, contando o tempo como cíclico e não linear. Mesmo povos com
culturas milenares e que se utilizavam de calendários lunares - como os
orientais - tinham que adaptar suas agriculturas e criações animais para
as estações solares. [1] |
O
dia 21 de junho, ou aproximadamente, coincide com o solstício de
inverno no hemisfério sul, pois é quando o sol passa pelo
trópico de Câncer, sendo o solstício de verão no hemisfério
norte.
E o
dia 21 de dezembro, ou aproximadamente, marca a passagem do sol
pelo primeiro ponto do trópico de Capricórnio, sendo o solstício
de verão no sul da Terra e o solstício de inverno para o norte.
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Batismo de Cristo, de Verrocchio |
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O dia 27 de
dezembro, próximo ao ápice do inverno no norte, é a data de São João
Evangelista, foco deste texto. Para os povos ocidentais que nos
antecederam, e que estavam no norte, o solstício de verão marcava o
início da metade descendente do ano, e o solstício de inverno,
inversamente, marcava a metade ascendente. Isto explica as palavras de
São João Batista, cuja comemoração coincide com o ápice do verão no
norte (24 de junho): "é preciso que Ele cresça (o Cristo, nascido
no solstício de inverno em dezembro) para que eu decresça". [1]
Tanto no oriente quanto no ocidente o solstício de Câncer, ou da
Esperança, é a porta cruzada pelas almas mortais e é chamada de Porta
dos Homens, ligado a São João Batista e às suas pregações aos homens
sobre o advento do Cristo. O solstício de Capricórnio ou do
Reconhecimento é a porta cruzada pelas almas imortais e por isso chamada
de Porta dos Deuses. Para os antigos egípcios o solstício de Câncer
era dedicado ao Deus Anúbis. Já os gregos o consagravam ao Deus
Hermes. Ambos os Deuses eram encarregados de conduzir as almas ao mundo
extraterreno. [1] |
São João
Batista |
As festas do dois “São João” estão em relação direta com os dois
solstícios. Esta é uma informação antiga acompanhada por quase todas as
Tradições, em especial os Templários, pois lembremos que o Cristo é o
“Sol Renovador” que veio a este mundo para trazer a Boa Nova e expurgar
com seu fogo místico os pecados deste mundo.
Os
Cavaleiros de Cristo são, também, Cavaleiros do Sol (ou solares), que
buscam queimar suas mazelas internas. Os Cavaleiros de ontem e de hoje
são constantemente remetidos ao deus romano Janus com suas duas faces
opostas: o futuro e o passado. O mês de janeiro, em homenagem à Janus,
marca justamente essa dualidade entre um ano que se finda e outro ano
cósmico que se inicia marcado pelo nascimento da Luz, ou seja, de Jesus
para os cristãos. O primeiro São João do tempo linear, São João Batista,
anuncia a vinda do Vencedor. E o Evangelista propagará a sua
palavra. [1]
Nos seis
meses que separam as duas datas em homenagem aos dois santos um hiato de
tempo cósmico se faz presente: exatamente como se os três principais
anos da vida do Mestre estivessem resumidos na segunda metade do ano,
entre a anunciação da vinda em junho e a propagação do Verbo e do Amor
em dezembro. Por exemplo, existe representada na Catedral de Ferrara a
figura de Janus, vista com rostos masculinos e com um vaso sagrado na
mão esquerda e o pão-corpo de Cristo na outra. É a simbologia dos dois
São João aliada à do Cristo. Assim, por herança dos antigos que
costumavam celebrar os solstícios, essa prática e seus mitos chegaram
até nós. [2] |
A
semelhança entre as palavras Janus e Joannes facilitou a troca
ou adaptação de um simbolismo pelo outro. A partir de
Constantino, a fim de se realizar um sincretismo religioso com
as crenças dos antigos povos e tradições ocidentais, o
cristianismo incorporou tais datas de forma bastante feliz, pois
se conseguiu manter intacto todo um conhecimento iniciático que
poderia se perder com o tempo. |
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Muitas
corporações de ofício medievais, com a proteção dos Templários, acabaram
por adotar os dois São João como Patronos, o que em muitos casos
permanece até os nossos dias. Mesmo as muitas das antigas corporações
de construtores dos exércitos romanos anteriores à Cristo, denominadas "Collegiatti",
adotavam Janus como Deus protetor.
Simbolismo também expresso pelo duplo sentido incluso no nome João. "HANAN"
em hebraico possui o significado de "louvor", "benevolência", ou mesmo
"misericórdia". Já o nome "JOHANAN" (ou IEHO-HANNAM) possui relação com
o significado de "misericórdia de Deus", "graça de Deus", ou "louvor a
Deus". O primeiro desses dois sentidos parece relacionar-se a São João
Batista, e o segundo a São João Evangelista. Segundo Rene Guénon,
pode-se dizer que a misericórdia é mais "descendente" e que o louvor
mais "ascendente", justamente como no movimento anual do sol pelos céus.
No verão nossa estrela é vista no zênite, no máximo de sua altura no
céu, onde se pede misericórdia para suportar os dias frios que chegarão.
E no inverno o sol encontra-se na posição mais baixa possível em relação
ao seu ápice, onde depois só é possível ascender novamente e por isso é
louvado na época hoje conhecida como o Natal. As variações dependem da
posição da Terra em relação sol durante o ano. [1] - [2] |
CONCLUSÃO |
Muito mais se poderia dizer da obra e da vida deste ícone humano. Tomos
inteiros não dariam conta do que se poderia abarcar da gnose joanina. A
Igreja interna, eso, tomou para si o símbolo e o exemplo perene
de São João Evangelista. A Igreja de Pedro e de Paulo, exo,
buscou a temporalidade e o arrebatamento social e político dos povos.
João buscou levar a Palavra a todos de seu tempo e deixar para as
gerações do porvir, em especial aos Iniciados de sempre, a mensagem mais
pura possível do Mestre.
A cada um
de nós caberá, doravante, configurar em nossos corações o Templo
Interior que João pregava.
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BIBLIOGRAFIA |
[1] Por
que São João, nosso Padroeiro?; José Castelani; artigo.
[2] O
Evangelho Esotérico de São João; Paul Le Cour; Ed. Pensamento.
[3]
Símbolos Antigos e Sagrados; Ralph M. Lewis; Ed. Renes. |
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Prof. Adílio Jorge
Marques.
Nasceu em 1968 no Rio de Janeiro/RJ, sendo de família lusa.
Possui cidadania portuguesa. Desde muito jovem é estudioso e
participante das Antigas Tradições, da História e das Ciências.
Concluiu o Doutorado em História das
Ciências e das Técnicas e Epistemologia pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro, após realizar intercâmbio na Universidade de Aveiro,
Portugal, sendo o trabalho com ênfase na historicidade luso-brasileira.
O tema da Tese na UFRJ versa sobre
a vida e a obra do naturalista Alexandre Antonio Vandelli,
personagem pouco estudado e filho do famoso paduano Domingos A.
Vandelli da Reforma Pombalina.
Possui Mestrado em Astrofísica
estelar pelo Observatório Nacional (Brasil/RJ), com graduação em
Física e em
História. Atua como Professor de História da
Ciência e de Física no Brasil.
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