HERDADE DO FREIXO DO MEIO
ÍNDICE

CHARLOTTE, VOLUNTÁRIA NO FREIXO

Maria Estela Guedes

 

Quem leu o «Público», há umas semanas, viu certamente a história da jovem que veio da Suíça a pé, acompanhada apenas pela sua cadela, com destino ao voluntariado na Herdade Freixo do Meio. Uma educação diversa da nossa, que começa pelo gosto da aventura, pelo destemor, pela capacidade de executar tarefas rurais sem esconder a cara debaixo do boné, garante que na Herdade haja quase sempre dois ou mais voluntários. Eles vêm dos confins de uma Europa mais abastada do que nós, para em geral aprender, estagiar nesta unidade agrícola do Alentejo que mantém uma utopia em acção, a da permacultura.

Falámos com uma voluntária, Charlotte Kottush, de 25 anos, que fala português muito bem. Dela resultou a informação que segue. 

MEG – Charlotte, de onde és?

CK – Eu sou alemã, estudo Ecologia Social e Humana, as relações da natureza com a sociedade, na Universidade de Viena.

MEG – Onde aprendeste a falar português?

CK – Eu adoro viajar e já conhecia Portugal. Também estive no Brasil, lá eu aprendi capoeira e até hoje continuo a praticar. Em Portugal fui voluntária na Serra da Estrela, em 2008-2009, na Casa de Santa Isabel. Os meus pais têm uma propriedade no Algarve, perto de Olhão, por isso eu venho quase todos os anos, no Verão.

MEG – O que estás a fazer no Freixo?

CK – Eu estou há duas semanas aqui, vou embora amanhã. Tenho andado a apanhar bolota com os outros e também ajudei o David com os cavalos. Ele anda a treiná-los para levarem crianças a passear. Ajudei a pôr plástico novo nas estufas e fui com o Miguel dar de comer aos porcos e limpar as pocilgas. Eu queria um trabalho manual, não queria só fazer trabalho com a cabeça.

MEG – Como descobriste o Freixo? 

CK - Descobri o Freixo na Internet, no site da Herdade Freixo do Meio. Queria um tema para a minha tese de mestrado, consegui umas ideias sobre produção sustentável de alimentos.

MEG – Como foi, no Brasil?

CK – No Brasil trabalhei numa favela da cidade de S. Paulo. Gostei muito do Brasil. Estava ligada a uma associação antroposófica, Monte Azul, que ajuda o povo, dando aulas, de violão, por exemplo. No Monte Azul há creche, padaria, marcenaria e outras oficinas. E também há parteiras para apoio às mulheres, para evitar as cesarianas. Na lei brasileira, o parto não é um ato médico, daí que elas possam ajudar. Trabalhava no escritório para atendimento de voluntários e patrocinadores das embaixadas. Estudei na USP durante seis meses.

MEG – Recebes salário, como voluntária?

CK - Os voluntários recebem ensino, alimento e alojamento.

MEG – Estás satisfeita? Como ocupaste o tempo livre?

CK - Muito satisfeita, não só pelo prazer do campo como pelo silêncio. Estudei sempre uma hora, na Escola (1), porque vou fazer exames quando chegar a Viena.

MEG – Como é a tua vida na Áustria? Tens bolsa de estudo?

CK – Não, sou eu que pago a Universidade. Estudo, e trabalho num restaurante. Além disso sou assistente pessoal de uma senhora que anda de cadeira de rodas, vítima de esclerose de placas. A senhora tem sete ou oito assistentes, para fazerem tudo aquilo de que ela precisa durante vinte e quatro horas por dia. Ela trabalha na organização que prepara assistentes para deficientes. Ganho onze euros e cinquenta por hora e trabalho trinta e quatro horas por mês.

MEG – Qual será a tua próxima viagem?

CK - Em abril vou para a Grécia fazer pesquisa numa reserva, para averiguar as relações entre os homens e a natureza. Vou com colegas da Universidade de Viena. Vamos fazer investigação na Samotrácia, que é uma ilha. 

A Charlotte não quis ser fotografada. Conversámos de noite, ela estava cansada e suja do trabalho com os porcos e de apanhar bolota. Prometeu que, no dia seguinte, sim. No dia seguinte parecia outra, uma bela jovem, forte, rosada, que se despediu com abraços dos voluntários e trabalhadores, garantindo: «Eu volto».

Herdade Freixo do Meio . 27 de fevereiro de 2014

(1) Na Herdade existia, ainda nos anos sessenta, escola primária. O edifício mantém-se como biblioteca e sala de reuniões.
 
 

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Revista TriploV
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