O AMOR EM VISITA Herberto Helder 23-11-2004 www.triplov.org |
Felizmente estás na pedra e a pedra em mim, ó urna salina, imagem fechada em sua pungência e castidade. E o que se perde em ti, como espírito de música estiolado em torno das violas, a morte que não beijo, a erva incendiada que se derrama na íntima noite, - o que se perde de ti, minha voz o renova num estilo de angústia e prata viva.
Quando o fruto empolga um instante a eternidade inteira, eu estou no fruto como sol e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada matriz de sumo e vivo gosto. - E as aves morrem para nós, os luminosos cálices das nuvens florescem, a resina tinge a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã. E estás em mim como a flor na ideia e o livro no espaço triste. |