O AMOR EM VISITA
Herberto Helder
23-11-2004
www.triplov.org

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lua_07

Felizmente estás na pedra e a pedra em mim, ó urna

salina, imagem fechada em sua pungência e castidade.

E o que se perde em ti, como espírito de música estiolado

em torno das violas, a morte que não beijo,

a erva incendiada que se derrama na íntima noite,

- o que se perde de ti, minha voz o renova

num estilo de angústia e prata viva.

 

Quando o fruto empolga um instante a eternidade

inteira, eu estou no fruto como sol

e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada

matriz de sumo e vivo gosto.

- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices

das nuvens florescem, a resina tinge

a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.

E estás em mim como a flor na ideia

e o livro no espaço triste.