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Herberto Helder redivivo
em edição espanhola
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"O El Poema Continuo", a tradução castelhana de ‘Ou o Poema Contínuo’, do poeta português Herberto Helder, é um dos “melhores livros de poesia publicados em Espanha” em 2006, na avaliação de dois críticos literários do jornal ‘El Pais’, lemos no "Correio da Manhã" (http://www.correiomanha.pt/). No TriploV ficamos muito satisfeitos com o sucesso de um dos nossos mais estimados poetas, sobretudo por Herberto Helder ter reencontrado as suas musas,
como documenta o poema então inédito,
abaixo trasladado da edição Hiperión.
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O el poema contínuo
súmula
Herberto Helder
Traducción de Jesus Munárriz
Hiperión, Madrid, 2006
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NOTA DEL TRADUCTOR |
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LEí por primera vez Ou o poema contínuo apenas se publicó, en el verano de 2001, cuando su autor me lo hizo llegar. Muchos de sus textos me eran familiares porque este livro es, como indica su subtítulo, una súmula, es decir, un breve resumen, compendio o epítome de su Poesia Toda, libro que havía ido creciendo en sucesivas reediciones y en el que se recopilaban la veintena de títulos publicados com anterioridad por Herberto Helder.
Pero aunque sus partes nos sean conocidas, esta súmula, al seleccionar, reducir y dar continuidad a determinados poemas y fragmentos de su amplia obra, al condensar en um centenar de páginas más de treinta años de escritura poética, nos enfrenta a un Helder esencial, sobrio, escueto dentro de su riqueza y variedad, a un Helder quintaesenciado, vertebrado por el hilo conductor de sus temas y motivos fundamentales, en un compendio o prontuario que nos permite el acceso a su amplia obra por el atajo de la brevedad.
De la brevedad, digo, y no de la explicacíón o la claridad, porque Herberto Helder se jacta desde hace mucho de ser un «poeta oscuro».
En Os Passos em Volta (Los pasos em torno, en la traduccíon de Ana Marquez publicada por Hiperión) se incluye un texto en el que Helder confiesa haber escrito a lápiz en la pared frente a su cama la frase “Dios mio, haz que yo sea siempre un poeta oscuro” para tenerla permanentemente a la vista, y Helder, poeta obscuro se titula el libro que Maria Estela Guedes publicó ya en 1979 sobre su obra.
Aunque su oscuridad no es de las que dejan indiferente, aburren o echan para atrás por necias o innecesarias. En la poesía de Helder es la fuerza de los focos, la sobreabundancia de las fuentes lumínicas en su afán por penetrar cuanto existe, la que provoca nuestra oscuridad inicial. Pero basta dejarse arrastrar por sus palabras, leer y releer sus poemas para que chispazos, fulgores, destellos, centelleos y deslumbramientos vayan adquiriendo sentido, ligándose, correlacionándose en un mundo que, si dejar nunca de ser el nuestro, lo ahondan, lo escudriñan, lo devuelven a su interminable putrefacción o a su pureza originaria. Para un buen lector de poesía resulta más que difícil permanecer indiferente ante la brillantez de la obra de Herberto Helder.
Para sua traductor, há sido un honor y una gran satisfación verterla al castellano, aunque también una dura tarea, que há ido escalonando y alternando com otras a lo largo de tres años. Y que no habría logrado concluir satisfactoriamente sin la colaboración del autor. Él há ido revisando, fragmento a fragmento, mi traducción, y ayudándome a resolver dudas y dificultades que ni diccionarios ni expertos consultados fueron capaces en ocasiones de aclarar.
Mí agradecimiento, pues, a Herberto Helder por su comprensión, su atención y su amabilidad que, a lo largo de estos años, se han ido transformando en confianza y amistad. Entre los dos hemos puesto en manos de los lectores españoles O el poema contínuo. Estoy seguro de que sabrán apreciarlo y disfrutarlo como se merece.
J.M,
En Madrid, mayo del 2004
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O poeta redivivo |
Redivivo. E basta a luz do mundo movida ao toque no interruptor,
ou de lado
a lado negro, quando se é esquerdo,
o amargo e o canhestro à custa
de fôlego e lenta
bebedeira: o esforço de estar vivo –
e lunas e estelas: e as vozes magnificam pequenas
coisas das casas, e teias dos elementos
pelas janelas, teias
portas adentro: da água compacta no corpo das paredes,
do ar a circundar as zonas veementes dos utensílios
– e a música mirabilíssima que ninguém escuta:
o duro, duro nome da tua oficina de mão torta,
boca cheia de areia estrita, áspera cabeça,
tanto que só pensas:
se isto é música, ou condição de música, se isto é para estar redivivo,
então não percebo sequer o movimento, digamos,
da laranja
na fruteira, ou o movimento da luz na lâmpada,
ou
o movimento do sangue na garganta
impura – e menos ainda percebo o movimento que já sinto
no papel se se aproxima, por exemplo,
pelo tremor da textura
do caderno e da força da
esferográfica dolorosa, a palavra Deus saída pronta,
arrebatada aos limbos, como se diz que se arrebata
aos ferros, a poder de tenazes e martelos,
um objecto, vá lá, supremo:
uma chave, quer
se queira quer se não queira, mas
que não abre quase coisa alguma: que abre, a partir de como se está de rojo
um espaço em cada nome, e nesse espaço se possa
dançar, no abismo entre um quarto
e outro quarto da terra, dançar dentro do ar como para
o ar bater nas paredes, e as paredes
estremecerem com a água esmagada contra si própria –
e depois ninguém fala, e cada
coisa actua
sobre cada coisa, e tudo o que é visível abala
o território invisível.
Redivivo. E foi por essa mínima palavra que apareceu não
se sabe o quê que arrancou
à folha e à esferográfica canhota a poderosa superfície
de Deus, e assim é
que te encontraste redivivo, tu que tinhas morrido um momento antes,
apenas.
HERBERTO HELDER
(Inédito)
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O EL POEMA CONTINUO
de HELDER, HERBERTO
EDICIONES HIPERION, S.L.
Lengua: CASTELLANO
Encuadernación: Rustica
ISBN: 8475178529 . 250 pgs . 12 € |
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Herberto Helder nasceu no Funchal, ilha da Madeira, no dia 23 de Novembro de 1930. Frequentou a Faculdade de Letras de Coimbra, tendo trabalhado em Lisboa como jornalista, bibliotecário, tradutor e apresentador de programas de rádio. Começou desde cedo a escrever poesia, colaborando em várias publicações de que se destacam: Graal, Cadernos do Meio-Dia, Pirâmide, Poesia Experimental (1 e 2), Hidra e Nova. É um dos introdutores do movimento surrealista em Portugal nos anos cinquenta, de que mais tarde se viria a afastar. É o poeta mítico da modernidade portuguesa contemporânea, não só pela intensidade particular da sua obra (quer considerada em conjunto, quer na simples leitura de um único dos seus versos) mas também pelo seu estilo de vida discreto e avesso a todas as manifestações da instituição literária. Desde O Amor em Visita, 1958, até mais recentemente, em Do Mundo, 1994, passando por Electronicolírica, 1964, e por Última Ciência, 1988, a sua poesia atravessa várias correntes literárias, manifestando uma escrita muito singular e trabalhada, sendo exemplo de um conseguimento sem falhas, sem debilidades nem concessões. Na ficção, Os Passos em Volta, 1963 (contos), revela o mesmo tipo de elaboração linguística cuidada e encara a problemática da deambulação humana, em demanda ou em dispersão do seu sentido e da sua inteireza. Obras: Poesia – O Amor em Visita (1958), A Colher na Boca (1961), Poemacto (1961), Retrato em Movimento (1967), O Bebedor Nocturno (1968), Vocação Animal (1971), Cobra (1977), O Corpo o Luxo a Obra (1978), Photomaton & Vox (1979), Flash (1980), A Cabeça entre as Mãos (1982), As Magias (1987), Última Ciência (1988), Do Mundo, (1994), Poesia Toda (1º vol. de 1953 a 1966; 2º vol. de 1963 a 1971) (1973), Poesia Toda (1ª ed. em 1981), Ou o Poema Contínuo (2ª. ed., 2004) . Ficção – Os Passos em Volta (1963). |
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Foto de HH publicada originalmente em: Maria Estela Guedes - Viagem e utopia em Herberto Helder, Colóquio/Letras, 46, 1979, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. |
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