REDENÇÃO
POEMAS E PINTURA DE HELENA C. LANGROUVA




I

Arpejar no dia de festa
na passagem da aurora boreal
Não se prender à fluidez das palavras
que se cavam no fundo da rocha

Não fazer da escrita um absoluto
Na caducidade de uma folha nada é absoluto
Tudo se esvai no amor das horas sonhadas

Deixar fluir a seiva interior de fulgor e sombra
A vida-escrita sem dedicação exclusiva
Vibrar as cordas do barco redimido

A palavra peregrina vela o sonho
Aspira o pulsar das estrelas

Arrimar a redenção na curva do tempo
Acostar o barco ritmado

Soltar o grito da esperança
Ao anjo do túmulo aberto
Na manhã de ressurreição

Arpejar sem fim nos círculos
Do arco-íris

II

O anjo rodopiou nas esferas
Dançou em redor da cruz
Louvor róseo e laranja
Movimento luminoso e suspenso
Acordou Tapiez adormecido
Na mão rósea da viandante

III

Movimentos de ouro
rodopiam abraço de anjo
homem mundo

enigma da cruz
alquimia de dor e luto
ascenso aos céus
de Cipiões e santos

Tudo cavado na força
De fulgor e sombra
Na travessia da vida

Nada e tudo se transforma
Na hora que a todos espera
Ondulando aceitar
Assumir superar

O segredo da alma estóica rodopia
Em círculos de ouro
Cruzando o infinito

V

Cruz em ouro transformada
Metal nobre de cobiça ausente
Momento de pausa nas entranhas
Símbolo e fluir da paz




IV

Taça ou cálice de espera
Louvor esguio laranja
Graça das asas de fogo
A pintar a própria redenção

Anjo de louvor
Atravessando a casa ardida
Subindo a montanha verde

As pedras da montanha não rolaram
Porque sempre ficaram suspensas
No presépio verde do tempo

Paredes azul turquesa
Janelas do quarto abertas

Presença da mão arquitecta
Perfume da divina verga

Fogo da redenção velada
Evidente e malva
Da viandante

VI

Solilóquio inebriante de desejo
Vela o sonho das barcas de cristal
Pesa barcas e almas
Sorri nos sete céus do tempo
Arpejando o ritmo cavo
Do olhar divino

VII

Redenção em horas de silêncio e bruma
Enigma da direcção celeste
Rodeada de luz e brilho

Firme Peregrinação interior
Para a Rosa Branca da Luz