Helena Langrouva
A VIAGEM NA POESIA DE CAMÕES
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian – FCT, 2006
RESUMO
A poesia épica e lírica de Camões é considerada como um texto. Os eixos de leitura são a Ilha do Amor e a visão da Máquina do Mundo. O livro é detonador de algumas “florestas” que atravessam o discurso poético do Renascimento e faz falar os textos. A leitura situa-se no horizonte de expectativa do leitor do Renascimento, com formulação a um tempo recursiva e gradativa. A investigação incide sobre metaforizações, alegorizações, movimentos e modulações da viagem cujo fulcro é a viagem do pensamento poético de Camões.
O capítulo I – Catábase, monstros e metamorfoses - aglutina o estudo da viagem de descida ou catábase, com monstros e metamorfoses, comparando com As Metamorfoses de Ovídio. Aprofunda-se a ideia dos limites e de transgressão de limites, na catábase subaquática de Baco, n’ Os Lusíadas, nos monstros e metamorfoses. Na lírica, a viagem às profundezas agudiza a consciência de transformação do pensamento, a melancolia e o narcisismo, a relação entre a arte e a vida.
Na sequência do poder visual da metamorfose, no final do capítulo I, o capítulo II – Viagens do olhar do narrador e do sujeito lírico- procura trazer um novo contributo para o estudo da poesia como pintura, próxima de teoria da arte do Renascimento, sobretudo da teoria de Francisco de Holanda. Algumas imagens estão também próximas das de Ovídio. Camões está também próximo de pintores do Renascimento, na viagem do pensamento, como fica demonstrado neste livro.
O capítulo III- A Viagem e o Outro- concentra-se no estudo de ecfrases, descrições das imagens cinéticas: o Outro de África e da Ásia, n’ Os Lusíadas; as fulgurações da beleza da amada metafísica e a complexa procura de um Outro interior, na lírica. O capítulo IV - Viagem e procura de verdade - aprofunda a procura de verdade, na poesia de Camões. A experiência é fonte de verdades epistémicas e questionantes. A procura de verdade continua no capítulo seguinte - V - Viagens dos deuses -, na sua relação com a fabula dos mistérios pagãos e as viagens dos deuses da Máquina do Mundo, na poesia de Camões, com resultados novos de investigação, em particular sobre Mercúrio, Saturno, Apolo, Júpiter. Marte não viaja nem na épica nem na lírica. A poesia de Camões aponta para o triunfo de Vénus sobre Marte.
No capítulo VI - Viagens do amor – estudam-se vários graus de amor, segundo os Diálogos deAmor do filósofo neoplatónico português Leão Hebreu, na poesia de Camões. Fica demonstrado que Camões terá lido Leão Hebreu. As viagens do amor não têm direcção definida. A viagem para o amor divino, da tradição judaico-cristã, a anábase do espírito e do pensamento dirige-se para uma visão antecipada de Jerusalém Celeste, nas redondilhas “Sobolos rios”, mas o sujeito lírico sente a vertigem.
A cúpula da viagem do pensamento poético de Camões é a Ilha do Amor e a visão da Máquina do Mundo que é objecto do capítulo VII - Viagem, visão do mundo e do futuro -. São duas visões ectoscópicas e também os dois eixos de leitura da poesia de Camões.
No mundo minado pelo egoísmo - “filáucia”- e pela guerra, a IIha do Amor é um sonho poético, alegórico, com marcas de utopia. O amor é o mistério que pode cumular todos os esforços humanos e ser o pilar do humanismo cívico. O amor pode abraçar um sonho de fraternidade, harmonia, sabedoria, permitindo uma visão do mundo de cima, uma visão do futuro da humanidade plena de beleza e de forças genesíacas.
Este livro demonstra que não há opções exclusivas nem filosóficas, nem científicas, nem teológicas, na poesia de Camões. As metáforas da viagem são complexas, questionantes, abertas à beleza. Cada capítulo constitui uma mini-tese passível de ser desenvolvida em livro. A par da investigação literária, a investigação inter-disciplinar, em particular em Arte, o comentário de cerca de treze imagens de pintura, gravura e cerâmica dos finais dos séculos XV e XVI, as quais completam a meditação sobre o imaginário do Renascimento e desenvolvem a filosofia e a estética do diálogo palavra-imagem. Esta obra apresenta, além da Bibliografia, Índice de Imagens, Ideográfico, Onomástico e um detalhado Índice Geral, com o objectivo de ajudar leitores de um público abrangente.
A autora espera abrir novos rumos para o estudo e a pedagogia da poesia de Camões, da literatura do Renascimento e do Maneirismo, espera prestar um serviço público à cultura de língua portuguesa, à cultura do Renascimento e à educação.
Helena Langrouva
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Helena Langrouva.
Licenciada em Filologia Clássica (Lisboa), Maître ès Lettres
Modernes-Cinéma (Montpellier), D.E.A (Paris III), Master of Arts, MPhil
(Londres). Investigadora, Doutora em Estudos Portugueses (U.niversidade
Nova-Lisboa). Traduziu O Homem de Areia (romance) de Jean Joubert,
com prefácio de Eduardo Lourenço (Lisboa, 1991,Difel), seleccionou e
traduziu Não-Violência e Civilização-Antologia de Lanza del Vasto
(Lisboa, 1978, edições Brotéria). Publicou ensaios nas revistas
Brotéria, O Tempo e O Modo e Critério e um conto na Ficções,
Lisboa. Foi professora de Literatura Portuguesa Clássica, Teoria da
Literatura, Introdução aos Estudos Literários, Francês, no ensino
superior, de Grego, Latim e Português, no ensino secundário; leitora de
Língua e Cultura Portuguesas nas universidades de Montpellier e Rouen. É
autora de A Viagem na Poesia de Camões (Lisboa, Março de 2005, FCT
e Fundação Calouste Gulbenkian) e de Actualidade de Os Lusíadas
(Lisboa, 2005 - no prelo). Estudou Artes Musicais e Plásticas. Escritora,
cultiva ainda o canto e a pintura. |