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Helena Langrouva
ITINERÁRIO POÉTICO DE LIBERTO CRUZ
(Sintra, 1935)
SÍNTESE ABERTA

Se lermos ou relermos aConta-Correntede Vergílio Ferreira (I, 3ª edição, p. 345), encontraremos as visitas de Liberto Cruz à casa de Vergílio Ferreira, em Fontanelas. É espantoso que um romancista tão profundo tenha tido a humildade de confessar a Liberto Cruz que não entendia alguma da sua poesia, que lhe agradecia que respondesse a perguntas e que o esclarecesse sobre o que pretendia com a sua poesia – a que Liberto Cruz respondeu com todo o gosto. Sigamos a humildade de Vergílio Ferreira. Porque todos podemos ser herméticos, quer autores quer leitores. Depende do conceito de hermético. O que interessa é que caminhemos no diálogo, no trabalho do ofício de ler, se possível no ofício de escrever: são ambos exigentes e vários.

Nas sete etapas que percorremos no itinerário poético de Liberto Cruz, pudemos entrever a sua poesia bem ancorada na vida, um itinerário com o corpo, o amor, a natureza, o sofrimento, a sua não aceitação da violência nem da guerra, a sua procura de tomada de consciência, de convite ao discernimento, a viagem e o enigma da vida, a inevitabilidade da morte, a nostalgia da própria vivência poética, do exílio, filtrada por uma rara sensibilidade e um modo de ser poético de quem sempre procurou o essencial, na vida e nas palavras, quem procurou o rigor e a música das palavras, o rigor da arquitectura do poema, privilegiando a procura de harmonia, de claridade, de expressão contida, sintética e meditativa, regressando sempre à beleza de Sintra, num caminho de global direcção para o que poderíamos chamar um religiosidade natural de quem procura a paz dentro de si próprio e com outrem, a sabedoria de viver, a aceitação estóica da vida. Esperamos que depois do livro Construir, ainda inédito, esteja em curso uma outra obra poética com o seu ritmo talvez um pouco mais espraiado, continuando o seu caminho de um dos maiores poetas originários de Sintra e um dos melhores poetas da literatura portuguesa da sua geração.

Helena Langrouva

Maio de 2007

Helena Langrouva é licenciada em Filologia Clássica (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa), Maître ès Lettres Modernes – Cinéma (Montpellier III- Université Paul Valéry), pós-graduada – DEA ( Universidade de Paris III- La Sorbonne Nouvelle), Master of Arts e Master of Philosophy (Universidade de Londres – King’s College) – e doutorada (Universidade Nova de Lisboa) em Estudos Portugueses. Foi Leitora de Língua e Cultura Portuguesas nas Universidades de Montpellier e Rouen, ensinou Literatura Portuguesa Clássica, Teoria da Literatura, Introdução aos Estudos Literários e Francês, no ensino superior, em Portugal, com passagem pelo ensino secundário onde leccionou Grego, Latim e Português. Equiparada a bolseira pelo Ministério da Educação e Cultura, foi bolseira da Fundação Oriente e da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo investigado em bibliotecas e museus europeus. Escritora, investigadora interdisciplinar, nas áreas da cultura clássica, renascentista e do século XX, tem-se dedicado em especial ao estudo de Literatura e Arte dos séculos XV e XVI.

É autora de A Viagem na Poesia de Camões, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian- FCT, 2006; Actualidade d’Os Lusíadas, Lisboa, Roma Editora - apoio FCT, 2006; De Homero a Sophia. Viagens e Poéticas, Coimbra, Angelus Novus – patrocínio IPLB-, 2004; Arpejos de uma Viandante/ Arpèges, Lisboa, 2003. Co-editou, com Aires A. Nascimento, José V. De Pina Martins e Thomas Earle, Humanismo para o nosso tempo. Homenagem a Luís de Sousa Rebelo, Lisboa, edição patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian e comercializada pela APPACDM, Braga.

Publicou ensaios nas revistas Brotéria, Critério e O Tempo e o Modo (Lisboa), Traduziu e seleccionou Lanza del Vasto, Não-Violência e Civilização- Antologia, Lisboa, Edições Brotéria, 1978 e traduziu ainda Jean Joubert, O Homem de Areia (romance), Lisboa, Difel, 1991.

Estudou Artes Musicais – Canto Gregoriano e Canto Clássico - Artes Plásticas – Desenho e Pintura- e Iconografia. Tem ainda cultivado o canto ao longo da sua vida, fez exposições individuais de Pintura em Sintra, Lisboa e Évora e dedica-se em particular à pintura de ícones.

É membro da Associação Portuguesa de Escritores, da Associação Portuguesa de Críticos Literários, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Associação Internacional de Lusitanistas.

Contacto:

musas@netcabo.pt