Procurar textos
 
 

 

 

 

 






Helena Langrouva
ITINERÁRIO POÉTICO DE LIBERTO CRUZ
(Sintra, 1935)

1. Antes da guerra colonial: Momento (edição de Autor, Sintra, 1956), A tua Palavra (edição de Autor, Sintra, 1958), Névoa ou Sintaxe ( edição de Autor, Sintra, 1959), Itinerário ( Pedras Brancas, Livraria Nacional, Covilhã, 1962)  

MOMENTO

Desde os primeiros vinte e oito poemas que publicou aos vinte e um anos no livro Momento(1956), Liberto Cruz manifestou uma rara sensibilidade à beleza, à vida, ao amor de sua mãe, à experiência amorosa, ao desejo de aventura, à expressão da esperança, a par de uma tendência meditativa, expressa em linguagem despojada, sem excesso de metáforas e sem a preocupação da construção perfeita, embora já com a tendência para exprimir o essencial da sua vivência interiorizada. Nela transparece a sua leitura de Fernando Pessoa.

O poema de abertura, Momento, é a expressão jovem da procura do momento de beleza, na serrania, no brotar da água, no caminhar sem pressa a que chama “rotina”- mas que se desenvolverá ao longo da sua obra poética como um caminho de procura de sabedoria- o momento de beleza da perfeição cíclica da natureza, o momento da dor de nascer, deixando margem para a dúvida sobre a permanência da beleza e a quase certeza da dor, do negativo da vida humana.

No Poema sem título nem dedicatória, emerge o desafio para a aventura da viagem sem nome e a esperança de um dia partir, desafio e partida que se realizará ao longo de muitos anos da sua vida. Por que não referir o poema deste seu primeiro livro em que regista o dia em que a comunidade sintrense o reconheceu como menino poeta, pela sua sensibilidade inesperada à morte de uma lagartixa que, como “outros meninos” matara? E por que não deixarmo-nos surpreender pela sua expressão tão jovem de um tema tão antigo como o do amor e o tempo?

( “O amor e o tempo”, p.38)

Dantes,

Um sorriso teu

Era motivo

Para um poema.

Agora,

-o Outono chegou –

pensar em ti

é varrer da alma,

as pardas folhas

que o tempo,

- o forte tempo-

há muito já secou.

Helena Langrouva é licenciada em Filologia Clássica (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa), Maître ès Lettres Modernes – Cinéma (Montpellier III- Université Paul Valéry), pós-graduada – DEA ( Universidade de Paris III- La Sorbonne Nouvelle), Master of Arts e Master of Philosophy (Universidade de Londres – King’s College) – e doutorada (Universidade Nova de Lisboa) em Estudos Portugueses. Foi Leitora de Língua e Cultura Portuguesas nas Universidades de Montpellier e Rouen, ensinou Literatura Portuguesa Clássica, Teoria da Literatura, Introdução aos Estudos Literários e Francês, no ensino superior, em Portugal, com passagem pelo ensino secundário onde leccionou Grego, Latim e Português. Equiparada a bolseira pelo Ministério da Educação e Cultura, foi bolseira da Fundação Oriente e da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo investigado em bibliotecas e museus europeus. Escritora, investigadora interdisciplinar, nas áreas da cultura clássica, renascentista e do século XX, tem-se dedicado em especial ao estudo de Literatura e Arte dos séculos XV e XVI.

É autora de A Viagem na Poesia de Camões, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian- FCT, 2006; Actualidade d’Os Lusíadas, Lisboa, Roma Editora - apoio FCT, 2006; De Homero a Sophia. Viagens e Poéticas, Coimbra, Angelus Novus – patrocínio IPLB-, 2004; Arpejos de uma Viandante/ Arpèges, Lisboa, 2003. Co-editou, com Aires A. Nascimento, José V. De Pina Martins e Thomas Earle, Humanismo para o nosso tempo. Homenagem a Luís de Sousa Rebelo, Lisboa, edição patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian e comercializada pela APPACDM, Braga.

Publicou ensaios nas revistas Brotéria, Critério e O Tempo e o Modo (Lisboa), Traduziu e seleccionou Lanza del Vasto, Não-Violência e Civilização- Antologia, Lisboa, Edições Brotéria, 1978 e traduziu ainda Jean Joubert, O Homem de Areia (romance), Lisboa, Difel, 1991.

Estudou Artes Musicais – Canto Gregoriano e Canto Clássico - Artes Plásticas – Desenho e Pintura- e Iconografia. Tem ainda cultivado o canto ao longo da sua vida, fez exposições individuais de Pintura em Sintra, Lisboa e Évora e dedica-se em particular à pintura de ícones.

É membro da Associação Portuguesa de Escritores, da Associação Portuguesa de Críticos Literários, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Associação Internacional de Lusitanistas.

Contacto:

musas@netcabo.pt