Aceitar o sofrimento que nos cabe em sorte
Não sabemos por que moira camuflada
Não pensar em excesso na morte
Para não nos obcecarmos pelo enigma
Sorvermos o cheiro da flor que nos resta
Olharmos o céu ou a cascata
Nesta passagem confluem imagens enigmas
Aceitar a morte como uma coisa natural
Como Eugénio de Andrade
Como Homero
Assim como as folhas assim os homens caem
O poema que escrevi sobre a morte apagou-se
Porque nela mesmo perco tempo a meditar
E dela nada poderei saber
O enigma mais natural e mais inadiável
Apenas uma passagem de um corpo a pó
Apenas um último sopro que parte
O salto para o vazio
A perda da luz segundo o pensamento grego
O sopro seco e tórrido do deserto
O frio dos glaciares a fluírem
Num dilúvio não antecipado mas real
A esperança da imaginação de Dante
Para além deste cais certo da partida
A visão de rios de Luz e Música eterna
Nos torne intrépidos para o concerto esperado
Após os arpejos tocados no instrumento da vida