ANTÓNIO BATICÃ FERREIRA

País natal

Um sentimento de amor pátrio sobe no meu coração,
Em espírito demando o meu pais natal,
E lembro aquela floresta africana,
Cheia de caça e de verdura;
Lembro as suas imensas árvores gigantes,
A folhagem verde ou amarela
Que nos perfuma.
Revejo a minha infância,
Toda cheia de alegrias:
Eu corria pelo mato,
Espiava os animais selvagens,
Sem medo;
E olhava os lavradores nos campos,
E, no mar, os pescadores,
Que lutavam contra o vento, para agarrar o peixe,
E que eu, atento, seguia com o olhar:
Como gostava de os ver no oceano
Domar as vagas, que lhes queriam virar as barcas!
(Ah!, bem me lembro, bem me lembro do meu pais natal!)

A FONTE

I

Eis-me perto da Fonte, muito perto.

Vejo brotar a água,

Uma água clara e límpida,

Boa, amável!



Eis a Fonte:

Fica perto de Badiopor.

Junto dela nasci:

Eis a Fonte da minha infância.



Sim, eu amo essa Fonte,

Admiro-a,

Brinco,

Eu e meus irmãos, à sua beira.



Fica, fica perto de Badiopor,

Desse lugar quase sagrado,

Desse lugar ensombrado;

Badiopor, fonte de nossas almas.



A sua água nos atrai,

E acarinha-nos.

Vemo-la noite e dia;



E a Fonte que está mais perto.



Olha: a água a brotar da nascente,

Como de fonte,

Como um regato!


(Sim, parece-se mais com um regato.)


II

Mais pequena ainda que a Fonte,

É a nascente onde tudo vem beber.

A nascente, nossos pais, amamo-la.

Nossa.


A nascente é fonte das árvores e das folhas.

Olhamos a nascente, o ribeiro,

Manancial de nossos pais.


É verdade:


Esta Fonte é mui antiga,

Nascente da Tradição,

Fonte da Historia; eis

O manancial do Reino,

Tão perto de Badiopor!



Bem me lembro:

Ha muito que ela se conserva no mesmo lugar,

Manando água cristalina.

Eis, eis a Fonte do Reino.



Ela protege-nos,

Ela é a alma das crianças;

Fonte do Reino, força nossa,

Ela é a nossa protectora.


As chaves do Reino onde estão?


Nessa Fonte,

Onde meus irmãos e eu vemos às vezes monstros

E trememos então de medo,

Ou choramos.


(Nós, filhos do Reino,

Nos, príncipes desse seu Reino.)


III

É verdade, como príncipes,

De tudo cantamos,


Nos, príncipes de Baboque

Bem amados,

Pelo sangue

Oriundos daquele Rei,



Daquele que é Rei dos Reis;

Nos que vimos do seu Reino,

De todos o mais poderoso e vasto,

Como o Reino de Baçarel.



(E Baçarel é um grande Reino,

Onde príncipes vêm a luz;

Baçarel, terra bem nobre,

Seu lugar de nascimento.)

O mar

Olhai: o Mar tem influência singular

Sobre mim. Os animais aquáticos são tantos

Valia a pena persegui-los no mar alto;



Valia a pena vê-los saltar através das ondas.



O Mar, esse mundo que os homens não habitam,

É imenso, tão belo e tão perfeito!

O Mar tem influência singular

Sobre mim. Eu bem queria ir ver as ondas;



Valia a pena olhá-las a correr

Loucamente; valia a pena

Ver qual delas primeiro entrava na baía.



Ah!, o Mar vasto, no entanto, aqui nos fala

Sim, fala-nos interiormente,

E nos compreendemos a sua língua:

E uma língua que se entende.



(Ah!, que impressão nos faz o Mar!)

Infância

Eu corria através dos bosques e das florestas

Eu corno o ruído vibrante de um bosque desvendado,

Eu via belos pássaros voando pelos campos

E parecia ser levado por seus cantos.



Subitamente, desviei os meus olhos

Para o alto mar e para os grandes celeiros

Cheios da colheita dos bravos camponeses

Que, terminando o dia, regressavam à noite entoando



Canções tradicionais das selvas africanas

Que lhes lembravam os ódios ardentes

Dos velhos. Subitamente, uma corça gritou

Fugindo na frente dos leões esfomeados.



Aos saltos, os leões perseguiram a corça

Derrubando as lianas e afugentando os pássaros.

A desgraçada atingiu a planície

E os dois reis breve a alcançaram

António Baticã Ferreira nasceu em Canchungo (Guiné-Bissau) em 1939.  Fez os estudos liceais em Paris e licenciou-se em Medicina na Universidade de Lausana- Suíça.  

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