Quando as flores começam a nascer
naquele rio vermelho
um sorriso verde caminhará pé ante pé
naquela margem pantanosa
e todas as bocas beberão uma nova água
de fé e esperança Ninguém naufragará. Jamais!...
ninguém calará seu último grito
no
carmesim líquido que deveria ser nossa pomba.
Com dor sufocante
na água que deveria ser nossa criança
ninguém perecerá perante o monstro
criminoso
que a turva e a violenta! Nem Titina dormirá sem fôlego
com a última recordação póstuma
longe da
tumba vivente do Mestre.
Quando as flores começam a nascer
naquele rio
vermelho
a hora será de ressurreição
e o dia será de glória! (em homenagem à Titina Silá)
Não posso adiar a palavra, 1982
Em: Manuel Ferreira, 50 Poetas Africanos. Lisboa, Plátano
Editora, 1989 |
Escritor da Guiné–Bissau, envolveu–se, nos
anos 70, no movimento independentista do seu país, abandonando os
estudos liceais e partindo para a guerrilha em 1973. Após o 25 de Abril,
regressou a Bissau, prosseguindo os seus estudos.
Hélder Proença começou por se dedicar à
literatura era ainda adolescente, escrevendo poemas anticolonialistas,
de afirmação da identidade nacional, que acompanharam a sua actividade
política. Os textos desta fase foram reunidos no volume Não Posso Adiar
a Palavra, editado apenas em 1982. Este carácter panfletário foi-se
atenuando progressivamente, embora o autor nunca tenha descurado uma
vertente de intervenção política e social. Considerado uma das grandes
figuras da nova literatura guineense, escrevendo tanto em português como
em crioulo, foi o co-organizador e prefaciador da primeira antologia
poética do seu país Mantenhas Para Quem Luta! (1977). Alguma da sua
produção continua inédita.
Fonte:http://web.educom.pt/p-ccomum/2/biblioteca/biografias/guine.htm |