Quando te propus
um amanhecer diferente
a terra ainda fervia em lavas
e os homens ainda eram bestas ferozes Quando te propus
a conquista do futuro
vazias eram as mãos
negras como breu o silêncio da resposta Quando te propus
o acumular de forças
o sangue nómada e igual
coagulava em todos os cárceres
em toda a terra
e em todos os homens Quando te propus
um amanhecer diferente, amor
a eternidade voraz das nossas dores
era igual a «Deus Pai todo poderoso criador dos céus e da terra» Quando te propus
olhos secos, pés na terra, e convicção firme
surdos eram os céus e a terra
receptivos as balas e punhais
as amaldiçoavam cada existência nossa Quando te propus
abraçar a história, amor
tantas foram as esperanças
comidas
insondável a fé forjada
no extenso breu de canto e morte Foi assim que te propus
no circuito de lágrimas e fogo, Povo meu
o hastear eterno do nosso
sangue
para um amanhecer diferente!
Não posso adiar a palavra, 1982
Em: Manuel Ferreira, 50 Poetas Africanos. Lisboa, Plátano
Editora, 1989
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