Neste desdém...
vida marcha num vaivém
baloiçando
criando origens desconjunturadas
e tu badjuda n’a
desdenhosamente marchando no «infortúnio da vida»
Na certeza dos teus sonhos
de jardins suspensos
dum engate fixe do fim-de-semana
e de altas curtições
ao gosto de sol-praias
dos convívios-boîte e do jazz-band
excitando a confusão dos lábios, das luzes e do sexo:
A-A-A-Ahh... baby
O sabor drogante do teu destino badjuda n’a!
mas continua...
sepulta e bem sepultadinho
a dignidade em alcatifas confortáveis
(pelo menos sairá mais confortável, badjuda n’a)
Deixa exalar
não negues os bafos MINE COOPER e VOLVO
não, não negues o exalo suave da prostituição clássica:
O vestidinho te ajustará melhor, badjuda n’a!
As calças apertadinhas
chamarão mais clientes
(e as fendas ficarão mais nítidas badjuda n’a)
Terás uma Corte distinta
Que magistral personalidade!
E tuas pestanas azuis, verdes ou cinzentas
tuas unhas de gato lagária — de luta e violácea
e tua cara, aqui verde acolá azul
que pintura catalogar an! extraordinária badjuda n’a!
Sim
falarás um português melhor — da Metropóle —
e o deserto do teu sonho encherá de flores
então poderás passar seguramente
em todas as artérias góticas da ilusão
que todos te admirarão
e com mais descontracção
subirás, subirás, subirás
até entranhares
crua e sangrenta nas vísceras do anonimato
O jazz e a confusão das luzes te esperam. |
Escritor da Guiné–Bissau, envolveu–se, nos
anos 70, no movimento independentista do seu país, abandonando os
estudos liceais e partindo para a guerrilha em 1973. Após o 25 de Abril,
regressou a Bissau, prosseguindo os seus estudos.
Hélder Proença começou por se dedicar à
literatura era ainda adolescente, escrevendo poemas anticolonialistas,
de afirmação da identidade nacional, que acompanharam a sua actividade
política. Os textos desta fase foram reunidos no volume Não Posso Adiar
a Palavra, editado apenas em 1982. Este carácter panfletário foi-se
atenuando progressivamente, embora o autor nunca tenha descurado uma
vertente de intervenção política e social. Considerado uma das grandes
figuras da nova literatura guineense, escrevendo tanto em português como
em crioulo, foi o co-organizador e prefaciador da primeira antologia
poética do seu país Mantenhas Para Quem Luta! (1977). Alguma da sua
produção continua inédita.
Fonte:http://web.educom.pt/p-ccomum/2/biblioteca/biografias/guine.htm |