O homem só, não é ninguém;
é um grão de areia que não tem irmãos
e que não fala.
O homem só, é um ser voltado ao contrário,
um amanhecer sem sol
ou uma noite sem luar...
Só, eu me sentia
na selvática solidão da selva.
Só, eu me sentia
com meus pensamentos solitários
o meu esqueleto de homem só.
Meu corpo crescia e minguava
conforme a minha vontade;
meus membros reproduziam-se
segundo meu pensamento,
e o pensamento reproduzia-se
segundo a minha vontade;
Só eu me não reproduzia,
porque esse milagre aconteceu uma vez
e não se repetirá mais.
Mas um dia, ouvi Tcherno Rachid
conversar com as árvores e as plantas,
com os pássaros e as borboletas,
e compreendi que o homem nunca está só.
Compreendi que o homem é uma parte
da harmonia universal:
uma pedra que pensa,
uma borboleta que voa,
uma árvore que cresce
e uma formiga que anda. |
Artur Augusto Silva nasceu na Ilha da Brava, a 14 de Outubro de 1912.
Ainda estudante, foi Director da revista “Momento”, réplica lisboeta da
coimbrã “Presença”, onde se propunha com outros literatos jovens abrir
uma “Tribuna Livre” em que livremente se discutisse e todos pudessem
falar. Publicou vários artigos, fez reportagens, dirigiu saraus
literários, organizou exposições de arte moderna, promoveu conferências
culturais na Casa da Imprensa, na Sociedade Nacional de Belas Artes e em
vários outros locais de Portugal.
Licenciou-se em Direito em 1938. Em
1939, partiu para Angola, onde trabalhou como Secretário do Governador
Geral. De 1941 a 1949 exerceu advocacia em Lisboa, em Alcobaça e em
Porto de Mós. Em 1949, partiu para a Guiné onde foi advogado, notário e
substituto do Delegado do Procurador da República. Foi também Membro do
Centro de Estudos da Guiné, juntamente com Amílcar Cabral, de quem era
grande amigo.
Visitou vários países africanos, recolhendo elementos que mais tarde
lhe serviriam para escrever, entre outros livros, “Os Usos e Costumes
Jurídicos dos Fulas”.
Um dos seus comprometimentos cívicos em que mais se empenhou
consistiu em defender presos políticos. Foi defensor em 61 julgamentos,
um deles com 23 réus, tendo tido apenas duas condenações.
Em 1966, já em plena luta de libertação da Guiné, foi preso pela Pide,
no aeroporto de Lisboa. Meses mais tarde, por intervenção de Marcelo
Caetano e de outros responsáveis políticos, que embora discordassem das
suas ideias políticas o admiravam como homem de carácter, foi libertado,
mas proibiram-lhe que regressasse à Guiné, sendo-lhe fixada residência
em Lisboa.
Em 1967, Marcelo Caetano, convidou-o para ir trabalhar como advogado
na Companhia de Seguros Bonança. Também Adriano Moreira o convidou para
leccionar no Instituto de Ciências Ultramarinas, o que ele recusou,
fazendo ver ao portador do convite a incoerência de o terem prendido
pelas suas ideias sobre o colonialismo português e depois o convidarem
para leccionar matérias relacionadas com África. Em 1976, de visita à Guiné-Bissau, foi convidado pelo então Presidente
Luís Cabral para trabalhar como juiz no Supremo Tribunal de Justiça.
Também leccionou Direito Consuetudinário na Escola de Direito de Bissau. Faleceu em Bissau a 11 de Julho de 1983. |