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Revista TriploV
de
Artes, Religiões e Ciências |
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António Júlio Estácio |
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Não esquecendo o passado e recordando
o ambiente em que nos criamos, permitam-me que, nesta quadra
festiva, vos saúde como era hábito fazer-se na Guiné.
Com um abraço e votos de Festas
Felizes, sobretudo com muita saúde
António J. Estácio
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Natal (antigo) na Guiné |
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Outrora e até o início dos anos 70 do
séc. XX, era frequente, nas noites de 24 e 31 de Dezembro, as ruas da
cidade de Bissau serem percorridas por grupos de jovens guineenses,
oriundos dos bairros periféricos, que transportavam interessantes
réplicas de igrejas e capelas.
Eram as chamadas “Capelinhas”. |
Feitas numa
estrutura de madeira muito leve, vulgarmente denominada por
“tara” (Raphia sp. Exsicc. Esp. Santo 766),
apresentavam-se forradas a papel de seda, contendo, no seu
interior, várias pagelas de santos e, ao centro, um coto de vela
que, no breu da noite, as iluminava, conferindo ao conjunto um
aspecto de particular carinho e ternura. |
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Os grupos de miúdos percorriam as ruas de Bissau,
cantando, de casa em casa, saudando em crioulo e a troco de 5 tostões
(1) os moradores com a seguinte cantilena:
I
"S. José, sagrado e Nha Maria,
Ai quando foi, quando foi, para Bélém,
A resgatar Menino di Jesus,
L’ ao pé, l’ ao pé da Santa Cruz.
II
Adório o mistério, sobrinho de minha alma,
Sobrinho de minha alma, do o Senhor,
Todo o doce encanto, todo reminado,
Todo o doce encanto, sempre a chorar.
Ai, ai, ai, ai, de vez em quando, sempre a chorar.
III
A Angelina, a Angelina qui já moreu
Si não podia confessar senão do Papa,
Senão do Papa, se não do Bispo se confessou
Para pédir Boas Festas, boas almas.
IV
Adório o mistério, sobrinho de minha alma,
Sobrinho de minha alma, do o Senhor,
... ... ... ... ... ... ... ... ... . ...." |
Eram, sequencialmente, acompanhados pelos
famosos bonecos, tipo espantalhos feitos de papelão, presos numa
cana ou pequena haste de madeira, com os braços e pernas
articulados, graças a um sistema de cordéis interligados, nas
costas, dos referidos bonecos.
Eram conhecidos pela designação de “Quincões”.
Os garotos accionavam-nos freneticamente na repetitiva ladainha,
que assim dizia: |
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Quincon,
quincon,
Cabeça de com (2),
Quincom, quincom,
Rabada de com.
Hoje, quanto sei, a
tradição não existe, mas perdura no coração de muitos de nós. |
Ao lado,
uma capelinha e um quincon. |
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(1) A que, em crioulo, designavam por “dôs
xelins”, ou seja dois xelins. (2) Cão |
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