Glaciar, glaciário e glacial

 

A.M. GALOPIM DE CARVALHO


Glaciar da Groenlândia.

É frequente, em alguns textos de ensino de geologia e de geografia, o substantivo “glaciar “ser usado na qualidade de adjectivo (por exemplo: “vale glaciar”, “modelado glaciar”, “erosão glaciar”), o que, em minha opinião, não é correcto. Posso estar enganado e, se assim for, agradeço ser corrigido. “Glaciar” é um vocábulo comum a estas disciplinas, usado para designar uma entidade (que definirei em nota abaixo), sendo, portanto, um substantivo e é a este substantivo que corresponde o qualificativo “glaciário”. Assim, o correcto é dizer ou escrever “vale glaciário”, “modelado glaciário” ou “erosão glaciária”.

Incorrecto é também o uso (menos frequente, neste discurso), do qualificativo “glacial” (do latim “glacialis”, muito frio, gélido). Este outro qualificativo alude, sim, ao gelo no sentido real ou figurado (por exemplo: “temperatura glacial”, “olhar glacial”).

Uma frase que tenha em conta o uso correcto destas três palavras é, por exemplo: “O vale glaciário de Serra da Estrela é o testemunho de um glaciar de vale que aqui existiu há uns 25 000 a 18 000 anos, no alto de uma montanha, num período de frio glacial”.

Glaciar de Aletsch, Suíça.
Vale glaciário do Zêzere.

Nota para quem não sabe:

Um glaciar é uma massa de gelo que cobre extensões maiores ou menores de terreno, em regiões climáticas, de latitude ou de altitude, nas quais a cobertura de neve é persistente. Quer nas zonas polares (Antárctida e Groenlândia) por razões climáticas próprias destas latitudes, quer nas altas montanhosos (vale glaciário de Aletsch, na Suiça, apenas um entre os muitos conhecidos), em consequência do arrefecimento do ar em altitude. Há, nestes dois ambientes, temperaturas glaciais que permitem que a água se mantenha permanentemente no estado sólido.