TRIPLOV
Génesis (5)

Segundo a Bíblia dos Capuchinhos

ÍNDICE: Capítulos 1 a 10Cap. 11 a 20Cap. 21 a 33Cap. 34 a 40Cap. 41 a 50.


Gn 41

O sonho do faraó (Dn 2; 4,1-30) 1Dois anos depois, o faraó teve um sonho: estava de pé junto do Nilo. 2E do Nilo saíram sete vacas, belas e gordas, que se puseram a pastar a erva; 3depois destas saíram do rio outras sete vacas, enfezadas e magras, e pararam junto das primeiras, na margem do rio. 4E as vacas enfezadas e magras devoraram as sete vacas belas e gordas.

Então, o faraó acordou. 5Adormeceu de novo e teve um segundo sonho: sete espigas, grandes e belas, subiram de uma mesma haste; 6depois, sete espigas raquíticas e ressequidas pelo vento do oriente germinaram a seguir às primeiras. 7E as espigas raquíticas engoliram as sete espigas grandes e cheias. Então, o faraó acordou: era um sonho.

8Pela manhã, com o espírito agitado, o faraó mandou chamar todos os magos do Egipto e todos os seus sábios. Contou-lhes os sonhos, mas ninguém conseguia explicá-los.

9Então o copeiro-mor falou diante do faraó nestes termos: «Hoje devo confessar a minha falta. 10Um dia, o faraó estava irritado contra os seus servos; mandou-os encerrar na casa do chefe dos guardas, a mim e ao padeiro-mor. 11Ambos tivemos um sonho na mesma noite, e os nossos sonhos tinham, cada um, o seu significado. 12Estava lá connosco um jovem hebreu, escravo do chefe dos guardas. Contámos-lhe os nossos sonhos e ele interpretou-os, dando a cada um de nós o significado do sonho. 13E tudo aconteceu como ele tinha interpretado: eu fui restabelecido no meu posto e o outro foi enforcado.»

José diante do faraó14O faraó mandou procurar José, o qual foi rapidamente tirado da prisão. Barbeou-se, mudou de vestidos e apresentou-se diante do faraó. 15E o faraó disse a José: «Tive um sonho que ninguém me explica, mas ouvi dizer que tu sabes interpretar os sonhos.» 16José respondeu ao faraó, dizendo: «Não sou eu, é Deus quem dará ao faraó uma resposta satisfatória.»

17Então, o faraó falou assim a José: «No meu sonho, estava na margem do rio. 18E do rio saíram sete vacas, belas e gordas que se puseram a pastar a erva; 19depois, seguiram-nas outras sete vacas magras, muito enfezadas e todas descarnadas; nunca vi outras tão magras em todo o país do Egipto. 20As vacas magras e enfezadas devoraram as sete primeiras vacas, as gordas; 21estas passaram para o seu corpo, sem que parecesse terem ali entrado: o seu aspecto permaneceu enfezado como antes. Então acordei. 22Vi depois, num outro sonho, sete espigas elevarem-se sobre uma mesma haste, cheias e belas; 23mas em seguida eis que nasceram outras sete espigas, raquíticas e ressequidas pelo vento do oriente. 24E estas espigas raquíticas engoliram as sete espigas grandes. Contei isso aos magos e nenhum deles mo explicou.»

25José disse ao faraó: «O sonho do faraó é só um. Deus anunciou ao faraó o que vai fazer. 26As sete vacas belas são sete anos; as sete espigas grandes são sete anos; é um mesmo sonho. 27E as sete vacas magras e feias, que subiam em segundo lugar, são sete anos; e as sete espigas raquíticas e ressequidas pelo vento do oriente são sete anos. Serão sete anos de fome. 28É o que eu disse ao faraó: Deus revelou ao faraó o que vai fazer. 29Sim, vão chegar sete anos de grande abundância a todo o território do Egipto. 30Mas sete anos de fome surgirão a seguir, de modo que toda a abundância desaparecerá do Egipto e a fome devastará o país. 31A recordação da abundância apagar-se-á no país, devido à fome que se seguirá, porque será excessiva. 32E se o sonho do faraó se repetiu duas vezes, é porque isto está decidido diante de Deus e porque Deus está quase a realizá-lo.

33Agora escolha o faraó um homem prudente e sábio, encarregando–o do país do Egipto. 34Que o faraó nomeie comissários para o país e lance o imposto de um quinto sobre as colheitas do Egipto, durante os sete anos de abundância. 35Que se acumulem todas as sobras de víveres desses anos férteis que se aproximam; que se armazene trigo sob a autoridade do faraó, nas cidades, como reserva de víveres. 36Essas provisões serão um recurso para o país durante os sete anos de fome que vão chegar ao Egipto, a fim de que o país não pereça pela fome.»

Promoção de José37Estas palavras agradaram ao faraó e a todos os seus servos. 38E o faraó disse aos servos: «Poderemos nós encontrar outro homem como este, cheio do espírito de Deus?» 39E o faraó disse a José: «Visto que Deus te revelou tudo isso, não há ninguém tão inteligente e tão sábio como tu. 40Tu mesmo serás o chefe da minha casa; todo o meu povo será governado por ti e somente pelo trono é que serei maior do que tu.» 41E disse ainda a José: «Eis que te ponho à frente de todo o país do Egipto.»

42Então o faraó tirou da mão o anel, passou-o para a de José, mandou-o vestir com vestes de linho fino e pôs-lhe ao pescoço o colar de ouro. 43Mandou-o subir para o segundo dos seus carros, e gritavam diante dele: «Prestem homenagem!» E assim foi estabelecido chefe de todo o país do Egipto. 44O faraó disse a José: «Eu sou o faraó; mas, sem a tua permissão, ninguém moverá a mão ou o pé em todo o Egipto.» 45O faraó cognominou José Safnat-Panéa e deu-lhe por mulher Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On. E José partiu para inspeccionar o país do Egipto. 46Tinha trinta anos quando apareceu diante do faraó, rei do Egipto. E saindo da presença do faraó, José percorreu todo o país do Egipto.

47A terra, durante os sete anos de fertilidade, produziu colheitas abundantes. 48Acumularam-se as provisões dos sete anos de abundância, que houve no Egipto, e abasteceram-se as cidades; puseram em cada cidade os géneros dos campos que as rodeavam e guardaram-nos em cada uma. 49José acumulou trigo como a areia do mar, em tão grande quantidade que deixaram de o medir, pois era incalculável. 50Antes que chegasse o período da fome, nasceram a José dois filhos, que lhe deu Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On. 51José chamou ao primogénito Manassés: «Porque – disse ele – Deus fez-me esquecer todas as minhas tribulações e toda a casa de meu pai.» 52Ao segundo chamou Efraim: «Porque – disse ele – Deus fez-me frutificar, no país do meu infortúnio.»

53Tendo terminado os sete anos de abundância, no país do Egipto, 54sobrevieram os sete anos da fome, como José predissera. Houve fome em todos os países, mas no Egipto havia pão. 55Quando a fome começou a manifestar-se no Egipto, o povo clamou por pão ao faraó; mas o faraó respondeu aos egípcios: «Ide ter com José; fazei o que ele vos disser.»

56Estendendo-se a fome a toda a terra, José abriu todos os celeiros e vendeu trigo aos egípcios. Mas a fome persistiu no país do Egipto. 57De todos os países vinham ao Egipto para comprar trigo a José, pois a fome era violenta em toda a terra.


Gn 42

Primeira viagem dos irmãos de José ao Egipto1Sabendo Jacob que havia trigo à venda no Egipto, disse aos seus filhos: «Porque olhais uns para os outros?» 2E disse ainda: «Ouvi dizer que há trigo à venda no Egipto. Ide lá comprá-lo, para nós continuarmos vivos e não morrermos.»

3Os irmãos de José partiram, em número de dez, para comprar trigo no Egipto. 4Quanto a Benjamim, irmão de José, Jacob não o deixou ir com os irmãos, porque, dizia ele de si para consigo: «Poderia acontecer-lhe algum mal.»

5E os filhos de Israel foram comprar trigo, juntamente com outros que iam, pois também havia fome no país de Canaã.

6Ora José era governador do país; era ele que mandava distribuir o trigo a todo o povo do país. Quando os irmãos de José chegaram, prostraram-se diante dele com o rosto por terra.

7Vendo os irmãos, José reconheceu-os; dissimulou, porém, diante deles e falou-lhes com dureza, dizendo: «Donde vindes?» Ao que eles responderam: «Do país de Canaã, para comprar víveres.» 8José reconheceu os irmãos mas eles não o reconheceram.

9José recordou-se, então, dos sonhos que tivera acerca deles e disse-lhes: «Sois espiões! É para descobrir o lado fraco do país que viestes.» 10Responderam-lhe: «Não, senhor, os teus servos vieram para comprar víveres. 11Somos todos filhos de um mesmo pai; somos pessoas honestas: os teus servos nunca foram espiões.»

12Disse-lhes José: «Não é assim! Viestes reconhecer os lados fracos do território.» 13Responderam-lhe: «Nós, os teus servos, éramos doze irmãos, filhos de um mesmo pai e habitantes do país de Canaã; o mais novo está junto do nosso pai neste momento e o outro já não existe.»

14José disse-lhes: «É aquilo que eu disse: sois espiões! 15Por isso vos porei à prova: pela vida do faraó, não saireis daqui enquanto o vosso irmão mais novo não tiver vindo. 16Mandai um de vós buscá-lo, enquanto ficais prisioneiros; verificar-se-á, assim, a sinceridade das vossas palavras. Doutro modo, pela vida do faraó, sereis considerados espiões.» 17E fechou-os na prisão durante três dias.

18No terceiro dia, José disse-lhes: «Fazei o seguinte e vivereis, porque temo o SENHOR: 19se procedeis de boa fé, que só um de vós fique detido na prisão, enquanto ireis levar às vossas famílias com que lhes matar a fome. 20Depois, trazei-me o vosso irmão mais novo: assim, as vossas palavras serão justificadas, e não morrereis.» E eles concordaram.

21Disseram, então, uns aos outros: «Na verdade, nós estamos a ser castigados por causa do nosso irmão; vimos o seu desespero quando nos implorou compaixão, e não o escutámos. Por isso veio sobre nós esta desgraça.» 22Rúben respondeu-lhes nestes termos: «Eu bem vos dizia, então: ‘Não pequeis contra o menino!’ Mas não me escutastes. Agora respondemos pelo seu sangue.»

23Ora eles não sabiam que José os compreendia, porque lhes falava por meio de um intérprete. 24José afastou-se deles e chorou. Depois voltou para junto dos irmãos e falou-lhes. Escolheu Simeão e mandou-o encarcerar na presença deles.

Regresso à terra natal25José ordenou, então, que lhes enchessem de trigo os sacos; que pusessem o dinheiro de cada um no seu saco e que lhes dessem provisões para a viagem. Tudo isso foi executado. 26Eles carregaram o trigo nos jumentos e partiram.

27Na estalagem, ao abrir o saco para dar a ração ao jumento, um deles encontrou o dinheiro, que estava na boca do saco. 28E disse aos seus irmãos: «Devolveram-me o dinheiro; está aqui no meu saco.» Desfaleceu-lhes o coração e olharam uns para os outros, atemorizados, dizendo: «O que é isto que Deus nos fez?»

29Chegando junto de Jacob, seu pai, no país de Canaã, contaram-lhe tudo o que lhes tinha acontecido, nestes termos: 30«O homem, que é senhor do país, falou-nos com dureza; tratou-nos como a espiões que iam explorar o país. 31Nós dissemos-lhe: ‘Somos pessoas honestas, nunca fomos espiões. 32Éramos doze irmãos, filhos do mesmo pai: um já não vive, e o mais novo está agora com o nosso pai no país de Canaã.’ 33E o homem, que é senhor daquele país, respondeu-nos: ‘Reconhecerei que sois sinceros, se deixardes junto de mim um de vós; tomai o que é preciso para as necessidades das vossas famílias e parti; 34depois, trazei-me o vosso irmão mais novo. Saberei, assim, que não sois espiões e que sois pessoas honestas. Entregar-vos-ei, então, o vosso irmão, e podereis circular no país, fazendo as vossas compras.’»

35Ao esvaziarem os seus sacos, todos eles encontraram o dinheiro dentro deles; à vista desse dinheiro, tanto eles como o pai estremeceram.

36Então Jacob, seu pai, disse-lhes: «Ainda me ides deixar sem meus filhos! José desapareceu, Simeão desapareceu e quereis agora tirar-me Benjamim! É sobre mim que tudo isto cai.» 37Rúben disse ao pai: «Tira a vida aos meus dois filhos, se eu to não trouxer; entrega-o nas minhas mãos e trá-lo-ei para junto de ti.»

38Jacob respondeu: «O meu filho não irá convosco; porque o seu irmão já não existe e só ele ficou. Se lhe acontecesse algum mal durante a viagem que ides fazer, os meus cabelos brancos desceriam ao túmulo com o peso da dor.»


Gn 43

Segunda viagem ao Egipto 1Entretanto, a fome pesava sobre o país. 2Quando consumiram todo o trigo que tinham trazido do Egipto, o pai disse-lhes: «Voltai e comprai-nos alguns víveres.»

3Judá respondeu-lhe: «Aquele homem falou categoricamente e disse-nos: ‘Não torneis à minha presença sem que esteja convosco o vosso irmão.’ 4Se consentes que o nosso irmão vá connosco, então iremos comprar-te víveres. 5Mas se não o deixares ir, não podemos lá voltar, pois aquele homem disse-nos: ‘Não apareçais diante de mim, se não vierdes acompanhados pelo vosso irmão.’»

6E Israel replicou: «Porque procedestes mal para comigo, informando esse homem de que tínheis ainda um irmão?» 7Responderam-lhe: «Aquele homem fez muitas perguntas, a nosso respeito e da nossa família, dizendo: ‘Vosso pai vive ainda? Tendes mais algum irmão?’ E nós respondemos às suas perguntas. Podíamos acaso prever que ele diria: ‘Fazei vir o vosso irmão?’»

8E Judá disse a Israel, seu pai: «Deixa ir o menino comigo, a fim de que possamos partir; e assim poderemos viver, nós, tu e os nossos filhos, em vez de morrermos. 9Sou eu que respondo por ele; é a mim que o reclamarás; se eu não o trouxer e não o puser diante de ti, declarar-me-ei culpado para contigo, para todo o sempre. 10Se não tivéssemos demorado tanto, já estávamos de volta pela segunda vez!» 11Israel, seu pai, disse-lhe: «Visto que é assim, está bem! Fazei isto: metei nas vossas bagagens os melhores produtos do país e levai-os como homenagem a esse homem: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, aromas, láudano, pistácios e amêndoas. 12Levai também convosco o dobro do dinheiro, assim como a soma que encontrastes na boca dos sacos, certamente por engano. 13Levai o vosso irmão e preparai-vos para voltar à presença desse homem. 14Que o Deus supremo vos faça encontrar compaixão junto desse homem, a fim de que vos deixe vir com o outro vosso irmão e com Benjamim. Quanto a mim, se tiver de ser privado dos meus filhos, paciência, que eu seja privado deles.»

15Os homens tomaram consigo os presentes, muniram-se com o dobro do dinheiro e levaram Benjamim. Puseram-se a caminho do Egipto e apresentaram-se diante de José. 16Logo que José viu Benjamim entre eles, disse ao seu intendente: «Manda entrar esses homens em minha casa; manda matar um animal e prepara-o, porque esses homens comerão comigo ao meio-dia.»

17O intendente obedeceu às ordens e introduziu os viajantes na casa de José. 18Mas, quando os introduziram na casa de José, eles alarmaram-se e disseram: «É por causa do dinheiro reposto nos nossos sacos, da outra vez, que nos trouxeram para aqui; é para nos agredirem, caindo sobre nós, para nos escravizarem e se apoderarem dos nossos jumentos.»

19Aproximaram-se do homem, que governava a casa de José, e falaram-lhe à entrada da casa, 20dizendo: «Perdão, senhor! Já aqui estivemos uma vez para comprar víveres. 21Ora aconteceu que, ao chegarmos a uma estalagem, abrimos os nossos sacos e encontrámos o dinheiro de cada um na boca de cada saco – o nosso próprio dinheiro. 22Temo-lo nas mãos e trouxemos connosco uma outra quantia, para comprar víveres. Não sabemos quem tornou a pôr o nosso dinheiro nos nossos sacos.»

23Disse-lhes ele: «Tranquilizai-vos, não vos atemorizeis. O vosso Deus, o Deus do vosso pai, é que vos fez encontrar um tesouro nos vossos sacos: o vosso dinheiro foi-me entregue.»

E trouxe-lhes Simeão. 24O intendente mandou-os entrar na casa de José; deram-lhes água para lavarem os pés e deram forragem aos animais. 25Enquanto esperavam José, que devia chegar ao meio-dia, prepararam os presentes, porque lhes tinham dito que comeriam ali.

26Quando José entrou em casa, levaram-lhe os presentes que tinham trazido e inclinaram-se até ao chão, diante dele. 27José informou-se da sua saúde e depois disse: «Como está o vosso velho pai, esse ancião do qual me falastes? Ainda é vivo?» 28Eles responderam: «O teu servo, nosso pai, está de saúde e vive ainda.» Então inclinaram-se, prostrando-se.

29Levantando os olhos, José viu Benjamim, seu irmão, filho de sua mãe, e disse: «É este o vosso irmão mais novo, do qual me falastes?» E continuou: «Que Deus te seja favorável, meu filho!» 30E José apressou-se a sair, porque ficou enternecido, à vista do seu irmão, e tinha necessidade de chorar; entrou no seu aposento e chorou. 31Depois, lavou o rosto e voltou a sair. Então, procurando dominar-se, disse: «Servi a refeição.»

32Serviram-lhes a refeição em três mesas separadas: numa para José, na outra para os irmãos e na terceira para os egípcios; porque não é permitido aos egípcios comer com os hebreus, pois isto é uma abominação, no Egipto. 33Sentaram-se à mesa diante dele, o primogénito segundo a sua idade e o mais novo segundo a sua; e os homens olhavam uns para os outros com assombro.

34José mandou que lhes servissem iguarias na sua mesa, mas a porção de Benjamim foi cinco vezes maior do que a dos outros. Beberam e alegraram-se todos juntos.


Gn 44

Última prova1José deu a seguinte ordem ao intendente da sua casa: «Enche de víveres os sacos destes homens, tanto quanto eles puderem conter e põe o dinheiro de cada um na boca do saco. 2Põe também a minha taça de prata na boca do saco do mais novo, juntamente com o preço do trigo.» E tudo foi executado como José ordenara.

3Quando chegou a manhã, deixaram partir os homens com os seus jumentos. 4Acabavam de sair da cidade e ainda estavam a pouca distância, quando José disse ao intendente da sua casa: «Vai, corre atrás desses homens e, assim que os encontrares, diz-lhes: ‘Porque pagastes o bem com o mal? 5É precisamente por essa taça que bebe o meu senhor, e é dela que ele se serve para adivinhar. Praticastes uma má acção!’»

6Tendo-os alcançado, o intendente disse-lhes essas mesmas palavras. 7Eles responderam-lhe: «Porque fala assim o meu senhor? Longe de teus servos terem cometido uma tal acção! 8Trouxemos-te do país de Canaã o dinheiro que encontrámos na boca dos nossos sacos. Como poderíamos, então, furtar da casa de teu amo ouro ou prata? 9Aquele dos teus servos que o tiver em seu poder morrerá, e nós mesmos seremos escravos do meu senhor!» 10O intendente replicou: «Sim, é certo e justo o que dizeis: somente aquele que for encontrado na posse da taça será meu escravo, e vós ficareis livres.»

11Todos eles se apressaram a pousar os sacos no chão e cada um abriu o seu. 12E o intendente revistou-os, começando pelo mais velho e acabando no mais novo. A taça foi encontrada no saco de Benjamim.

13Rasgaram, então, as suas vestes; tornaram a carregar os jumentos e voltaram para a cidade. 14Judá entrou com os irmãos na casa de José, que ainda ali se encontrava e prostraram-se no chão, aos seus pés.

15José disse-lhes: «Que procedimento foi o vosso? Não sabeis que um homem como eu tem poder de adivinhar?» 16Judá respondeu: «Que havemos de dizer ao meu senhor? Como falar e como justificar-nos? Deus descobriu a iniquidade dos teus servos. Seremos agora os escravos do meu senhor, tanto nós como aquele em cujo poder se encontrou a taça.»

17E José replicou: «Longe de mim proceder assim! O homem, em cujo poder se encontrou a taça, é que será meu escravo. Quanto a vós, voltai em paz para junto do vosso pai.»

Intervenção de Judá18Então, Judá aproximou-se de José e disse-lhe: «Por favor, senhor, que o teu servo possa dizer uma palavra aos ouvidos do meu senhor, e que a tua cólera não se inflame contra o teu servo! Porque tu és igual ao faraó. 19Quando o meu senhor interrogou os seus servos, dizendo: ‘Tendes ainda pai ou outro irmão?’, 20nós respondemos ao meu senhor: ‘Temos um pai idoso e um irmão jovem, filho da sua velhice. Seu irmão morreu, ficando ele só, dos filhos de sua mãe, e o pai está muito afeiçoado a ele.’ 21Tu disseste então aos teus servos: ‘Trazei-mo, para que eu o veja.’ 22E nós respondemos ao meu senhor: ‘O menino não poderá deixar o pai; se ele o deixasse, seu pai morreria.’ 23Mas tu disseste aos teus servos: ‘Se o vosso irmão mais novo não vos acompanhar, não torneis a aparecer diante de mim.’ 24Ao voltarmos para junto do teu servo, nosso pai, repetimos-lhe as mesmas palavras do meu senhor. 25E o nosso pai disse-nos: ‘Voltai, comprai-nos alguns víveres.’ 26Respondemos-lhe: ‘Não podemos partir. Se o nosso irmão mais novo não for connosco, não voltaremos; porque não podemos aparecer diante daquele homem, se o nosso irmão mais novo não estiver connosco.’ 27O teu servo e meu pai, disse-nos: ‘Sabeis que a minha mulher deu-me dois filhos. 28Um desapareceu de junto de mim e eu disse: Com certeza foi devorado! E não tornei a vê-lo, até hoje. 29Se me tirardes também este e se lhe acontecer algum mal, fareis descer os meus cabelos brancos ao túmulo, com o peso da dor.’

30Agora, ao voltarmos para junto do teu servo e meu pai, como poderíamos não ir acompanhados pelo menino, cuja vida à dele está ligada?! 31Com certeza, não vendo o menino, ele morrerá; e os teus servos terão feito descer ao túmulo, dolorosamente, os cabelos brancos do teu servo e meu pai. 32Foi este teu servo que se responsabilizou pelo menino, perante meu pai, dizendo: ‘Se não o trouxer para junto de ti, serei para sempre culpado para com meu pai.’ 33Então, por favor, que o teu servo fique como escravo do meu senhor, em lugar do menino; que fique escravo do meu senhor e que o menino volte com os irmãos. 34Como poderei voltar para junto de meu pai, sem levar comigo o seu filho? Nem quero ver a dor que sobreviria a meu pai!».


Gn 45

Desfecho1José não pôde conter-se diante dos que o rodeavam e exclamou: «Mandai sair toda a gente daqui!» Por isso não ficou ninguém presente, quando José se deu a conhecer aos irmãos. 2Mas ele chorava tão alto que os egípcios ouviram-no, e a notícia chegou também ao palácio do faraó. 3José disse então aos irmãos: «Eu sou José; meu pai ainda é vivo?» Mas eles não puderam responder-lhe, porque ficaram perturbados diante dele.

4José disse aos irmãos: «Aproximai-vos de mim, peço-vos!» E eles aproximaram-se. José continuou: «Eu sou José, vosso irmão, que vendestes para o Egipto. 5Mas não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós próprios, por me terdes vendido para este país; porque foi para podermos conservar a vida que Deus me mandou para aqui à vossa frente. 6Com efeito, há dois anos que a fome reina em toda esta região; e, durante cinco anos, não voltará a haver lavoura nem colheita. 7Deus enviou-me à vossa frente para vos preparar recursos, neste país, e para vos conservar a vida e garantir sobrevivência de uma forma maravilhosa.

8Não, não fostes vós que me fizestes vir para aqui. Foi Deus; foi Ele que me tornou como um pai para o faraó, senhor da sua casa e administrador de todo o país do Egipto. 9Apressai-vos a voltar para junto de meu pai e dizei-lhe: ‘Assim fala o teu filho José: Deus fez-me senhor de todo o Egipto. Vem para junto de mim, sem demora! 10Habitarás na terra de Góchen e estarás perto de mim; tu e os teus filhos, os teus netos, o teu gado miúdo e graúdo e tudo o que te pertence. 11Sustentar-te-ei ali, porque, durante cinco anos, ainda haverá fome, a fim de que nada sofras, tu, a tua família e tudo o que te pertence.’ 12Vedes com os vossos olhos, assim como meu irmão Benjamim, que, na verdade, sou eu que vos falo. 13Contai a meu pai todas as honras que me rodeiam no Egipto e tudo o que vistes, e apressai-vos a trazer o meu pai para cá.»

14Então lançou-se ao pescoço de Benjamim, seu irmão, e chorou; e Benjamim também chorou nos seus braços. 15José abraçou todos os seus irmãos e chorou abraçado a eles. Só então é que os irmãos puderam falar-lhe.

Convite do faraó16A notícia espalhou-se por toda a corte do faraó: «Chegaram os irmãos de José!» E isto agradou ao faraó e aos seus servos. 17O faraó disse a José: «Diz aos teus irmãos: ‘Fazei assim: tornai a carregar os vossos animais e ponde-vos a caminho para Canaã. 18Trazei vosso pai e as vossas famílias e vinde para junto de mim; dar-vos-ei a melhor província do Egipto, e comereis os melhores frutos deste país.’ 19E ficas encarregado de transmitir esta ordem: ‘Fazei assim: tomai carros para os vossos filhos e para as vossas mulheres, no país do Egipto; fazei subir para eles o vosso pai e voltai. 20Não tenhais pena das vossas terras, porque o melhor do Egipto será para vós.’»

Regresso a Canaã21Assim fizeram os filhos de Israel. José deu-lhes carros, segundo as ordens do faraó; forneceu-lhes provisões para a viagem 22e deu a todos, individualmente, vestidos novos; a Benjamim deu de presente trezentas moedas de prata e cinco mudas de roupa. 23E também enviou a seu pai dez jumentos carregados com os melhores produtos do Egipto e dez jumentas carregadas com trigo, pão e provisões que lhe serviriam para a viagem.

24Despediu-se dos irmãos, quando eles partiram, e disse-lhes: «Não entreis em discussões durante a viagem.»

25Partiram do Egipto e chegaram ao país de Canaã, à casa de seu pai Jacob. 26Disseram-lhe que José ainda era vivo e que governava todo o Egipto, mas o seu coração permaneceu frio, porque não acreditava neles. 27Repetiram-lhe então todas as palavras que José dissera e, quando viu os carros que José enviara para o levar, a vida voltou ao coração de Jacob, seu pai. 28E Israel exclamou: «Meu filho José ainda está vivo! Isso basta-me. Vou vê-lo antes de morrer.»


Gn 46

Jacob emigra para o Egipto (12,10-20; Ex 1,1-7; Mt 2,13-15) – 1Israel partiu com tudo o que lhe pertencia e chegou a Bercheba, onde imolou vítimas ao Deus de seu pai Isaac. 2Deus falou a Israel numa visão, durante a noite, e disse-lhe: «Jacob! Jacob!» Ele respondeu: «Eis-me aqui.» 3E Deus prosseguiu: «Eu sou o Deus de teu pai: não hesites em descer ao Egipto, porque tornar-te-ei ali uma grande nação. 4Eu mesmo descerei contigo ao Egipto; e Eu mesmo far-te-ei voltar de lá; e será José quem te fechará os olhos.»

5Jacob partiu de Bercheba. Os filhos de Israel fizeram subir Jacob, seu pai, assim como as suas mulheres e os seus filhos, para os carros enviados pelo faraó para os transportar. 6Tomaram os seus rebanhos e os bens que tinham adquirido no país de Canaã e foram para o Egipto, Jacob e toda a família. 7Os seus filhos e os seus netos, as suas filhas e as suas netas e toda a sua descendência acompanharam-no para o Egipto.

Família de Jacob (Nm 26,1-51.57-62)8Eis os nomes dos filhos de Israel que entraram no Egipto:

Jacob e seus filhos: Rúben, o primogénito de Jacob, 9e os filhos de Rúben: Henoc, Palú, Hesron e Carmi; 10e os filhos de Simeão: Jemuel, Jamin e Oad, Jaquin e Soar; depois Saul, filho de uma cananeia. 11Os filhos de Levi são: Gérson, Queat e Merari. 12Os filhos de Judá: Er, Onan, Chelá, Peres e Zera. Er e Onan morreram no país de Canaã; e os filhos de Peres foram Hesron e Hamul. 13Os filhos de Issacar foram: Tola, Puvá, Job e Chimeron. 14Os filhos de Zabulão foram: Séred, Elon e Jaliel.

15São estes os filhos que Lia deu a Jacob no território de Padan-Aram, e depois Dina, sua filha. Total dos seus filhos e das suas filhas: trinta e três pessoas. 16Os filhos de Gad foram: Sifion, Hagui, Chuni, Ecebon, Eri, Arodi e Areli. 17Os filhos de Aser foram: Jimna, Jisva, Jisvi, Beria e sua irmã Sera; e os filhos de Beria foram: Héber e Malquiel. 18São estes os filhos de Zilpa, serva que Labão dera a sua filha Lia; foi ela que os deu a Jacob, ao todo dezasseis pessoas.

19Os filhos de Raquel, mulher de Jacob foram: José e Benjamim. 20Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On, deu a José, no Egipto, Manassés e Efraim. 21E os filhos de Benjamim foram: Bela, Bécer, Achebel, Guera, Naaman, Eí, Rós, Mupim, Hupim e Ard. 22São estes os filhos que Raquel deu a Jacob; ao todo catorze pessoas. 23Filho de Dan: Huchim. 24Filhos de Neftali foram: Jaciel, Guni, Jécer e Chilém. 25São estes os filhos de Bila, serva que Labão dera a Raquel, sua filha; foi ela que os deu a Jacob, ao todo sete pessoas. 26E todas as pessoas da família de Jacob e seus descendentes, que entraram no Egipto, além das mulheres dos filhos de Jacob, foram ao todo sessenta e seis pessoas. 27Depois, os filhos de José, que nasceram no Egipto: duas pessoas. Total das pessoas da casa de Jacob que foram para o Egipto: setenta pessoas.

Encontro com José28Jacob mandara Judá adiante encontrar-se com José, para que este preparasse a sua entrada em Góchen. 29Quando chegaram ali, José mandou atrelar o seu carro e foi a Góchen, ao encontro de seu pai. Ao vê-lo, lançou-se-lhe ao pescoço e chorou longamente, entre os seus braços. 30E Israel disse a José: «Agora posso morrer, pois vi o teu rosto e ainda vives!»

31José disse aos irmãos e à família de seu pai: «Vou regressar, a fim de informar o faraó. Dir-lhe-ei: ‘Meus irmãos e toda a família de meu pai, que viviam no país de Canaã, vieram para junto de mim. 32Esses homens são pastores de rebanhos, pois possuem gado; trouxeram o seu gado miúdo e graúdo e tudo o que possuíam.’ 33Quando o faraó vos mandar chamar e disser: ‘Qual é o vosso trabalho?’ 34respondereis: ‘Os teus servos dedicam-se a pastorear os rebanhos, desde a juventude até ao presente. Assim fizeram também os nossos pais.’ Deste modo, podereis viver na província de Góchen, porque os egípcios abominam todos os pastores de gado miúdo.»


Gn 47

Audiência real1José foi dar a notícia ao faraó, dizendo: «Meu pai e meus irmãos vieram do país de Canaã com o seu gado miúdo e graúdo e com tudo o que possuem, e encontram-se na província de Góchen.» 2Depois tomou alguns dos irmãos, cinco homens, e apresentou-os ao faraó. 3E o faraó disse-lhes: «Qual é o vosso trabalho?» Responderam ao faraó: «Os teus servos são pastores, como o foram seus pais.» 4Disseram ainda ao faraó: «Emigrámos para este país, porque os pastos faltam aos rebanhos dos teus servos, e a miséria é muita no país de Canaã. Permite, então, aos teus servos que habitem na província de Góchen.» 5O faraó disse a José: «Teu pai e teus irmãos vieram para junto de ti. 6O país do Egipto está à tua disposição; instala teu pai e teus irmãos na sua melhor província. Que habitem na terra de Góchen e, se vires que entre eles há pessoas de valor, nomeia-os inspectores dos meus domínios.»

7José introduziu Jacob, seu pai, e apresentou-o ao faraó; e Jacob saudou o faraó. 8Este disse a Jacob: «Qual é o número dos anos da tua vida?» 9Jacob respondeu-lhe: «O número dos anos da minha peregrinação é de cento e trinta. Breve e infeliz foi o tempo dos anos da minha vida e não se compara aos anos da vida dos meus pais, aos dias das suas peregrinações.»

10Jacob saudou o faraó e retirou-se da presença dele. 11José instalou seu pai e seus irmãos e concedeu-lhes direitos de propriedade no Egipto, no melhor território, o de Ramessés, como o faraó lhe tinha ordenado. 12E José sustentou seu pai, seus irmãos e toda a casa de seu pai, dando-lhes víveres, de acordo com as necessidades de cada família.

Política agrária de José13Faltava o pão em toda a região; a miséria era muita, e o Egipto e o país de Canaã estavam reduzidos à miséria. 14José recolheu todo o dinheiro que havia no país do Egipto e no de Canaã, em troca do trigo que eles compravam, e fez entrar esse dinheiro no palácio do faraó. 15Quando o dinheiro estava esgotado no país do Egipto e no de Canaã, todos os egípcios se dirigiram a José, dizendo: «Dá-nos pão. Havemos de morrer diante de ti, porque se acabou o dinheiro?» 16José respondeu: «Entregai os vossos animais, e dar-vos-ei pão em troca deles, visto faltar o dinheiro.» 17Trouxeram o gado a José e ele deu-lhes pão em troca dos cavalos, do gado miúdo, do gado graúdo e dos jumentos; e forneceu-lhes alimentação em troca do gado, durante aquele ano.

18Passado aquele ano, vieram novamente ter com José e disseram-lhe: «Não podemos ocultar ao nosso amo que, tendo o dinheiro e o gado passado por completo para o seu poder, só podemos agora oferecer-lhe os nossos corpos e as nossas terras. 19Será que nos vais deixar morrer e deixar perdidas as nossas terras? Torna-te nosso proprietário e das nossas terras, em troca de víveres: nós e as nossas terras seremos pertença do faraó; dá-nos sementes para vivermos e não perecermos, e para que os nossos campos não fiquem desertos.»

20José adquiriu, assim, toda a terra do Egipto para o faraó, pois todos os egípcios venderam os campos, constrangidos como estavam, pela fome. Assim, todo o Egipto ficou a pertencer ao faraó. 21Quanto ao povo, José reduziu-o à servidão, em toda a extensão do território egípcio. 22Contudo, não adquiriu as terras dos sacerdotes. É que os sacerdotes recebiam do faraó uma porção fixa e viviam com essa porção que o faraó lhes concedia, de modo que eles não venderam as propriedades.

23E José disse ao povo: «De hoje em diante, vós, assim como as vossas terras, sereis propriedade do faraó. Aqui estão as sementes para semeardes a terra; 24depois, na altura da produção, dareis um quinto ao faraó; as outras quatro partes servir-vos-ão para semear os campos e para vos sustentardes, assim como à vossa gente e às vossas famílias.»

25Eles responderam: «Tu conservaste-nos a vida! Possamos alcançar o favor do nosso senhor e permanecer servos do faraó.» 26José impôs à terra do Egipto esta contribuição de um quinto, para o faraó, a qual subsiste ainda. Só as terras dos sacerdotes é que foram exceptuadas, porque não dependiam do faraó.

Últimas vontades de Jacob (23, 17-19; 49,29-32; 50,5) – 27Israel estabeleceu-se, então, no país do Egipto, na província de Góchen; os israelitas adquiriram propriedades e multiplicaram-se prodigiosamente.

28Jacob viveu dezassete anos no país do Egipto; o tempo da sua vida foi de cento e quarenta e sete anos. 29Quando os dias de Israel se aproximaram do fim, ele mandou chamar seu filho José e disse-lhe: «Se tens alguma afeição por mim, peço-te que ponhas a tua mão sob a minha coxa para jurar que procederás para comigo com bondade e fidelidade, não me sepultando no Egipto. 30Quando descansar com meus pais, hás-de levar-me para fora do Egipto e enterrar-me no túmulo deles.»

José respondeu: «Farei o que tu dizes.» 31Jacob continuou: «Jura-mo.» Ele jurou, e Israel inclinou-se em adoração à cabeceira da cama.


Gn 48

Efraim e Manassés1Depois destes acontecimentos, vieram dizer a José: «Teu pai está doente.» José partiu, levando com ele os dois filhos, Manassés e Efraim. 2Anunciaram-no a Jacob, dizendo: «O teu filho José vem ver-te.» Israel juntou as suas forças e sentou-se no leito. 3E disse a José: «O Deus supremo apareceu-me em Luz, no país de Canaã e abençoou-me, 4dizendo:

‘Quero que cresças e frutifiques; converter-te-ei numa multidão de povos e darei este país à tua posteridade, depois de ti, como propriedade perpétua.’

5E agora, os dois filhos que tiveste no Egipto, antes da minha vinda para junto de ti, para o Egipto, tornam-se meus. Efraim e Manassés serão meus, como Rúben e Simeão. 6Quanto aos filhos que tiveste depois deles, ficarão para ti: em nome dos seus irmãos, receberão a sua herança. 7Vindo eu de Padan-Aram, Raquel morreu nos meus braços, no país de Canaã, durante a viagem, quando eu estava a certa distância de Efrata; sepultei-a ali, no caminho de Efrata, que é Belém.»

8Israel reparou nos filhos de José e disse: «Quem são estes?» 9José respondeu a seu pai: «São os meus filhos, que Deus me deu neste país.» Jacob replicou: «Aproxima-os de mim, peço-te, para que eu os abençoe.» 10Pois, os olhos de Israel, enfraquecidos pela velhice, já não distinguiam bem. José mandou-os aproximar dele e Israel beijou-os, apertando-os nos seus braços; 11e disse a José: «Não contava tornar a ver o teu rosto e, contudo, Deus mostrou-me também a tua posteridade!»

12José retirou-os de entre os joelhos de seu pai e prostrou-se por terra diante dele. 13Depois, José tomou-os a ambos: Efraim à sua direita, isto é, à esquerda de Israel; e Manassés à sua esquerda, isto é, à direita de Israel; e aproximou-os dele. 14Israel estendeu a mão direita, pondo-a sobre a cabeça de Efraim, que era o mais novo, e pôs a mão esquerda sobre a cabeça de Manassés, apesar de Manassés ser o mais velho. 15Abençoou José, e depois disse:

«Que o Deus, por cujos caminhos
andaram meus pais, Abraão e Isaac,
que o Deus, que velou por mim
desde o meu nascimento até este dia,
16que o mensageiro que me livrou de todo o mal,
abençoe estes meninos.
Que eles possam perpetuar o meu nome,
e o nome dos meus pais, Abraão e Isaac.
Que eles possam multiplicar-se com abundância neste país.»

17José reparou que seu pai tinha a mão direita sobre a cabeça de Efraim e isso desagradou-lhe; levantou a mão de seu pai, para a mudar da cabeça de Efraim para a de Manassés, 18e disse ao pai: «Assim não, meu pai! Pois este é o mais velho. Põe a tua mão direita sobre a sua cabeça.»

19Mas seu pai recusou, dizendo: «Eu sei, meu filho, eu sei; também ele se converterá num povo e também ele será poderoso; mas o seu irmão mais novo será mais do que ele, e a sua posteridade converter-se-á numa multidão de nações.» 20Abençoou-os, naquele dia, e disse: «Israel pronunciará esta bênção, dizendo:

‘Deus te faça como Efraim e Manassés!’»

E pôs, assim, Efraim à frente de Manassés.

21Israel disse a José: «Agora vou morrer. Deus estará convosco e vos reconduzirá ao país dos vossos antepassados. 22Mais do que aos teus irmãos, prometo-te Siquém, que conquistei aos amorreus com a minha espada e o meu arco.»


Gn 49

Bênçãos de Jacob (Dt 33,1-29) 1Jacob mandou vir os seus filhos e disse:

«Reuni-vos, pois quero revelar-vos o que vos acontecerá no futuro.
2Juntai-vos para escutar, filhos de Jacob,
para escutar Israel, vosso pai.
3Rúben, tu foste o meu primogénito,
o meu orgulho e as primícias da minha virilidade,
o primeiro em dignidade,
o primeiro em poder.
4Impetuoso como a onda, não terás a preeminência
porque atentaste contra o leito paterno.
Aviltaste a honra do meu leito.
5Simeão e Levi são irmãos!
As suas armas são instrumentos de violência.
6Não te associes aos seus desígnios, ó minha alma!
Não sejas, ó minha honra, cúmplice da sua aliança!
Porque, na sua cólera, imolaram homens.
E, na sua exaltação, derrubaram touros.
7Maldita seja a sua cólera tão cruel.
E a sua indignação tão funesta!
Quero separá-los, em Jacob.
E dispersá-los, em Israel.
8A ti, Judá, teus irmãos te louvarão.
A tua mão fará curvar o pescoço dos teus inimigos.
Os filhos de teu pai inclinar-se-ão diante de ti!
9Tu és um leãozinho, Judá,
quando regressas, ó meu filho, com a tua presa!
Ele deita-se. É o repouso do leão e da leoa;
quem ousará despertá-lo?
10O ceptro não escapará a Judá,
nem o bastão de comando à sua descendência,
até que venha aquele a quem pertence o comando
e ao qual obedecerão os povos.
11Então, há-de atar-se à vide o seu jumentinho,
e à parreira, o filho da sua jumenta.
O seu vestuário vai ser lavado em vinho,
e a sua túnica, no sangue das uvas.
12Os seus olhos ficarão turvos de vinho,
e os dentes serão brancos de leite.
13Zabulão ocupará o litoral dos mares;
oferecerá portos aos navios.
E a sua praia atingirá Sídon.
14Issacar é um jumento musculoso
que se deita entre as colinas.
15Saboreou o encanto do repouso,
e as delícias do pasto;
entregou os ombros ao jugo
e tornou-se tributário.
16Dan julgará o seu povo,
como qualquer tribo de Israel.
17Dan será uma serpente sobre o caminho,
uma áspide no carreiro:
pica o pé do cavalo,
e o cavaleiro cai de costas.
18Conto com o SENHOR para te auxiliar.
19Gad será assaltado por assaltantes,
mas ele assaltá-los-á pelas costas.
20Quanto a Aser, o seu pão será abundante;
é ele que proverá os prazeres dos reis.
21Neftali é uma corça em liberdade,
que produz formosas crias.
22José é um cavalo selvagem,
um cavalo selvagem à beira de uma fonte.
Ultrapassa os outros ramos ao longo da muralha.
23Exasperaram-no e feriram-no;
odiaram-no os arqueiros orgulhosos.
24Mas o seu arco manteve-se firme
e os músculos dos seus braços permaneceram vigorosos,
graças ao Protector de Jacob,
graças ao Pastor, ao Rochedo de Israel;
25graças ao Deus de teu pai, que será o teu apoio,
e o Deus supremo, que será a tua bênção,
com as bênçãos superiores do céu,
com as bênçãos subterrâneas do abismo,
com as bênçãos dos seios e das entranhas!
26As bênçãos de teu pai,
excedendo as dos meus antepassados,
atingem os limites das montanhas eternas;
e cumprir-se-ão sobre a cabeça de José,
sobre a fronte do eleito entre os seus irmãos!
27Benjamim é um lobo predador:
pela manhã farta-se com a carnificina,
e de tarde repartirá o espólio.»

28São estes os que formam as doze tribos de Israel; e foi assim que seu pai lhes falou e os abençoou, dando a cada um a sua própria bênção.

Morte e sepultura de Jacob29Jacob deu-lhes as suas ordens, dizendo: «Vou juntar-me ao meu povo. Sepultai-me junto dos meus pais, no jazigo que está no domínio de Efron, o hitita, 30no jazigo que está no território de Macpela, diante de Mambré, no país de Canaã, terra que Abraão comprou a Efron, o hitita, para propriedade sepulcral. 31Ali foram enterrados Abraão e Sara, sua esposa; foram lá enterrados também Isaac e Rebeca, sua esposa, e ali enterrei Lia. 32A compra dessa terra e do jazigo que ali se encontra foi feita no país dos hititas.»

33E tendo Jacob ditado aos seus filhos as suas últimas vontades, juntou os pés na sua cama, expirou e reuniu-se a seus pais.


Gn 50

Exéquias de Jacob1José precipitou-se sobre o rosto de seu pai e cobriu-o de lágrimas e de beijos. 2Ordenou aos médicos, seus servidores, que embalsamassem seu pai; e os médicos embalsamaram Israel, 3empregando nisso, quarenta dias, que são os dias precisos para o embalsamamento. Mas os egípcios puseram luto durante setenta dias.

4Quando os dias de luto passaram, José falou assim aos homens do faraó: «Se encontrei o vosso favor, peço-vos que leveis aos ouvidos do faraó estas palavras: 5‘Meu pai fez-me jurar nestes termos: Agora vou morrer: sepulta-me no sepulcro que adquiri no país de Canaã, no meu sepulcro’. Queria, pois, partir; sepultarei meu pai e depois regressarei.» 6O faraó respondeu: «Parte, sepulta teu pai, como ele te fez jurar.»

7E José partiu, a fim de sepultar seu pai. Foi acompanhado por todos os oficiais do faraó, pelos anciãos da sua corte, por todos os anciãos do Egipto, 8por toda a casa de José, por seus irmãos e pela casa de seu pai. Só as crianças e o seu gado miúdo e graúdo é que ficaram na província de Góchen. 9Seguiram-no carros e cavaleiros, e o cortejo foi muito grande. 10Chegando à eira de Atad, situada na margem do Jordão, celebraram ali grandes e solenes funerais, e José ordenou um luto de sete dias, em honra de seu pai.

11Os habitantes do país, os cananeus, presenciaram o luto na eira de Atad e disseram: «Eis um grande luto para o Egipto!» Por isso chamaram Abel-Misraim ao lugar situado no outro lado do Jordão. 12Os filhos procederam a seu respeito exactamente como ele lhes tinha ordenado: 13transportaram-no para o país de Canaã e enterraram-no no jazigo do campo de Macpela, o campo que Abraão comprara, como propriedade tumular, a Efron, o hitita, diante de Mambré. 14Depois de sepultar seu pai, José voltou para o Egipto com os seus irmãos e com todos os que o tinham acompanhado, a fim de sepultar seu pai.

Morte de José15Ora os irmãos de José, depois da morte de seu pai, disseram uns aos outros: «E se José nos guarda rancor? Se vai vingar-se de todo o mal que lhe fizemos sofrer?» 16Mandaram então dizer a José o seguinte: «Teu pai ordenou-nos antes da sua morte: 17‘Falai assim a José: Perdoa, por favor, a ofensa dos teus irmãos, a sua falta e o mal que te fizeram! Perdoa, pois, o seu erro, aos servos do Deus do teu pai!’»

E José chorou quando lhe falaram assim. 18Depois os seus irmãos vieram e caíram aos seus pés, dizendo: «Estamos prontos a tornar-nos teus escravos.» 19José respondeu-lhes: «Não temais; estou eu no lugar de Deus? 20Premeditastes contra mim o mal. Mas Deus aproveitou-o para o bem, a fim de que acontecesse o que hoje aconteceu, e um povo numeroso foi salvo. 21Nada receeis, então! Eu cuidarei de vós e das vossas famílias.» E assim tranquilizou-os e falou-lhes ao coração.

22José residiu no Egipto, com a sua família e a de seu pai, e viveu cento e dez anos. 23Viu os filhos de Efraim até à terceira geração; e os filhos de Maquir, filho de Manassés, nasceram sobre os seus joelhos.

24José disse aos seus irmãos: «Vou morrer! Mas Deus visitar-vos-á, fazendo-vos regressar deste país ao país que prometeu por juramento a Abraão, a Isaac e a Jacob.»

25E José fez jurar aos filhos de Israel, dizendo: «Deus há-de visitar-vos e então levareis os meus ossos deste país.»

26José morreu com a idade de cento e dez anos. Embalsamaram-no e puseram-no num sarcófago, no Egipto.

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