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“Injustiçado”, carregou durante setenta anos o fardo de “ladrão de ovos”, atributo pejorativo explícito no nome de Oviraptor, que foi atribuído a este pequeno e ágil predador, do Cretácico do deserto de Gobi, descoberto na Mongólia, no primeiro quartel do século XX. Aí, mais precisamente nas areias vermelhas, acumuladas em ambiente desértico de há 80 milhões de anos, havia sido encontrado, um ano antes, grande número de esqueletos de Protoceratops e os primeiros ninhos com ovos de dinossáurios, desde logo atribuídos a este pequeno herbívoro. Para além de se ter ficado a conhecer o modo de reprodução destes animais, a atribuição da paternidade destes ovos foi tida, na altura, como um facto incontroverso. Foi perto destes ovos que foi descoberto o esqueleto do referido predador, um dinossáurio com aspecto de ave, grande volume craniano e fortes maxilares, sem dentes, terminados em bico. O quadro então desenhado “inculpou-o” sem apelo. As provas pareciam irrefutáveis. O “ladrão” jazia ali, rodeado do “móbil do crime” – as cascas dos ovos de Protoceratops que comera.

Nos anos que se seguiram muitas foram as incursões paleontológicas nesta região, sendo vasta e diversificada a fauna hoje ali conhecida, contando-se por cerca de meia centena o número de outros dinossáurios nela identificados.

Numa das últimas expedições paleontológicas ao Gobi, em 1993, foi dado conhecimento à comunidade científica do que poderíamos designar por «revisão do processo Oviraptor”. Os achados mais recentes provam que este predador não foi o ladrão dos ovos. Os novos testemunhos ilibam-no, assim, dessa acusação. O conjunto fóssil agora descrito mostra claramente um seu esqueleto muito completo sobre os próprios ovos e em posição de os chocar ou proteger, genuinidade que se garante pelo facto de alguns destes ovos conterem, no seu interior, bem conservados e reconhecíveis, os embriões da mesma espécie, os seus filhotes.

“Inocentado” de uma carga que injustamente transportou por tantas anos, Oviraptor, os seus ovos e um espectacular embrião ainda incluso no seu ovo, qual pequeno sarcófago natural, foram o tema central de uma bela, cuidada e elucidativa exposição trazida em 1997 ao “Natural History Museum” de Londres pelo Centro de Paleontologia da Academia das Ciências da Mongólia.

Esta demonstração da sua inocência foi a reparação de um erro científico, desta vez trazida ao grande público, sempre interessado em tudo o que toca estes animais para sempre desaparecidos.

14 de Março de 2001