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A.M. GALOPIM DE CARVALHO: DINOSSAURO OU DINOSSÁURIO?


Duas expressões e duas grafias para o mesmo conceito.

Têm razão os filólogos quando defendem a grafia dinossauro , retirando-a do grego deinós (terrível) e saurós (lagarto, réptil), pois que desta matéria quem sabe são os seus cultores e mestres. Têm igualmente razão os naturalistas quando, na taxonomia e na nomenclatura zoológica e paleontológica, utilizam as expressões Sauria e Dinosauria ou as suas correspondentes vulgarizadas sáurio e dinossáurio .

Em 1841, o inglês Richard Owen criou o termo Dinosauria para dar nome a um grupo taxonómico, no qual reuniu o conjunto de fósseis de grandes animais com características reptilianas, conhecidos à época. Adoptado pela comunidade científica, o termo acabou por invadir o domínio comum como um dos mais divulgados de toda a nomenclatura biológica.

Os cultores e mestres da filologia sabem, de facto, do seu ofício mas, lamentavelmente, nada ou quase nada das Ciências da Natureza e outras. Tanto assim é que, para alguns deles, “dinossauro é uma espécie fóssil de réptil marinho”.

Em contrapartida, insignes paleontólogos nacionais e estrangeiros, escrevendo em português, têm usado desde sempre a grafia dinossáurio. Entre eles salientam-se nomes como Jacinto Pedro Gomes, Georges Zbyiszewski, Carlos Teixeira e a maioria dos autores actuais com maior número de trabalhos publicados nesta matéria, realidade que não pode deixar de ser tomada em consideração. Dinossáurio é, ainda, a versão utilizada em Espanha, quer pelos cultores das Ciências quer pelos das Letras. Assim, se existem razões linguísticas para dizer e escrever dinossauro , não é menos verdade que se impõe respeitar a nomenclatura adoptada por quem trouxe e traz à luz do conhecimento estes ainda enigmáticos representantes do mundo vivo de há muitos milhões de anos.

Consagrada em 1890, por Morais, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, a versão dinossauro ficou assim validada entre os estudiosos da língua. Mas os dicionários não têm força de lei, não devendo esquecer-se que quem faz a língua é quem a utiliza. Tendo em consideração as duas posições, o recente Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia de Ciências de Lisboa, valida as duas expressões. Assim, que cada um diga e escreva como quiser, mas que se saiba que o termo adoptado por Morais, amplamente preferido pelos meios de comunicação social e eleito pela classe literária dita culta, não é nem mais correcto nem mais legítimo do que o outro. .