JÁ VISTE A MINHA GRAVATA DE GALOPINS?
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TRIPLOV : - Portanto nada de Tyranosaurus em Portugal... A.M. GALOPIM DE CARVALHO : - Não, não há vestígios de Tyranosaurus em Portugal nem na Europa, nem em nenhuma outra parte do mundo, para além da América do Norte e Ásia oriental. TRIPLOV : - Um dos principais monumentos do Cretácico no nosso país é a jazida de Carenque, onde os sinais da passada existência de dinossauros não é constituída por peças ósseas, sim por icnofósseis. Quer explicar-nos o que isso é? A.M. GALOPIM DE CARVALHO : - Sim, icnofósseis, do grego ichnos, que quer dizer vestígio, marca, impressão... Ao passar sobre um terreno brando, lamacento, neste caso uma laguna litoral, um grande herbívoro bípede, talvez um ornitópode, deixou marcas sob a forma de pegadas ao longo de um trilho de mais de 130 metros. No mesmo local e na mesma época, há ainda uma pista com pegadas tridáctilas de um carnívoro bípede - terópode - de médio porte. É o mais moderno dos vestígios destes animais entre nós e um dos mais longos. TRIPLOV : - Como era a paleogeografia do Cretácico? A.M. GALOPIM DE CARVALHO : - Um grande e único supercontinente, a Pangea, começou a fragmentar-se no início da Era Mezozóica, processo ainda em curso no Cretácico. Nessa época, um oceano recém-criado e ainda muito estreito começava a isolar terras até então contíguas e a separar definitivamente as populações da América do Norte das da Eurásia. TRIPLOV : - Quais as razões invocadas pelos paleontólogos para o desaparecimento de dinossauros como Tyranosaurus rex? A.M. GALOPIM DE CARVALHO : - Uma parte muito significativa da comunidade científica, neste domínio do saber, defende a teoria segundo a qual um mega-impacte produzido por um asteróide ou um cometa, da ordem da dezena de quilómetros de diâmetro, criou condições que levaram à rápida extinção de três quartos (75%) dos grupos biológicos de então. Entre essas condições dá-se relevo ao obscurecimento da atmosfera, às perturbações no clima global, às chuvas ácidas, etc.. Tyranosaurus rex e todos os dinossáurios seus contemporâneos desapareceram durante esta crise biológica, referida como uma "extinção em massa". TRIPLOV : - Os dinossauros devem ser muito diferentes uns dos outros, não só por uns serem herbívoros e outros carnívoros, uns da altura de prédios e outros do tamanho de aves, mas porque em alguns o comportamento parece aproximar-se do dos mamíferos, por exemplo no cuidado dispensado às crias pelos pais. Mamíferos e aves tratam dos filhotes, os répteis, em geral, não. Além da oviparidade, é conhecido entre eles algum outro modo de reprodução? A.M. GALOPIM DE CARVALHO : - Sabemos hoje que os crocodilos cuidam dos seus filhotes e os vigiam nos primeiros tempos de vida. Conhecem-se umas oitocentas espécies de dinossáurios. Entre um tão elevado número, certamente muito inferior ao das que existiam (ainda por descobrir e estudar), o número de casos de que se conhece o modo de reprodução é mínimo, inferior a uma dezena, todos eles indicadores de oviparidade. TRIPLOV : - O Prof. Galopim é conhecido por ser o homem dos dinossauros em Portugal, apesar de a sua actividade neste domínio ter sido sobretudo a de popularização do conhecimento científico e luta com as autoridades para a preservação dos geomonumentos. Qual é o saldo actual da situação? A.M. GALOPIM DE CARVALHO : - O saldo tem sido positivo. O processo tem decorrido com muita lentidão mas a passos firmes. Já se salvaram do betão e do asfalto muitos geomonumentos. A Jazida da Pedreira da Galinha, na Serra d'Aire, é um exemplo de que nos devemos orgulhar. A de Carenque continua a ser objecto de uma luta muito difícil e longa (já dura há 12 anos), mas estou certo que irá ter o desfecho digno e feliz a que tem direito. |