GEOMONUMENTOS
DE LISBOA








EXTRACTOS DE:
JAZIDA DE BRIOZOÁRIOS DO MIOCÉNICO INFERIOR DE LISBOA
Pólo Sampaio Bruno
Por A.M. Galopim de Carvalho
Edição do Museu Nacional de História Natural
Patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa - 2000

II - OS BRIOZOÁRIOS

Os briozoários são invertebrados coloniais muito simples, munidos de uma cavidade digestiva, ou celoma, e, por isso, ditos celomados. De início, confundidos com os celentrados, especialmente pelo aspecto exterior das colónias, originando associações recifais. São hoje considerados como constituindo um phylum distinto, designado por Polyzoa (Thompson, 1830) e, um ano mais tarde, por Bryozoa (Ehrenberg, 1831 ), nome que radica no étimo grego bryón, que traduz a ideia de musgo. Mosstierchen, em alemão, e moss animais, em inglês, estes animais de aspecto musciforme são, na maioria, marinhos, de águas pouco profundas, não ultrapassando, em regra, os 200 m, sendo conhecidos alguns grupos adaptados a meios lagunares, estuarinos e fluviais. Individualmente muito pequenos (na ordem do milímetro) são constituídos por um organismo rudimentar, o polipídeo, alojado numa câmara de natureza quitinosa ou calcária, a zoécia. No conjunto, zoécia e polipídeo formam o zoóide, ou seja, um indivíduo morfológica e fisiologicamente distinto, parte integrante da colónia ou zoário.

Os briozoários foram observados e representados por E. Imperato, em 1599, na sua obra 'De//a Historia Naturae" e, um pouco mais tarde, por Venetia, em 1672, no seu livro "Historia Naturale': Numa época em que se não conhecia bem a sua posição sistemática, estes animais foram assinalados no "lndex Testorum Conchiliorum': por Gualteri, em 1742, Pallas (1716) dedicou-lhes alguma atenção, e Lineu inclui-os na 10ª edição do seu "Systhema Naturae'; em 1758.

São hoje conhecidas mais de 4 000 espécies actuais, a viverem, sobretudo, nos mares de todas as latitudes, e um número ainda maior de espécies fósseis, cerca de 16 000, distribuídas entre o Ordovícico, no Paleozóico inferior, há cerca de 480 milhões de anos, e os tempos actuais. Os estudos relativos à paleontologia dos briozoários, em Portugal, tiveram lugar, praticamente, a partir dos anos sessenta (1), com incidência nas faunas do Miocénico e do Pliocénico, estudos esses que trouxeram para a ciência o conhecimento de pouco mais de 60 espécies entre as quais 21 descritas na jazida de Campo de Ourique.

No que se refere às faunas miocénicas, o seu estudo incidiu sobre vários afloramentos de naturezas diversas (calcários argilosos, arenitos calcários e siltitos) escalonados entre o Aquitaniano e o Serravaliano da cidade de Lisboa (Campo de Ourique, Av. 5 de Outubro, Areeiro, Encarnação) e dos seus arredores (Cacilhas, Palença, Almada, Trafaria, Praia do Penedo, Carcavelos, etc.). As faunas do Pliocénico distribuem-se entre as ocorrências de formações sedimentares desta idade nas regiões de Caldas da Rainha (Casal do Negrelho, Nadadouro e Águas Santas), Salir do Porto, São Pedro de Muel (Senhora da Vitória) e Pombal (Carnide, Vale Farpado e Vale de Cabra).

Como quaisquer seres vivos, também os briozoários se organizam segundo as regras da sistemática biológica, numa hierarquia iniciada no phy/um, que reúne classes, estas divididas em ordens e em sub-ordens, que comportam famílias, conjuntos estes que reúnem indivíduos genericamente afins, os géneros, entre os quais reconhecemos espécies, subespécies, variedades, numa minúcia própria do rigor científico e da insatisfação sempre presente em qualquer ciência. Exemplifiquemos com o Homem, ou melhor, com o Homo sapiens, que é a única espécie do género Homo, um hominídio, entre os primatas, um conjunto bem distinto dos restantes mamíferos, que, com as aves, os peixes, etc., constituem os vertebrados, expressão talvez mais visível da diversidade animal, mas grandemente suplantada pela dos invertebrados, o outro grande conjunto de animais, onde, a par dos moluscos, dos insectos e de muitos outros, se situam os briozoários.

(1) Um único trabalho, mais antigo, data de 1945 e deve-se ao Prof. M. Montenegro de Andrade, da Universidade do Porto, no qual são descritos dois géneros do Devónico inferior de Laúndos, no norte de Portugal: Feneste//a e Archimedes.