Porque, para mim, este assunto não está encerrado e
porque quero ver no governo de António Costa algo muito diferente, para
melhor, do sufoco que foi o anterior de má memória, insisto em
manifestar o meu repúdio à solução “caso encerrado” no que se refere ao
escândalo das viagens pagas pela Galp a ilustres membros do governo para
assistirem a jogos do Euro 2016, no passado mês, em França.
A minha opinião vale o que vale. É apenas uma entre
as muitas que tenho lido e é muito clara. No meu entender a política é
um um ramo importante e respeitável das ciências humanas, que se estudam
e ensinam nas universidades, da qual não tive escola. No que diz
respeito à política partidária, entendo-a como habilidade que visa
manipulá-la ao sabor dos interesses, nem sempre confessados, dos grupos
que a cultivam ou dela se servem. Nesta convicção nunca por esta me
senti atraído nem nela me deixei envolver. E foram vários os convites
que tive.
Foi como cidadão independente dos aparelhos
partidários que, durante a campanha eleitoral das últimas legislativas,
me pronunciei publicamente a favor de uma união do PS com os partidos à
sua esquerda, que sempre vi como a única possibilidade de pôr fim à
política de empobrecimento e de submissão a uma Europa dos mercados e do
insaciável mundo do dinheiro, levada a cabo pelo governo PSD-CDS. Foi e
é público o meu apoio a António Costa, que conheço pessoalmente há
muitos anos e por quem tenho a maior estima, e à solução que com o PCP,
o BE e o PEV, inteligentemente, souberam criar e que, como é bem
visível, felizmente, funciona.
Não esqueço, pois, a desastrosa intervenção
televisiva de ontem, do ministro Augusto Santos Silva, defendendo o
indefensável. Com esta solução de dar o caso por encerrado, o Primeiro
Ministro, ao não desautorizar o seu substituto em tempo de férias, chama
a si a lamentável decisão, o que belisca a seriedade que lhe reconheço.
Mas esta situação tem, em minha opinião, implicações
políticas na relação institucional do Primeiro Ministro com o Presidente
da República e está ainda por resolver. Com toda a certeza, este ”deixa
andar” no interior do Governo, desagradou a Marcelo Rebelo de Sousa,
deixando-o numa situação deveras desconfortável. E, das duas, uma, ou o
Presidente “olha para o lado” e desilude, assim, todos quantos, e são
muitos, têm dele uma ideia de seriedade e rigor ético, ou insiste na
demissão dos secretários de estado envolvidos, dando concretização a um
imenso clamor que então se levantou, criando um primeiro grande problema
a António Costa no relacionamento com o seu número dois.
Tudo isto se tinha resolvido a bem de todos e da
dignidade do Estado, se os Senhores
Secretários em causa tivessem, oportunamente, pedido a demissão.
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