Desde os tempos mais remotos que o mundo dos
minerais tem despertado a curiosidade e o interesse dos nossos
antepassados. A utilização intensiva do sílex, do quartzo, da
calcedónia, da obsidiana (vidro vulcânico), entre outros, na feitura de
utensílios vários e de objectos de adorno e votivos, permite-nos
concluir que o homem pré-histórico assimilou algumas das propriedades
destes materiais, que os procurou sistematicamente e que, portanto, lhes
dispensou tratamento racional, certamente rudimentar, que podemos
aceitar como um esboço de actividade científica.
Conheceu a argila (barro), a sua plasticidade
quando misturada com a água e o seu endurecimento pelo fogo, o que lhe
permitiu usar os primeiros recipientes (vasos e outros) manufacturados.
Os pigmentos minerais usados nas pinturas rupestres do Paleolítico
superior revelam que os soube encontrar e tirar deles o efeito
pretendido. Os múltiplos objectos de ouro, cobre, bronze e ferro que têm
sido encontrados mostram que prospectou, explorou e ensaiou as
correspondentes metalurgias, milhares de anos antes dos sumérios,
chineses e egípcios terem iniciado a arte de escrever e muitos mais
antes de a ciência lhes ter prestado atenção. Desses tempos
pré-históricos fala-se hoje de Idade da Pedra, Idade do Cobre, Idade do
Bronze, ou de Idade do Ferro.
No Livro das Pedras, de Aristóteles (384-322 aC), que se julga não ser da autoria deste filósofo, mas sim uma
compilação das suas ideias, feita por um anónimo, provavelmente um árabe
posterior ao século IX, distinguem-se gemas, pedras comuns, metais e
sais e disserta-se sobre a influência dos astros, em geral, e do Sol, em
particular, no nascimento destes objectos naturais. A sua visão sobre as
”influências celestiais” defendia que, sob o efeito dos raios solares,
certas exalações eram susceptíveis de gerar pedras (minerais). Na visão
do filósofo os minerais surgiam e desenvolviam-se à superfície e no
subsolo, por efeito de “virtudes petrificantes” (mineralizadoras)
originárias do céu e dos diversos corpos celestes, nomeadamente os
planetas e as estrelas, entre as quais o Sol tinha papel de destaque.
Foi,
no entanto, com Teofrasto (372-287 aC), que surgiu o primeiro tratado
sobre as pedras, tido como a primeira obra escrita acerca de minerais,
rochas, minas e metalurgia, num tempo em que não se fazia a separação
entre minerais e rochas. A este discípulo de Aristóteles se deve a
primeira classificação mineralógica, com base nas respectivas utilidades
como minérios, pedras de construção e ornamentais (cantaria,
estatuária), pedras preciosas e pigmentos, tendo descrito vários tipos
de minerais. Espécies como cinábrio, auripigmento, hematite, selenite
(gesso) e antrax já eram conhecidas.
Antrax, do grego
“anthrax” (sinónimo de carbúnculo ou brasa de carvão), foi o termo
utilizado por Teofrasto. Aludia a pedras vermelhas, semelhantes ao
carvão em brasa, entre as quais, o rubi, a
espinela vermelha e a granada da mesma cor, como a almandina e o piropo.
Os
seus ensinamentos neste domínio mantiveram-se durante cerca de dezoito
séculos, até finais da Idade Média. Houve, no entanto, um longo caminho
percorrido, no domínio do conhecimento destas substâncias, das suas
natureza e constituição, cujos primórdios se perdem nas civilizações
mais antigas, com destaque para a chinesa, a babilónica, a hindu e a
egípcia.
Em
Roma, Caius Plinius Secundus, mais conhecido por Plínio, o Velho (23 –
79 d.C.), uma das vítimas da histórica erupção do Vesúvio, tem lugar de
destaque através da sua monumental
História Natural, em 37 volumes. Aí se encontram algumas descrições
de “pedras”, em especial das utilizadas como pigmentos, como minérios e
como gemas. São dele, entre outros, os termos
silex,
sablum (areia),
calcarius (calcário), succinum
(âmbar), bitumen (betume),
lapis specularis (gesso em
placas transparentes e brilhantes, ou seja, a variedade selenite,
creta (cré) e carbunculus
(nome dado
ao rubi, à espinela vermelha e à granada da mesma cor, como a almandina
e o piropo.),
sinónimo de anthrax, uma vez que este termo latino evoca uma pequena
brasa incandescente.
Nesta
caminhada da mineralogia no sentido de uma verdadeira ciência, há que
dar o devido destaque à alquimia, trazida pelos árabes, seus cultores,
sob a designação de “al kimia”.
Surgida
no extremo Oriente e chegada à Grécia através
do Egipto, a alquimia teve em Roma a protecção de Calígula (12-41 dC),
tendo-se espalhado pela Europa, incluindo, naturalmente, a
Península Ibérica.
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