REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE

 

 

 

 
 

A.M. GALOPIM DE CARVALHO

Já começou o novo ano lectivo

Sem problemas de maior aí está o novo ano lectivo e verifico com apreensão que os novos programas referentes aos 10º, 11º e 12º anos da disciplina “METAS CURRICULARES DE GEOLOGIA - Curso científico-humanístico de Ciências e Tecnologias”, cujas linhas gerais estão delineadas e que conheço no pormenor, elaborados por uma equipa a que, de facto, reconheço competência científica e pedagógica, continuam amordaçados, algures numa gaveta do Ministério… 

Já o disse aqui, noutros escritos e onde quer que tenha sido ou seja chamado a falar, que o professor deve saber muito, mas muito mais do que o estipulado no programa da disciplina que tem, por ofício, de ensinar. E esse muito mais está na abrangência dos seus conhecimentos, não necessariamente especializados ou de ponta (indispensáveis no ensino superior), mas ao nível de uma sólida cultura científica e humanística. E isso vem de trás, da formação cívica que adquiriu, do modo como passou pela escola, pela universidade e do proveito que tirou desse privilégio, numa sociedade plena de desigualdades como tem sido a nossa. Mas esses conhecimentos, todos sabemos, estão ao seu alcance nas bibliotecas das escolas e outras e, agora mais do que nunca, na inesgotável, imediata e acessível via “on line”.

Para tal, os professores necessitam de tempo e, desgraçadamente, forçados a múltiplas tarefas paralelas do ensino, tempo é coisa que os professores não têm. Afigura-se-me, pois que, para além de uma necessária e profunda revisão de tudo o que se relacione com o ensino desta área curricular (e, certamente, de outras), há que libertar os professores de, praticamente, todas as tarefas que não sejam as de ensinar. Uma tal revisão, como já o afirmei, a começar nos programas, tem de repensar o complexo problema dos livros e outros manuais adoptados (que envolve interesses instalados), a formulação dos questionários nos chamados pontos de exame, sem esquecer a necessária e conveniente formação dos respectivos professores.

 

A.M. Galopim de Carvalho. É professor catedrático jubilado pela Universidade de Lisboa, tendo assinado no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências desde 1961. É autor de 21 livros, entre científicos, pedagógicos, de divulgação científica e de ficção e memórias. Assinou mais de 200 trabalhos em revistas científicas. Como cidadão interventor, em defesa da Geologia e do património geológico, publicou mais de 150 artigos de opinião. Foi diretor do Museu Nacional de História Natural, entre 1993 e 2003, tempo em que pôs de pé várias exposições e interveio em mais de 200 palestras, pelo país e no estrangeiro.
Blogue: http://sopasdepedra.blogspot.com/