Os solos de Portugal
O
conhecimento sistemático dos solos de Portugal teve início nos anos
cinquenta do século XX com os trabalhos inerentes à elaboração da Carta
dos Solos de Portugal na escala de 1:50 000 e da Carta de Capacidade e
Uso do Solo, na mesma escala. Destes trabalhos resultou, ainda, uma
sistemática dos solos nacionais, editada pelo antigo Serviço de
Reconhecimento e de Ordenamento Agrário (SROA), actual Centro Nacional
de Reconhecimento e Ordenamento Agrário (CNROA). Nesta carta que, na sua
concepção e bases de classificação, reflecte a “filosofia” da
agricultura nacional em
meados do séc. XX., são propostas como categorias taxonómicas: ordens,
subordens, grupos, subgrupos, família e séries.
À semelhança
das cartas ou mapas geológicos, os pedólogos elaboram cartas ou mapas
dos solos nas quais se desenham, a uma dada escala, e se explicam as
unidades pedológicas (unidades-solo) consideradas, para o efeito,
pertencentes a um escalão taxonómico compatível com essa escala. Assim,
, quanto maior for a escala adoptada, maior será a pormenorização e,
portanto, mais baixa será a categoria taxonómica da unidade
cartografada. Na Carta dos Solos de Portugal, a unidade–solo adoptada é
a família. Em complemento da parte gráfica, há uma parte descrita
versando todos os elementos susceptíveis de possibilitar e, até,
valorizar a leitura da carta, entre os quais, por exemplo, indicações no
sentido da sua melhor utilização para fim agrícolas, planeamento, etc..
Todavia, nas notas que aqui deixamos à disposição do leitor, apenas
serão referidas os primeiro e segundo escalões hierárquicos, num caso ou
noutro o terceiro (grupos), dado que são estes que definem e
caracterizam os grandes tipos de solo.
I – SOLOS INCIPIENTES (ordem)
– Solos não evoluídos, praticamente reduzidos à capa de alteração da
rocha-mãe, sem horizontes pedológicos bem diferenciados. Inclui quatro
subordens.
1.-
Litossolos – de muito
pequena espessura (
10cm), esqueléticos, derivados de rochas consolidadas.
2.-
Regossolos – de muito
maior espessura, derivados de rochas arenosas e areníticas não
consolidadas. (Do
grego regos, cobertura).
3.-
Aluviossolos – instalados
sobre aluviões, não embebidos de água (não hidromórficos). Podem
separar-se em dois grupos: Modernos e Antigos.
4.-
Coluviossolos ou
de
sopé – instalados na base
das vertentes
II – SOLOS LITÓLICOS –
Designação proposta por Botelho da Costa para os solos pouco evoluídos,
derivados de rochas não carbonatadas, com duas subordens:
1. -Solos litólicos
húmicos – com
epipédon úmbrico
(do latim, umbra, sombre).
2. -Solos litólicos
não
húmicos - sem epipédon
úmbrico.
III – SOLOS CALCÁRIOS – Solos
pouco evoluídos derivados de rochas carbonatadas, com duas subordens:
1.-
Solos calcários pardos –
de cores castanho-escuras.
2.-
Solos calcários vermelhos
– de cores vermelhas e avermelhadas.
IV – BARROS – Solos
evoluídos, muito argilosos, com três subordens.
1.-
Barros pretos – de cor
negra, geralmente muito escuros, como acontece com os barros de Beja,
bem conhecidos como campos de trigo.
2.-
Barros pardos – escuros,
acastanhados.
3.-
Barros castanho-avermelhados –
de tons variados.
V – SOLOS MÓLICOS – Solos
evoluídos com epipédon mólico
(do
latim, mollis, fofo, macio).
1.-
Castanozemes - próprios de
climas secos de regime xérico (do
grego xeros, seco).
As rendzinas são castanozemes
(do latim castanea, castanha, e do russo
zemlja, solo.),
ricos de carbonato de cálcio.
VI –
SOLOS ARGILUVIADOS – Termo introduzido por J. Carvalho Cardoso na
literatura pedológica internacional. Dele foi retirada a designação
luvisol adoptada na Carta dos
Solos do Mundo (FAO – UNESCO). Correspondem a solos evoluídos comuns nas
regiões mediterrâneas, com duas subordens:
1.-
Solos mediterrâneos pardos
– de cores pardacentas.
2.-
Solos mediterrâneos vermelhos ou
amarelos – de cores avermelhadas ou amareladas. Alguns destes
solos derivam de rochas-mãe calcárias, sendo conhecidos por
terra rossa, de que temos bons
exemplos em associação com os mármores de Vila Viçosa – Estremoz -
Borba.
VII – SOLOS PODZOLIZADOS –
Solos evoluídos, com diferenciação de um horizonte espódico. Inclui duas
subordens:
1.-
Solos podzolizados
não
hidromórficos – sem características de embebimento de água
(encharcamento).
2.-
Solos podzolizados hidromórficos
– com características próprias de hidromorfismo.
VIII – SOLOS HALOMÓRFICOS –
Com excesso de sais solúveis.
1.-
Solos salinos – em geral,
com cloreto de sódio.
IX – SOLOS HIDROMÓRFICOS –
Com encharcamento temporário ou permanente de água, sujeitos a gleização
(do
russo gley, termo que refere
uma massa de solo resultante da redução do ferro pela matéria orgânica.)
, com duas subordens:
1.-
Sem horizonte eluvial.
2.-
Com horizonte eluvial
(planossolos).
X – SOLOS ORGÂNICOS HIDROMÓRFICOS
– Solos com epipédon hístico (do
grego histós, tecido
orgânico),
em condições de saturação de água.
1.-
Solos turfosos – com
horizontes de matéria sáprica (apodrecida).
Convidado a participar na Carta de Solos do Mundo, na escala 1/5 000
000, Portugal contribuiu com a Carta de Solos de Portugal, na mesma
escala. Para tal houve que estabelecer correspondência entre as unidades
taxonómicas adoptadas pela FAO e as utilizadas no CNROA, na Carta do
Solo de Portugal 1/50 000. Assim, às unidades pedológicas adoptadas pela
organização da Unesco (à esquerda) correspondem as respectivas
designações taxonómicas do CNROA (à direita).
Luvissolos
- solos argiluviados pouco insaturados. Do latim
luere, lavar.
Planossolo
- planossolos.
Podzóis
- solos podzolizados.
Lixissolos
- solos mediterrâneos não calcários, com materiais lateríticos. Do latim
lixiviare, lavar.
Alissolos
- solos argiluviados muito insaturados. Do latim
alumen, alumínio, elemento essencial na composição das argilas.
Histossolos
- solos orgânicos hidromórficos.
Fluvissolos
- aluviossolos e coluviossolos.
Gleyssolos
- solos hidromórficos sem horizonte eluvial.
Leptossolos
- litossolos, rankers e rendzinas. Do grego
leptós, delgado.
Arenossolos
- regossolos psamíticos.
Vertissolos
– barros. Do latim vertere,
entornar, verter.
Cambissolos
- solos calcários.
Calcissolos
- solos calcários.
Kastanozems
– castanozemes.
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