Classificação dos solos
As classificações, ainda que
obedecendo a critérios diferentes, escolhidos em função de cada caso,
têm como principal propósito ordenar o conhecimento com vista a destacar
as relações existentes entre os objectos ou os materiais classificados,
e, como fim último, avançar no desconhecido.
De tudo o que tem sido exposto, ficou
clara a estreita relação existente entre a génese, a evolução e a
natureza dos solos por um lado, e o clima das regiões onde estes
ocorrem, por outro. Assim, como na meteorização e pelas mesmas razões,
existe um certo paralelismo entre a zonalidade climática (quer a
definida em latitude, quer a determinada pela altitude) e a zonalidade
dos solos. E, na medida em que os minerais argilosos são componentes do
solo transformados ou neoformados pelos agentes externos, também eles
reflectem, nas respectivas naturezas, estreita relação com o clima,
contribuindo para acentuar o referido paralelismo.
Com base neste paralelismo, acentuado
há pouco mais de um século pelo pedólogo russo Leonild Sibirceff (1898),
já citado atrás, pode esquematizar-se uma classificação dos solos que,
não só põe em evidência um tal condicionalismo, como tem a vantagem de
relacionar o solo com os processos supergénicos e atribuir-lhe os
correspondentes significado e importância no âmbito da geologia.
A
– SOLOS ZONAIS – Também
referidos por solos térmicos,
correspondem, por definição, a solos em equilíbrio com o clima, isto é,
solos cujas principais características são consequência do clima da
região onde se encontram.
1 - Solos polares
– são solos muito pouco evoluídos, imaturos, praticamente reduzidos a
capas de meteorização (alteritos ou rególitos), em que predomina a
desagregação. Estes solos estão normalmente sujeitos a um regime
alternante de gelo e degelo da “camada” mais superficial (molissolo),
estando a parte mais profunda permanentemente gelada (pergelissolo ou
permafrost). Em tais
condições, apenas se desenvolvem líquenes, musgos e raras plantas de
raízes muito superficiais.
2 - Solos podzólicos
ou
podzóis – também ditos
solos húmicos brutos, são próprios das regiões frias e húmidas, com
temperaturas médias anuais entre 0 e 8ºC e pluviosidade abundante,
superior à evapotranspiração (1).
Nestas regiões, onde dominam as florestas de coníferas (taiga), os solos
adquirem qualidades acidificantes (pH<4) e complexantes que conduzem à
cheluviação, de que resulta concentração residual de sílica. Nos solos
sujeitos a estas condições, a matéria orgânica forma complexos de
alumínio e de ferro (quelatos ou chelatos) hidrossolúveis, permitindo,
assim, a migração destes dois elementos, deixando um resíduo rico em
sílica. O perfil deste solo mostra um horizonte inferior com o aspecto e
a cor da cinza e, daí, o seu nome, derivado do russo
pod (inferior) e zola
(cinza). São ainda destas regiões os solos da tundra (2)
e das turfeiras boreais (3).
3 - Solos pardos e negros
– Nas latitudes médias, temperadas húmidas e sub-húmidas, com
temperaturas médias anuais entre 8 e 15ºC, os solos são mais evoluídos
e, portanto, mais ricos em húmus, o que lhes confere a cor escura que os
caracteriza. Para além do húmus, são significativos os teores de argila
e de matéria orgânica não humificada. No que se refere à componente
argilosa, em parte dependente da natureza da rocha-mãe, há condições
ambientais para a neoformação sobretudo de clorite, ilite, esmectites e
interstratificados vários. Nestes solos, ditos húmicos, podem
distinguir-se: solos pardos
a
negros
da
floresta caducifólia (de
folha caduca), próprios das regiões de maior pluviosidade e temperatura
mais constante ao longo do ano;
solos pardos
a negros
da
pradaria, nas grandes
planuras de vegetação herbácea e de gramíneas do continente
norte-americano; solos
pardos
a negros
da
estepe, com vegetação
igualmente herbácea e de gramíneas, dos extensos plainos da Ásia
Central. Muitas vezes estes solos contêm carbonatos de cálcio, o que
caracteriza um tipo muito particular descrito na estepe russa, referido
por
chernozem
(4). Neste processo,
conhecido por calcificação, diferencia-se um horizonte rico em
carbonatos (calcite e ou dolomite) que tendem a ascender, por
capilaridade, para níveis mais superficiais. Este enriquecimento tem
lugar em regiões continentais, interiores, de climas frios e
relativamente secos, todavia com precipitações superiores à
evapotranspiração. Concomitantemente há concentração de matéria orgânica
e formação de húmus. A calcificação é uma característica dos solos das
referidas pradarias e estepes. Na fracção argilosa predominam as
esmectites, a ilite e os interstratificados ilite-montmorilonite.
4 - Solos
vermelhos
mediterrâneos – Nas
regiões temperadas sub-húmidas, de baixa latitude (subtropicais), de
floresta de folhagem perene, predomina a rubefacção. São os solos
característicos das regiões envolventes do Mediterrâneo, com
temperaturas médias anuais entre 15 e 20 ºC e uma estação seca bem
marcada no verão e pluviosidade no inverno. O solo enriquece em óxido de
ferro (hematite), o que lhe confere a característica cor vermelha. Este
processo permite alguma lixiviação das bases durante a estação húmida e
enriquecimento do horizonte B em argilas, no geral caulinite e ilite. O
horizonte A empobrece em húmus.
No Alentejo abundam os solos
vermelhos, quer sobre rochas xistentas, quer sobre rochas calcárias,
como são os mármores, onde a carsificação (5)conduziu à formação de uma
argila residual de intensa cor vermelha conhecida por
terra rossa
(6).
5 - Solos
subdesérticos
– Próprios das regiões subáridas ou xéricas (7),
tropicais, com pluviosidade inferior a 250 mm/ano, muito pobres, ou
praticamente desprovidos de argilas e de matéria orgânica. São propícios
à formação de crostas calcárias (calcretos) e siliciosas (silcretos).
São próprios destas regiões os pedocals, ricos em carbonato de cálcio, como os descreveu o
geopedólogo americano C. F. Marbut, em 1927. Nas regiões mais áridas
(hiperáridas), não há solo no sentido pedológico do termo. A rocha sã
(inalterada) aflora por todo o lado e mesmo que exista uma capa de
desagregação (rególito) é sempre muito delgada e não tem, via de regra,
nem matéria orgânica nem argila.
6 -
Solos vermelhos
intertropicais – Nas
zonas vizinhas do equador e dos trópicos, entre, aproximadamente, os
paralelos 30º N e 30º S, com pluviosidade superior a 1000 mm/ano e
temperaturas médias anuais acima de 20ºC, domina a ferralitização. Este
tipo de solo, passível de formação sobre, praticamente, qualquer tipo de
rochas (excepção feita aos quartzitos), corresponde aos
pedalfers de Marbut e necessita de uma estação quente e
suficientemente pluviosa (que permita a hidrólise dos silicatos, a
mobilização do ferro e a completa evacuação das bases), alternante com
uma estação seca que possibilite a oxidação da matéria orgânica e
consequente imobilização do ferro. Tal imobilização conduz à
ferralitização, isto é, à formação de óxido vermelho (hematite) e ou de
hidróxidos de ferro (goethite) com colorações variáveis entre o
amarelado e o acastanhado mais ou menos escuro. A sílica é parcialmente
libertada e a parte que resta combina-se com a alumina para formar
argilas (caulinite, essencialmente). Havendo alumina em excesso
formam-se hidróxidos de alumínio. A intensidade da acção bacteriana é
tal que consome grande parte da matéria orgânica, não havendo,
praticamente, produção de húmus. Um caso particular da ferralitização é
a formação de solos ferralíticos ou
lateríticos (8),
uma expressão não usada na actual nomenclatura pedológica, mas que
persiste em virtude do seu interesse económico.
B
– SOLOS INTRAZONAIS – Solos
cujas características pouco ou nada dependem do clima. Num caso (os dois
primeiros) dependem da natureza da rocha-mãe, noutros (os dois últimos)
estão condicionados por deficiente drenagem do terreno.
1 - Rendzinas
– Termo de origem russa para designar os solos calcários, ou
calcimórficos, sobre rocha calcária. O
solum, não diferenciado, resume-se a uma argila calcária
pulverulenta.
2 - Rankers
– Termo alemão para designar solos siliciosos, saibrentos, pobres em
matéria orgânica, gerados sobre rochas ácidas (granitos, gnaisses e
afins), comuns em alta montanha.
3 - Solos
halomórficos
ou
halomorfos – Próprios das
regiões endorreicas em zonas subáridas, onde a precipitação atmosférica
é inferior à evapotranspiração. São solos salinos, isto é, impregnados
de sais, no geral sódicos(carbonatos, cloretos, sulfatos) formando
crostas.
4 - Solos
hidromórficos
ou
hidromorfos – Nas regiões
húmidas alagadas, com matéria orgânica redutora e formação de horizonte
gley, caracterizado pela
existência de manchas coradas, escuras (de ferro ferroso e matéria
orgânica) e descoradas. Neste processo, referido por gleização, há
empobrecimento em oxigénio do horizonte A e consequente diminuição da
actividade biológica.
C
– SOLOS
AZONAIS – São solos imaturos
ou incipientes, praticamente reduzidos ao manto de alteração.
1
- Litossolos – com origem
em rochas consolidadas.
2 - Regossolos – derivados de
rocha não consolidadas, areníticas e arenosas.
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