Estrutura
No propósito de caracterizar e classificar os solos, os pedólogos
criaram o conceito de estrutura
do
solo, uma das suas características mais importantes. Descrita como a
organização espacial dos seus constituintes, envolve não só a forma, a
natureza, a dimensão e o arranjo das partículas simples e dos
agregados (torrões, em
linguagem popular) ou
pedes, mas também a geometria dos vazios, ou seja, as suas
dimensões, formas e distribuição.
No que se refere a esta característica,
alguns autores falam da tessitura,
termo que apenas diz respeito ao arranjo das partículas, e de
pedalidade (1),
que alude à dimensão, à forma e à distribuição dos agregados.
Os agregados são unidades estruturais do solo constituídas por
aglomerados de partículas terrosas (esqueleto), tendo por material aglutinador (plasma), as argilas, os óxidos e hidróxidos de ferro e/ou de
manganês, os hidróxidos de alumínio e o húmus, todos susceptíveis de
migrar no seio do solo. De dimensões variadas, entre os blocos e os
grãos milimétricos, são correntes as formas prismática, lamelar e
granular. No respeitante aos vazios, a caracterização estrutural
considera os existentes entre partículas simples e os que delimitam os
pedes.
Neste capítulo do estudo dos solos, distingue-se a
microstrutura, definida com
recurso ao microscópio petrográfico ou electrónico de varrimento (scanning), e a macrostrutura,
observável em amostra de mão, directamente no terreno.
O conhecimento pormenorizado das estruturas dos solos é fundamental, não
só à correcta classificação destas entidades, mas também à investigação
da natureza da rocha mãe e, em termos práticos, ao conhecimento das suas
capacidades de retenção de água, arejamento, aptidão e produtividade
agrícolas.
Cor
A cor é uma propriedade usada, por vezes, na
caracterização dos solos. Imediatamente perceptível, depende da
rocha-mãe e do clima, dois factores que interagem, gerando substâncias
que lhes dão as tão variadas colorações que lhes conhecemos. Se a
pedogénese altera a coloração do solo relativamente à da rocha-mãe, este
qualifica-se de pedocrómico.
Se não altera a cor original da rocha-mãe, qualifica-se de
litocrómico, como é o caso dos solos instalados sobre os arenitos
vermelhos do Triásico (grés de Silves) e outras séries detríticas do
Jurássico, do Cretácico e do Cenozóico.
A cor do solo constitui um critério de
classificação secundário, auxiliar, dado que são frequentes os solos com
cores convergentes, não obstante terem origens diferentes ou terem
sofrido evoluções distintas. Esta particularidade tem, no entanto,
relativa utilidade quando associada a outros elementos de
caracterização.
Como exemplos de substâncias corantes dos solos,
comecemos pela matéria orgânica que lhes confere tonalidades de cinzento
a negro, em função do teor em que esteja representada. Igualmente negros
são os solos impregnados de óxidos de manganês. Quando misturada a
óxidos de ferro, a matéria orgânica fica acastanhada e os solos dizem-se
pardos. O sexquióxido de ferro (hematite) colora o solo de vermelho
intenso, ao passo que os hidróxidos (entre os quais goethite) são
responsáveis pelas tonalidades amarelas e acastanhadas. Os tons
cinzento-esverdeado e cinzento-azulado têm relação com a presença de
ferro ferroso na constituição de alguns dos seus minerais. Por exemplo,
os solos associados aos depósitos do Miocénico superior da península de
Setúbal (ricos de glauconite, um filossilicato com ferro ferroso, de cor
verde), como são os da região do Meco, tornam-se amarelados logo que se
verifique a meteorização deste
mineral, com produção de hidróxidos férricos. Pelo contrário, em
determinadas condições, a matéria orgânica pode reduzir os óxidos de
ferro e descorar os solos inicialmente avermelhados ou amarelados.
Dado
que conhecemos hoje o comportamento físico e químico das substâncias
corantes do solo em função da temperatura, da humidade, do tipo de
rocha-mãe ou do pH (ao qual estão associados produtos da matéria
orgânica), é, em certos casos, possível estabelecer paralelos no sentido
da formulação das condições geomorfológicas e climáticas que presidiram
à génese de paleossolos.
A
definição da cor dos solos tem recorrido a sistemas de cores
padronizadas (já existentes ou expressamente concebidos para os solos)
no sentido de precisar e uniformizar as descrições dos inúmeros
estudiosos espalhados pelo mundo.
Entre os padrões ou códigos de cor,
destacam-se:
- Munsell Soil Colour Charts
(1905), Baltimore, com 268 cores (mais tarde revista e ainda em uso),
das quais cerca de 200 nos solos;
- Code universel des Couleurs
(1936), de E. Ségny (Paris), com
720 cores, das quais, cerca de 70 figuram nos solos;
- Die kleine Farbmestafel nach
Ostwald (1939), Göttingen, com 672 cores, das quais cerca de 70
existem nos solos;
- Rock color chart (1948), de
E. N. Goddard et al.,
Geol. Soc. Amer., Boulder
(Col., EUA);
- Code EXPOLAIRE
(1956), de A. Cailleux & G. Taylor,
Éd.
Boubée et Cie.
(Paris), com 259 cores, das quais cerca de
250 nos solos. Este código foi concebido para as expedições polares
francesas e tem entre as principais características: quatro cores
próximas em torno de um orifício, atrás do qual se coloca a amostra a
observar; letras em ordenadas e números em abcissas; a identificação da
cor deve ser feita à sombra, longe de objectos ou superfícies coradas e
com a amostra seca.
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