Componente mineral do solo
A fracção mineral
preenche, em média, 80% ou mais do corpo do solo, sendo constituída por
pedras, ou seja, fragmentos da rocha-mãe, e por grãos de minerais dessa
mesma rocha, ditos primários (1), muito, pouco ou nada alterados, e por
minerais ditos secundários (2), tais como, entre outros, os argilosos,
o óxido e os hidróxidos de ferro, os hidróxidos de alumínio e,
ainda, substâncias minerais não cristalizadas (amorfas), como é o caso
da opala (3) e da alofana (4). Um
outro grupo de minerais secundários do solo é representado pelos
que são herdados directamente de uma rocha-mãe de natureza sedimentar,
como são, por exemplo, os minerais argilosos de um solo estabelecido
sobre um argilito ou sobre um xisto, argiloso.
De entre os grãos de
minerais primários, variáveis consoante a rocha-mãe, destacam-se:
(a) o quartzo, inalterado; (b) os feldspatos,
com graus de alteração que dependem da respectiva natureza
(potássicos e calco-sódicos) e do clima; (c) as palhetas de mica preta
(biotite), também ela num grau de alteração determinado pelo clima; (d)
e as de mica branca (moscovite), pouco ou nada alterada. Facilmente
alteráveis, a olivina e espécies dos grupos das anfíbolas e das
piroxenas são pouco frequentes e raras nos solos.
Entre os minerais secundários do solo, as argilas (5) têm um papel
fundamental e múltiplo: (i) retêm a água e conferem mais ou menos
plasticidade ao conjunto, quando húmido, e tenacidade, quando seco; (ii)
promovem adesividade entre as partículas; (iii) em virtude das suas
propriedades de expansão/retracção; (iv) proporcionam variações de
volume no corpo do solo responsáveis pela abertura e fecho de fendas e
outros vazios, com consequências evidentes na permeabilidade à água e ao
ar; (v) possibilitam trocas de iões entre os constituintes.
O teor da fracção argilosa do solo depende,
sobretudo, da natureza da rocha-mãe e do grau de maturidade que atingiu,
Nos solos das regiões de clima quente e húmido a percentagem de argila
é, normalmente, superior a 60 %.
Pelo contrário, nos solos das regiões áridas ou das de clima frio e
húmido, esta percentagem é inferior a 10 %. Em igualdade de temperatura
ambiente, o teor de argila no solo cresce linearmente em função da
humidade. Por outro lado, em idênticas condições de humidade, este teor
cresce exponencialmente com a temperatura.
Outros minerais secundários, com particular
influência nas características do solo, são a calcite e a opala,
associadas a crostas pedológicas de natureza, respectivamente, calcárias
(caliços ou calcretos) e siliciosas (silcretos).
Mercê da presença de minerais (primários e secundários), o solo dispõe
sempre de uma reserva mineral, entendida como o conjunto das
espécies susceptíveis de lhe
fornecerem elementos biogénicos, isto é, elementos químicos necessários
à vida das plantas (potássio, fósforo, cálcio, ferro, magnésio, enxofre,
sódio, ente outros). Esta reserva é tanto mais eficaz quanto maior for a
alterabilidade desses minerais e quanto menor for o diâmetro das
respectivas partículas, condições essenciais à libertação dos
respectivos elementos químicos. Entre as espécies constituintes de uma
tal reserva destacam-se os minerais argilosos (caulinite, ilite,
montmorilonite e outros), os silicatos ferromagnesianos (olivinas,
piroxenas, anfíbolas, biotite), a mica branca e outras, os feldspatos
potássicos (ortoclase, microclina, sanidina) e calcossódicos
(plagioclases, em especial, albite e oligoclase), os carbonatos
(calcite, dolomite), os sulfatos (gesso, anidrite) e os fosfatos
(apatite, monazite).
O ferro e o magnésio provêm dos silicatos ferromagnesianos, o cálcio é
fornecido pelas plagioclases, anfíbolas, epídoto e apatite, nas rochas
primárias, ou pela calcite e dolomite nas rochas carbonatadas
(calcários, dolomitos, carbonatitos). O sódio sai facilmente das
plagioclases sódicas e o
potássio, dos respectivos feldspatos
e das micas. Finalmente, o fósforo, elemento capital da matéria
viva, provém essencialmente da apatite.
O alumínio, o silício e, em parte, o ferro constituintes dos minerais do
solo têm alguma dificuldade em abandonar o sistema. Outros, como o
sódio, o potássio, o cálcio, o magnésio, o manganês, o titânio e o
fósforo são facilmente libertados, primeiro, no decurso da meteorização
e, depois, durante a pedogénese. Com efeito, na generalidade e em termos
médios, a sílica (no quartzo nos feldspatos e noutros silicatos), a
alumina (em especial nos feldspatos) e os óxidos de ferro (sobretudo,
hematite, goethite) perfazem 90%, ou mais, da fracção mineral do solo e,
entre esta, a sílica representa 50 a 75%. Tão importante é a presença
destes três componentes que, com base nas suas proporções relativas, se
distinguem três grandes tipos de solos:
sialíticos, com SiO2/Al2O3>2 e SiO2/Fe2O3>2,
fersialíticos, com SiO2/Al2O3>2
e SiO2/Fe2O3<2,
ferralíticos, com SiO2/Al2O3<2
e SiO2/Fe2O3<2.
Nos solos aluviais, a
fracção mineral,
maioritariamente areno-argilosa, não resulta da meteorização do
substrato rochoso sobre que assenta. Resulta, sim, da deposição mais ou
menos temporária de um material transportado (em especial, areias e
argilas) que, assim, fica à mercê da ocupação orgânica que o transforma
em solo. Desta realidade resulta a importância das planícies aluviais,
de que se destacam, entre nós, as dos vales do Mondego, do Sorraia e do
Sado, os sapais de Corroios e de Castro Marim, a campina de Faro, a
veiga de Chaves e a lezíria do Tejo.
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