REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE

 

 

 

 
 

A.M. GALOPIM DE CARVALHO

2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

Falando dos solos (5)

Deve-se ao norte-americano Curtis Flechter Marbut (1863–1935), geólogo de formação, a primeira alusão ao conceito geológico de solo. Anos depois, a meados do seculo XX, o geógrafo francês Henri Herhart (1898-1982), reafirmava este conceito e introduzia um outro fundamental ao pensamento geológico, ao divulgar “La genèse des sols en tant que phénomène géologique: Esquisse d'une théorie géologique et géochimique, biostasie et rhexistasie”, publicada, em 1956, um tema que abordarei oportunamente.

Até essa altura, o solo representava uma mera cobertura que dificultava as observações no terreno, pois ocultava a rocha sã, considerada essencial ao trabalho do geólogo. No estado actual do conhecimento científico e tecnológico, a pedologia tem ligações muito estreitas com várias disciplinas das geociências, entre as quais, a geomorfologia, a hidrogeologia, a estratigrafia, a geologia do ambiente, a geoquímica, a prospecção mineira e a agronomia.

Na medida em que pode reflectir os parâmetros ambientais (nomeadamente, a natureza da rocha-mãe, o clima e o relevo) em que foi gerado, o solo é, com efeito, um corpo geológico que testemunha um processo, quer do passado quer do presente, indispensável à fixação e desenvolvimento das plantas terrestres e a toda a cadeia biológica delas dependentes, a terminar em nós, humanos. Dos líquenes e musgos da tundra boreal, passando pelo tapete herbáceo das pradarias norte-americanas ou das estepes centro-asiáticas, pelo capim e pelos arbustos da savana africana e do cerrado brasileiro, até à exuberância da floresta tropical húmida do Congo, da Amazónia e outras, todas estas comunidades vivas dependem absolutamente do solo.

É, pois, no solo que reside o essencial da subsistência da humanidade. E, na medida em que transforma a energia radiante solar noutras formas de energia (trabalho animal e humano, calor por combustão de lenha e de carvão vegetal), o solo é considerado um recurso económico do maior interesse. E todos sabemos como é importante para qualquer país ter solo em quantidade e qualidade à sua disposição.

 

Em condições favoráveis muitos solos do passado ficaram arquivados no registo estratigráfico e, neste caso, falamos de solos fósseis ou paleossolos, cujo estudo só começou a despertar a atenção dos geólogos a meados do século passado.

 

Paleossolo (a camada de cor castanha) intercalado entre calcários marinhos com mais de 300 milhões de anos (Carbonífero do Kansas, EUA).

A.M. Galopim de Carvalho. É professor catedrático jubilado pela Universidade de Lisboa, tendo assinado no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências desde 1961. É autor de 21 livros, entre científicos, pedagógicos, de divulgação científica e de ficção e memórias. Assinou mais de 200 trabalhos em revistas científicas. Como cidadão interventor, em defesa da Geologia e do património geológico, publicou mais de 150 artigos de opinião. Foi diretor do Museu Nacional de História Natural, entre 1993 e 2003, tempo em que pôs de pé várias exposições e interveio em mais de 200 palestras, pelo país e no estrangeiro.
Blogue: http://sopasdepedra.blogspot.com/