O pior que se pode fazer
no ensino das rochas ou das pedras, como toda a gente lhes chama, é
apresentá-las desinseridas dos respectivos contextos prático e cultural,
precisamente os que têm mais probabilidades de permanecer na formação
global do cidadão, em geral, e, naturalmente também, dos estudantes.
Insistir,
como tem sido uso e abuso, nas definições estereotipadas e nas listagens
para “empinar” e, pior ainda, fazer de tudo isso matéria de ensino
obrigatório, tendo em vista a passagem nas provas de avaliação, é um
erro grave com consequências conhecidas. Os alunos passam mas continuam
a ignorar a matéria que lhes foi ministrada e lhes seria útil, em termos
de bagagem cultural, como cidadãos.
Por esta via,
não há formação possível, com a agravante de condenar tal aprendizagem,
não só ao esquecimento, como também à sua inclusão no grupo das matérias
escolares que se rejeitam ou se detestam, num sentimento que fica para a
vida.
Este texto
resulta da actualização de um anterior publicado no meu livro
“INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO MAGMATISMO E DAS ROCHAS MAGMÁTICAS” (Âncora
Editora, 2002
“Para o cidadão comum, pedra, do grego
pétra, é uma entidade
natural, rígida, coesa e dura, que se apanha do chão.
São muitos os topónimos relacionados com a ideia de pedra, quer na versão
original grega, quer na portuguesa.
Pedra Furada é uma localidade
no concelho de Barcelos e de mais duas no concelho de Sintra, uma na
freguesia de Almargem do Bispo e outra na de Montelavar, esta marcada
por curiosos aspectos de erosão cársica sobre os calcários do Cretácico
superior. Pedra Maria é uma
aldeia do concelho de Felgueiras. No plural, Pedras Rubras
é um lugar do concelho da Maia onde se situa o Aeroporto Internacional
Francisco Sá Carneiro. Aumentativo de pedra, Pedrão é um
município brasileiro no estado da Bahia e padrão, o marco que os
nossos navegadores deixaram na rota dos descobrimentos.
Pedralva ou pedra branca é o
nome de um município do estado brasileiro de Minas Gerais e também o de
uma aldeia do concelho de Vila do Bispo, no Algarve.
Pedroso (Vila Nova de Gaia),
Padroso (duas freguesias, uma em Montalegre e outra em Arcos de
Valdevez), Alter Pedroso
(Alter do Chão), Pedrouços (Lisboa), Pedregal (Barcelos) e
Pedrancha (Trouxemil, Coimbra),
são outros topónimos derivados de pedra.
Pedrela ou
Padrela é uma das serras de Trás-os-Montes e
Padrela e Tazem, uma
freguesia do concelho de Valpaços. Com a mesma origem,
Pedrógão, do
latim petroganum, no distrito
de Leiria, evoca uma pedra branca.
Pedrês
é a galinha salpicada, num granulado de preto e branco, como o granito.
Empedernido diz-se daquele que é insensível como a pedra e
pedernal ou pederneira é a pedra-de-fogo que os nossos
avós usavam nos bacamartes ou com que os tetravós destes talhavam
machados, facas e pontas de seta. Pedregulho
corresponde ao matacão dos geólogos brasileiros e pedrulha
que, no português antigo, é sinónimo de cascalho, deu nome a uma
localidade do concelho de Coimbra. Despedrega
é o acto de retirar as pedras de dentro do solo, a fim de o preparar
para o cultivo, e pedreiro, que tanto é o operário
que trabalha a pedra, como é o nome que se dava aos morteiros de grande
calibre que lançavam pelouros de pedra. Empedrar, pedregoso,
pedregal e pedrisco são outras palavras radicadas no mesmo étimo.
Pedro,
nome de gente, vem de pedra. «Tu és Pedro e sobre ti levantarei a minha
Igreja», disse Jesus ao discípulo.
Petra
é a antiga cidade da Jordânia repleta de monumentais ruínas escavadas na
rocha, Petrópolis, a
“cidade imperial”, do estado do Rio de Janeiro, evoca o
Magnânimo D. Pedro II, que lhe
deu nascimento, e São Petersburgo é o nome da antiga
Petrogrado, assim chamada em homenagem a Pedro, não o Santo, mas o
Grande, de todas as Rússias.
Petróleo
é o óleo saído do chão, de dentro das pedras, petrologia, a
ciência que estuda as pedras e petrólogos, os seus cultores.
Petrificados ficamos quando uma notícia nos gela o sangue e nos
imobiliza. Num falar antigo, petrificados são os fósseis, ou seja, os
restos dos seres vivos do passado que chegaram até nós depois de
mineralizados ou convertidos em pedra.
Pera
é fruto, mas também é pedra e é neste sentido que a palavra deu nome à
freguesia de Pera no concelho de Silves. Pero
é o nome arcaico de Pedro e Peres são os seus descendentes.
Pero Vaz de Caminha e Pero da Covilhã são nomes conhecidos da
nossa história e Pero Botelho é o Diabo que não pára de rugir na
caldeira que tem o seu nome, no sítio das Furnas, na ilha açoriana de S. Miguel. Pereira, no concelho de
Montemor-o-Velho, alude a pedra, não à árvore e
Pereiro é o nome de uma aldeia no concelho de Mação. A antiga
Castanheira de Pedrógão, no distrito de Leiria, mudou de nome, a meados
do século XIX, para Castanheira
de Pera, expressão em que
o segundo nome
também alude a pedra e
não ao fruto. Em Peraboa,
freguesia no concelho da Covilhã, havia, ao que se diz, uma rocha de boa
qualidade. Com o mesmo étimo,
Peralta, ou pedra alta, é
um município espanhol na comunidade de Navarra e
Peramanca
e Perafita
são nomes de sítios na região de Évora que evocam grandes marcos de
pedra.
Estas pedras ou estavam “mancas”, isto é, tombadas, ou ainda se
mantinham “fitas”, maneira antiga de dizer erguidas, na postura fálica
em que as colocavam os nossos antepassados do período megalítico e que
os pré-historiadores divulgaram sob o nome de
menhires, mantendo a expressão original
bretã men hir,
que significa pedra comprida.
Perolivas, localidade da mesma região, quer dizer pedra
verde, cor de azeitona, a cor habitual do anfibolito e de alguns xistos.
Pera Velha é uma freguesia do
concelho de Moimenta da Beira e
Pera Longa, uma urbanização na freguesia de Tortosendo (Covilhã).
Em galês,
pedra diz-se lech, de onde a palavra
cromlech, que
significa grande pedra arredondada, já usada no século XVII, para
designar este outro tipo de monumento megalítico, de que temos magnífico
exemplo no cromeleque dos Almendres, no concelho de Évora, a que
os naturais deram o nome de
pedras-talhas, dado que os respectivos megálitos têm a forma das
tradicionais talhas de barro em que ainda se guarda o vinho.
Todos falamos
de rocha como sinónimo de pedra, com base num conhecimento comum,
empírico, vulgar, ligado à experiência quotidiana mesmo do mais iletrado
dos cidadãos. Dizemos rochedo
quando o afloramento de rocha é grande e apelidamos de
rochoso um terreno com a rocha à vista.
A palavra é um galicismo que, entre nós, se sobrepôs ao termo
roca, bem
mais antigo, talvez pré-romano.
Cabo da Roca, ou
“Focinho da Roca” no dizer
dos homens do mar, deve o seu nome a esta versão arcaica da palavra
rocha. O mesmo termo está na
origem da expressão enrocamento
com que se designa o acto de proteger com blocos de rocha certos
pontos da linha de costa face à acção erosiva das vagas e, ainda, de
rocaille, a palavra que refere uma expressão artística, nascida
em França, em finais do século XVII, inspirada nas rochas.
Do castelhano
peña, o cume rochoso de uma
elevação do terreno, a nossa palavra penha
deu nome a Penha Garcia, freguesia do concelho de Idanha-a-Nova,
às conhecidas Penhas Douradas e Penhas da Saúde, na serra
da Estrela. Sinónimo de rochedo,
penhasco está na base do topónimo Penhascoso
(ou Panascoso na designação antiga) freguesia do concelho de
Mação, lembra o carácter rochoso do sítio.
Com o mesmo significado, o termo pena deu nome ao Castelo
de Sintra, edificado sobre uma penha, à semelhança de outras que marcam
certos cumes rochosos deste relevo.
Penalva do Castelo deve o seu nome à alvura da penha onde
se erigiu aquela fortificação medieval. Penela
ou penha pequena é topónimo de uma vila do distrito de Coimbra,
anterior à nacionalidade, nascida em torno do castelo que marca o cimo
dos rochedos de arenito do Triásico. Com a mesma raiz,
Penedo é uma localidade na
freguesia de Colares,
Penedono, um município do
distrito de Viseu, e Peneda, a serra. Alusivos a pena e com raiz no latim
pinna, Pina é apelido de gente e pináculo, um cimo rochoso e pontiagudo ou, em sentido figurado, o ponto mais alto
de uma construção.
Vindo do
pré-romano, a palavra barroco tanto significa pedra como barranco, o sulco que a água das
chuvas escava no terreno, tornando-o irregular e pedregoso. É, ainda, o
estilo artístico, das artes plásticas, da música e da literatura, que
recorre a figurações de pedra lembrando grutas e rochedos e que, desde
os finais do século XVI até meados do século XVIII, se opôs ao
classicismo da Renascença. Barrocal é a paisagem pedregosa que
marca o Jurássico calcário algarvio e barroqueiro, a pedra que se
apanha do chão e se arremessa. A mesma a que o alentejano e o algarvio
chamam bajoulo,
num regionalismo muito seu.
De origem antiga, duvidosa, talvez do pré-romano
canthus, dispomos
também para expressar a mesma ideia, do vocábulo canto. Sinónimo
de pedra na língua de Cervantes, este termo, muito pouco empregue entre
nós, é de uso frequente na vizinha Espanha (cantal, em catalão).
Dele derivam, entre nós, cantaria,
a pedra talhada, normalmente em blocos
paralelepipédicos, muito usada na construção civil de maior importância,
antes do advento do betão armado. Canteiro
tanto designa
o profissional
desta arte,
como a porção de terra do jardim ou da horta onde se plantam flores ou
hortaliças,
canteira
é
versão menos comum de pedreira (cantera, em castelhano) e
chamamos cântaros aos cumes
graníticos da Serra da Estrela.
Radicados no mesmo canthus,
dispomos, ainda, cantil, a ferramenta com que o escultor alisava
a pedra, sendo curioso notar que alcantil, com o mesmo étimo,
chegou-nos através do árabe
al kantil, que
refere o escarpado ou cume rochoso,
alcantilado.
Em alusão à ideia de pedra usamos, ainda, a palavra latina,
lapis.
Com efeito, era de pedra o lápis
feito de ardósia da nossa infância. Deste étimo nasceram expressões mais
ou menos correntes como lapiseira,
lápide ou lápida, lapídeo que significa petrificado e
insensível, lapidoso ou pedregoso e lapidificação que é o
mesmo que petrificação, mas que também é uma forma cruel e desumana de
execução, entre os fundamentalistas islâmicos, apedrejando os condenados
até à morte. Lapidar é talhar
a pedra, quer a ornamental, em cantaria, quer a preciosa, com vista à
joalharia. Como adjectivo, quer dizer basilar, fundamental.
Lapidários são os manuscritos
da Idade Média que falam das pedras, em especial das suas propriedades
medicinais e mágicas, com descrições fantasiosas em torno delas, numa
época em que mineral e pedra se confundiam. Lapidadas
são as mulheres muçulmanas,
vítimas da referida sentença de morte, e as pedras preciosas que
enriquecem as jóias dos que têm gosto e posses para as adquirir, sendo o
lápis-lazuli (pedra azul) uma delas. Lapidicidas
diz-se dos moluscos que perfuram as pedras para aí se alojarem,
lapidículas são as águias e outras aves que fazem ninhos entre
pedras ou nas fendas dos rochedos. Lapilli
é o termo italiano adoptado pelos nossos vulcanólogos para nomear um
tipo particular de produtos piroclásticos, para os quais já dispúnhamos
da expressão açoriana, bagacina.
Na
Antiguidade mármore designava
toda a pedra susceptível de ser usada em cantaria, como o mármore
propriamente dito, o basalto (“mármore negro”, com lhe chamou o
naturalista romano Plínio, o Velho, no séc. I), o alabastro, o calcário
e o arenito fino, bem consolidado, como o do Triásico germânico (Buntsandstein). Pedra ornamental por excelência, abundantemente
usada na estatuária, o mármore é para os geólogos a rocha resultante do
metamorfismo do calcário
submetido a temperaturas e pressões elevadas, em profundidade, no
decurso da formação das montanhas.
Na mesma linha de pensamento há, ainda, que relacionar o elemento de
composição culta lito, saído do grego,
lithós, que
encerra a ideia de pedra ou rocha. De uso restrito a estratos mais
avançados em termos de escolaridade e vivência sóciocultural,
refere-se por litologia a disciplina interessada no estudo das
rochas, por litogénese as suas
origens e por litosfera a capa rochosa que envolve a Terra,
formando os continentes e o substrato dos fundos oceânicos.
Litografia e litogravura, Paleolítico, mesolítico, neolítico,
calcolítico e megalítico
são designações que distinguem
sucessivas fases da pré-história do Homem ou qualificam acções ou
produtos com ela relacionados. Pirólito, batólito, facólito,
fonólito, riólito e micrólito,
litificação e litoclasto
são termos correntes no jargão geológico, mas que
dizem muito pouco ao cidadão comum. Litófagos são os
moluscos bivalves que perfuram a pedra onde se encaixam e de litíase
falam os médicos relativamente à formação de estruturas
sólidas, as vulgaríssimas “pedras” ou cálculos renais e biliares.
Muitíssimo
menos divulgado, mesmo entre os geólogos, mas bem conhecido dos cultores
da língua e estudiosos dos seus percursos semânticos, temos ainda o
elemento de composição culta,
sax, que exprime
igualmente a ideia de pedra. Oriundo do latim, o elemento
saxus compõe as palavras sáxeo e saxoso,
duas formas eruditas de dizer pedroso ou pedregoso,
saxátil, o que vive
entre as pedras, saxícola, que tanto é o indivíduo que habita as
penedias como o idólatra que presta culto aos deuses de pedra,
e saxífragas,
as plantas
cujas raízes penetram as fissuras da pedra alargando-as.
Passando ao uso popular,
saxus deu
seixo, pedra dura ou pedra bruta que, com o tempo e para as gentes
do litoral sul, passou a referir, em geral, os fragmentos mais ou menos
arredondados das praias ou dos rios. Para alguns sítios do interior
norte e serrano, o termo seixo é empregue para denominar os clastos
angulosos de quartzo filoniano espalhados no terreno por desmantelamento
e erosão dos respectivos filões, onde, em alguns casos, se explora esta
variedade de sílica. Seixal,
quer a cidade e o concelho a sul do estuário do Tejo, quer a povoação na
costa norte da ilha da Madeira, devem o nome à abundância de seixos
rolados ali concentrados, no primeiro caso, de quartzito, pelo
transporte fluvial do Tejo e, no segundo, de basalto, por acção das
vagas. Em alusão ao referido carácter anguloso, subentendido na palavra
seixo, Têm essa conotação as localidades Seixinho (Guarda),
Seixal (Viseu) e Seixoso (Porto). A associação de seixo ao
quartzo filoniano está ainda patente na expressão seixo-bravo
usada, no norte do país, para referir os filões quartzosos estéreis,
isto é, sem minério. Chama-se seixeira
à escavação de onde se extraem seixos para
diversos fins industriais, e qualificam-se de
seixosos os respectivos
locais. Seixebrega
é a planta usada em tisanas, como mezinha,
para dissolver as pedras dos rins.
O vocábulo fraga, que nos chegou vindo do latim hispânico,
fragum, é
o mesmo que penha ou penhasco e fragoso significa pedregoso ou penhascoso. Fraguedos e
fragarias são penedias, do mesmo modo que fragais ou
fragaredos (como se diz em Trás-os-Montes) e fragueiros,
que refere os que vivem nas montanhas, entre fragas.
O nome do
elemento químico silício e os seus derivados sílica, silicato,
silicito e silicon radicam no termo latino
silex que, na origem,
significa pedra, passando depois a ser conhecido por pederneira. Com
efeito, são de pedra os artefactos dos nossos remotos antepassados,
conhecidos por sílices,
no plural, e, daí, a expressão Idade da Pedra com que designamos
esses tempos pré-históricos.
Mas há ainda
outras palavras na nossa linguagem comum associadas à ideia de pedra,
tal a sua importância na vida da humanidade. E comecemos por cálculo,
a expressão erudita para referir a “pedra” das litíases biliar e renal,
mas que também dá nome ao acto de
calcular. Com efeito,
calculu, do latim,
significa pedrinha, e com pedrinhas se contava e faziam contas na
Antiguidade, e que hoje fazemos por via electrónica nas modernas
calculadoras.
Com raiz no latim
calx,
a
nossa palavra vulgar cal designa a pedra
branca que, uma vez regada com água, dá a calda com que ainda se
branqueiam as paredes nas aldeias e montes que distinguem o Alentejo e o
Algarve das restantes regiões do país. Designa, ainda, a argamassa que
se usava antes da descoberta do cimento. Cal veicula, igualmente, a
ideia de pedra e com pedras, a servirem de lastro, se calavam os
barcos quando, sem carga, se faziam ao mar. Com o mesmo étimo, dá-se o
nome de calado
à profundidade a que se encontra o ponto mais baixo do casco de uma
embarcação,
em relação à superfície da água onde se encontra mergulhada.
Com a mesma origem, calcário
é a rocha sedimentar com
que se faz a cal, calçada
é o revestimento com pedras e calceteiro, o artista
que celebrizou no mundo a calçada portuguesa. O mesmo étimo está na base
de calçado, calcanhar e
do respectivo osso, o
calcâneo, assim como
cálcio, o elemento químico, e
o mais abundante dos seus minerais, a
calcite. Calçar é meter uma pedra por baixo daquilo que
queremos que fique firme e calcar o chão é dar-lhe a compactação
da pedra. Caleiras
são sulcos ou regos inicialmente empedrados, tendo o nome sido
generalizado, depois, ao mesmo tipo de aparato ainda que feito com
outros materiais. Mas caleira ou caieira (termo usado no
Alentejo) é o forno de cal, caleiro ou caieiro, o homem
que a fabrica e/ou a vende, caiador,
o que se serve da cal
para caiar e caios,
as ilhas rasas, feitas de areia calcária, dos mares
recifais das Caraíbas.
Calhau, termo que se pensa ser de origem céltica, tanto refere a
pedra que se apanha no chão como o seixo rolado do rio ou da praia.
Calle é a rua ou a calçada dos nossos vizinhos espanhóis, com
correspondência para português em calhariz e em calheta
que, no mundo rural do continente se usa para referir um atalho por onde
passam os rebanhos e que, nas ilhas, significa pequena enseada ou abrigo
na costa rochosa.
E as
referências à pedra, sempre ligadas ao nosso quotidiano desde os tempos
mais recuados, não cessam de no-lo lembrar. Lapa, vinda do
pré-céltico, é uma pedra que forma um abrigo natural, e lapedo,
um sítio de muitas lapas. Com significados afins e de
origem incerta, talvez pré-romana,
temos, ainda, respectivamente, laje e lajedo.
Aumentativo de lapa, lapão é
o mesmo que lajão, sendo
igualmente nome dado a homem rude ou grosseiro e ao natural da da
Lapónia.
De origem
obscura temos ainda os termos rebo e gobo que significam
calhau rolado, e os seus equivalentes minhotos, gode e godo,
e o transmontano gogo, o grande seixo liso, no geral de
quartzito, em que o sapateiro batia a sola.
Burgau é o nome de uma praia algarvia, na região de Vila do Bispo,
assim chamada em virtude da presença significativa de calhaus, seixos,
burgos ou burgaus.
Cascalho
e cascalheira são
substantivos colectivos que designam acumulações ou depósitos de calhaus
ou seixos, de tamanho a caber numa mão. As duas palavras radicam no
latim quassicare, que
significa fragmentar, étimo que está na origem de
casca, o invólucro quebradiço
do ovo, e do verbo francês casser (partir, quebrar).
De uso regional, conhos, do latim cuneus, indicam tanto os
penedos arredondados emergentes a meio do rio, como os calhaus rolados,
no geral de quartzito, próprios das aluviões fluviais. No Tejo e no
Zêzere, entre outros rios do centro do País, fala-se de
conheiras, extensos amontoados de conhos, deixados pela prospecção e
lavra do ouro, levadas a efeito em grande escala, ao tempo da ocupação
romana do nosso território.
Rupi
ou rupe são mais
dois elementos de composição culta, de origem latina, que veiculam a
ideia de pedra, sendo por isso que qualificamos de rupículas os
animais que vivem entre rochas e que adjectivamos de rupestres as
gravuras e as pinturas deixadas nas paredes rochosas pelos nossos
antepassados pré-históricos.
Para os
romanos, gemma era o nome que se dava às pedras preciosas, algumas delas
descritas por Plínio, o Velho, e que continuamos a usar na versão
portuguesa gema. É por esta
razão que ao mineral halite damos o nome de
sal-gema, para o distinguir
do cloreto de sódio produzido nas marinhas.
Psephós,
a palavra grega que significa seixo é, também, sinónimo de voto ou
sufrágio, porque, entre os gregos, os votos eram contados com pequenos
seixos. Em provas académicas nas nossas universidades, as votações eram
feitas, sob sigilo, com “pedras” ou bolas brancas e pretas, lançadas
numa urna. Psefógrafo é o
aparelho destinado à contagem de votos em assembleias eleitorais,
psefologia, a disciplina que estuda os resultados desses actos e
psefólogo o estudioso desta
matéria. Aportuguesamento de um termo surgido na Alemanha, a meados do
século XIX, psefito é o nome de uma classe de rochas sedimentares essencialmente
constituída por seixos ou calhaus; Com o mesmo significado,
rudito, do latim
rudus, surgiu na América, nos começos do século XX.
No Brasil, o
étimo ita, do tupi-guarani, falado pelos índios, quando os
portugueses ali chegaram, traduz a ideia de pedra e figura na composição
dos nomes de duas localidades de Minas Gerais,
Itabira e Itacolumi, e de
duas rochas, muito especiais, oriundas dessas regiões,
itabirito, um arenito flexível, e
itacolumito, um importante minério de ferro.
Divergente
de ita, segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, o sufixo culto
ite, do grego
ités, é usado, entre franceses e ingleses, na formação de nomes quer
de minerais quer de rochas. Entre nós, este sufixo é apenas utilizado
nos nomes de minerais (pirite, calcite, dolomite, grafite, etc.) Para as
rochas, os petrógrafos portugueses da segunda metade do século XX,
adoptaram a terminação ito
(granito, quartzito, dolomito, antracito, etc.)”.
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