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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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A.M. GALOPIM DE CARVALHO |
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Museu do Marceneiro |
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Visitei há dias, em Évora, o jovem Museu do Marceneiro. Desde que foi
inaugurado, há cerca de dois anos e meio, que desejava fazê-lo e a minha
expectativa era muita. Aprendiz de carpinteiro que (num brincar muito a
sério) fora na oficina do mestre Roberto, chamava-me um tempo, de há
muitas décadas, em que, sob o olhar vigilante deste meu vizinho e amigo,
experimentei usar e usei algumas das suas muitas ferramentas.
Lembrei-me do rebolo de amolar, grande, redondo e vermelho, da cor do
barro, meio mergulhado em água. Nele, pedalando, o meu “mestre” afiava
os badames, os formões e os ferros das plainas, rabotes e garlopas.
Depois, para lhes dar o fio, passava-os lenta e repetidamente numa
ardósia muito lisa, untada com azeite. Os sons e os cheiros! Cada
operação tinha um som e, muitas vezes, um odor especial. O rebolo tinha
um som áspero e cheirava a barro molhado. Na ardósia, o formão a
deslizar apagava-se-lhe o som à medida que ganhava fio, libertando o
cheiro do azeite já negro do pó da pedra e do aço. Os sons das serras e
dos serrotes eram todos diferentes, variando nas suas características
consoante o material, o braço e a energia de quem delas ou deles se
servisse. Era, ainda, o som das plainas a lançarem no ar caracóis de
raspas. O cheiro da madeira de pinho impregnada de resina voltou-me à
memória, ao mesmo tempo que, de dentro do carro que me conduzia à
cidade, olhava o montado e os campos ainda verdes deste Alentejo que me
viu crescer.
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Propriedade da empresa eborense
«Galerias de Móveis São Francisco Lda.», nasceu em Évora, a 10
de Novembro de 2011, o
Museu do Marceneiro. Uma pequena mas preciosa pérola que
evoca, através
de um vasto acervo de antigas ferramentas, a exigência de rigor
e perfeição caracte-rísticas de uma profissão de imenso pendor
artístico, que a sofisticada maquinaria eléctrica, ao serviço de
uma indústria
de massas, tem vindo a fazer cair em desuso e no esquecimento.
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Rebolo de amolar em “pedra
de Eirol”
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O Museu do
Marceneiro está a desenvolver um conjunto de actividades
lúdico/didácticas ao serviço da comunidade local, a todos os níveis
etários, com especial atenção para as crianças e jovens das nossas
escolas, profissionais do sector, docentes e investigadores nas áreas da
etnografia, da história, da sociologia e outras. Ao partilhar a história
de uma empresa familiar, o Museu do Marceneiro recorda a uns e
revela a muitos uma arte que se não quer perder, além de que contribui
para o conhecimento da comunidade alentejana nos domínios da carpintaria
e da marcenaria.
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O Museu do
Marceneiro, e toda a obra em curso desde a sua fundação, tem
sido possível graças ao empenho, dedicação e sábia cooperação
com outras empresas
e organizações locais e nacionais. As suas actividades já
ultrapassam as inicialmente pre-vistas e a oferta de ferramentas
e outros objectos, que chegam de todo o país, tem sido uma
constante.
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O Senhor Luís Silva, filho
do mestre Manuel Silva, dando
explicações a um conjunto de pequenos visitantes
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O Museu do Marceneiro é,
ainda, uma homenagem prestada a
Manuel Sebastião Silva pelos seus descendentes. |
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Distinto «mestre» fez a instrução primária no Oratório de São José
(Escola Salesiana local), após o que continuou os estudos em regime
interno nas Oficinas de S. José (Lisboa), onde concluiu o curso de
marceneiro com distinção, tendo-se revelado, desde logo, um profissional
de muito saber e elevada craveira artística. Uma vez regressado à terra
natal, ingressou como professor e mestre de marcenaria no dito Oratório
de S. José, de onde
transitou, em 1941, para Casa Pia da mesma cidade, como mestre da
oficina de marcenaria, onde, com notável prestígio profissional,
trabalhou durante décadas e formou conceituados marceneiros.
Vai para quarenta anos o “mestre Manuel Silva” fundou, em associação com
os filhos, a empresa Móveis S. Francisco, “especializada na manufactura
de móveis tradicionais alentejanos passando depois para uma linha mais
erudita de mobília, reconstituindo com esmero e primor o móvel tipo
renascença, conseguindo, assim, uma das raras imagens de marca da
indústria eborense”. (In
Dicionário Biográfico Eborense
de Joaquim Palminha Silva).
MUSEU DO MARCENEIRO
Rua da
República, 99 105, em Évora
Telefone:
351 266 703 870 .
351 962 415 080
Abre ao
público de 2ª a 6ª feiras
das 9h30 –
13h00 e das 15h00 – 19h00
E aos
Sábados
das 9h30 –
13h00
www:moveissaofrancisco.com
museudomarceneiro@gmail.com
Nota: O Museu abrirá sempre que ali se realizem
actividades, ou quando forem marcadas visitas guiadas fora do horário de
abertura indicado.
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A.M. Galopim de Carvalho. Professor
jubilado da Universidade de Lisboa. Geólogo e escritor. Foi diretor do
Museu Nacional de História Natural de Lisboa.
Blogue:
http://sopasdepedra.blogspot.com/ |
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