O mal não está nas mochilas, uma inteligente invenção
para transportar cargas, por vezes com duas ou mais dezenas de quilos,
deixando as mãos livres para tudo o que for preciso, apoiar o caminheiro
segurando um varapau, tocar pífaro ou harmónica durante a marcha ou,
até, caminhar de mãos nos bolsos.
Como campista de ocasião que fui, no tempo em que se
podia, em segurança, praticar esta modalidade em regime selvagem,
reconheço a imensa comodidade da mochila, sobretudo quando ela está
equipada com uma armação de metal que torna o seu uso mais confortável.
Mas uma coisa é um rapazinho ou uma rapariguinha de dez ou doze anos
transportarem uma mochila carregada, durante umas horas de caminhada,
uma, duas ou três vezes por ano, como campistas em tempo de férias
escolares, outra coisa, é carregarem-na cheia, até mais não, de livros,
cadernos e tudo o mais o que a escola determina, duas vezes, todos os
dias, durante meses.
É um atentado contra a saúde futura destas hoje
crianças, suficientemente denunciado por profissionais conhecedores dos
riscos desta prática. Lamentavelmente, não vejo quaisquer tomadas de
posição oficiais para pôr cobro a esta estupidez. Não vejo ninguém com
competência e poder institucionais levantar a voz contra esta prática.
Nem vejo os pais mobilizados para promoverem a petição, que se impõe,
dirigida à Assembleia da República.
No tempo da minha geração, das que a antecederam e
das duas ou três que se seguiram não havia tanto livro e os que havia
não eram tão grandes e pesados. Os cadernos eram pequenos, nada
comparáveis aos dossiers A4 dos nossos filhos e netos, nem se usavam
estes “cadernões” de agora, um por disciplina, onde os alunos têm de
cumprir os trabalhos de casa, que, uma vez usados, não servem ao irmão
que se segue nem a quem deles necessite. E as pastas eram,
comparativamente pequenas, a condizer.
Isso não impediu que estas gerações atingissem os
níveis de competência profissional e cultural que atingiram.
Num País onde, com honrosíssimas excepções, a
corrupção é uma desgraçada, vergonhosa e triste realidade, é-me lícito
perguntar se não haverá por aí interesses escondidos.
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