REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE

 

 

 

 
 

A.M. GALOPIM DE CARVALHO

As mochilas escolares, um grave problema de saúde pública

O mal não está nas mochilas, uma inteligente invenção para transportar cargas, por vezes com duas ou mais dezenas de quilos, deixando as mãos livres para tudo o que for preciso, apoiar o caminheiro segurando um varapau, tocar pífaro ou harmónica durante a marcha ou, até, caminhar de mãos nos bolsos.

Como campista de ocasião que fui, no tempo em que se podia, em segurança, praticar esta modalidade em regime selvagem, reconheço a imensa comodidade da mochila, sobretudo quando ela está equipada com uma armação de metal que torna o seu uso mais confortável. Mas uma coisa é um rapazinho ou uma rapariguinha de dez ou doze anos transportarem uma mochila carregada, durante umas horas de caminhada, uma, duas ou três vezes por ano, como campistas em tempo de férias escolares, outra coisa, é carregarem-na cheia, até mais não, de livros, cadernos e tudo o mais o que a escola determina, duas vezes, todos os dias, durante meses.

É um atentado contra a saúde futura destas hoje crianças, suficientemente denunciado por profissionais conhecedores dos riscos desta prática. Lamentavelmente, não vejo quaisquer tomadas de posição oficiais para pôr cobro a esta estupidez. Não vejo ninguém com competência e poder institucionais levantar a voz contra esta prática. Nem vejo os pais mobilizados para promoverem a petição, que se impõe, dirigida à Assembleia da República.

No tempo da minha geração, das que a antecederam e das duas ou três que se seguiram não havia tanto livro e os que havia não eram tão grandes e pesados. Os cadernos eram pequenos, nada comparáveis aos dossiers A4 dos nossos filhos e netos, nem se usavam estes “cadernões” de agora, um por disciplina, onde os alunos têm de cumprir os trabalhos de casa, que, uma vez usados, não servem ao irmão que se segue nem a quem deles necessite. E as pastas eram, comparativamente pequenas, a condizer.

Isso não impediu que estas gerações atingissem os níveis de competência profissional e cultural que atingiram.  

Num País onde, com honrosíssimas excepções, a corrupção é uma desgraçada, vergonhosa e triste realidade, é-me lícito perguntar se não haverá por aí interesses escondidos.

 

A.M. Galopim de Carvalho. Professor jubilado da Universidade de Lisboa. Geólogo e escritor. Foi diretor do Museu Nacional de História Natural de Lisboa.
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