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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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As palavras abaixo
foram proferidas em maio de 2012, em Viseu, na abertura do Museu
do Quartzo, que leva também o nome de Museu A.M. Galopim de
Carvalho. Manifestamos alegria por esta homenagem ao Professor
Galopim, por todos os motivos científicos, acrescidos à nossa
amizade por este geólogo que é também colaborador do TriploV.
Maria Estela Guedes |
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A.M. GALOPIM DE CARVALHO |
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Museu do Quartzo |
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Nos arredores da bela
cidade de Viseu, mais propriamente na freguesia do Campo, o Monte de
Santa Luzia eleva-se cento e poucos metros acima da superfície
planáltica que o rodeia. A geomorfologia ensina-nos que este elemento da
paisagem é fruto da existência de um possante filão de quartzo, com
várias dezenas de metros de espessura, observável na pedreira ali
abandonada há um quarto de século. Trata-se, pois, de um relevo residual
suportado pela maior dureza do quartzo e pela sua maior resistência à
meteorização, relativamente ao granito que atravessa.
A valorização deste sítio
como um local valorizar e preservar, decorre não só da grandiosidade e
espectacularidade da dita pedreira, como também da grande importância
mineralógica e geológica do quartzo, do seu elevado número de variedades
e da invulgar diversidade das suas aplicações como matéria-prima, nas
mais variadas indústrias e tecnologias.
A exploração do quartzo neste local, entre 1961 e
1986, pela “Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos”, de Canas de
Senhorim, teve como resultado um enorme rasgão na paisagem, então
considerado um elemento altamente negativo em termos de impacto
ambiental. Desta actividade extractiva ficou-nos, como é costume entre
nós, um escarpado rochoso que contrasta com a densa arborização
envolvente e uma imensa cratera cheia de água estagnada, aspectos que se
mantiveram desde que ali terminou a lavra, sem que o agente económico
tivesse procedido a quaisquer trabalhos de requalificação.
A meados dos anos 90 do
século passado e a solicitação do Dr. Américo Nunes vereador da cultura,
concebi e propus à Autarquia, em nome do Museu Nacional de História
Natural da Universidade de Lisboa, um projecto de musealização desta
ocorrência como local de interesse geológico e mineralógico a recuperar,
conservar e valorizar como geomonumento ou geossítio.
À semelhança de uma
“janela aberta” para o interior da crosta, este rasgão na paisagem
permite observar diversas e interessantes particularidades geológicas e
mineralógicas deste tipo de acidente geológico. Na óptica da preservação
e valorização do nosso património natural, o referido escarpado tem o
mérito de chamar a atenção para um dos mais volumosos e possantes filões
de quartzo leitoso, de entre os muitos que atravessam o substrato do
território nacional, como exemplo de importante actividade hidrotermal
residual, afectando granitos do final da era paleozóica, com cerca de
280 milhões de anos. Associado a esta ocorrência propus, então, a
criação de um pequeno museu inteiramente dedicado ao quartzo, algo de
inédito na museografia mundial.
Ao abraçar esta proposta
de musealização, a autarquia visou recuperar o que resta de uma
exploração caótica abandonada, aceitando este sítio como um pólo
científico e pedagógico da Universidade de Lisboa (protocolo assinado
entre o Museu Nacional de História Natural e a Câmara Municipal de
Viseu, em 14 de Outubro de1997), com grandes potencialidades culturais
e, também, naturalmente, turísticas.
O conjunto do Monte de
Santa Luzia, cujo projecto de arquitectura, da autoria do Arquitecto
Mário Moutinho, foi galardoado, em 1997, com o Prémio Nacional do
Ambiente (Autarquias). Inclui a pedreira e o seu escarpado devidamente
valorizado, dispõe de um percurso pedonal a ser criteriosamente apoiado
em painéis explicativos e completa-se com o Museu do Quartzo.
A minha aposentação como
director do Museu Nacional de História Natural, em 2003, levou à
nomeação, para o mesmo cargo, do Prof. Doutor Fernando Barriga, da
Faculdade de Ciências de Lisboa. Este projecto, foi por ele aceite de
imediato, tendo beneficiado da modernidade do seu saber como professor
catedrático de mineralogia, interessado na moderna museologia desta área
científica e profundo conhecedor das novas tecnologias expositivas,
experimentais e interactivas aplicadas a esta vertente pedagógica.
Nos últimos anos foi
nossa interlocutora, nas múltiplas tarefas e contactos relacionados com
a concretização da obra, a Engª Susana Andrade a quem é devida uma
palavra de louvor pelo trabalho que realizou
A concretização em termos
museográficos dos equipamentos e materiais em exposição esteve a cargo
de Jaime Anahory, da YDream, tendo por base um guião concebido por mim e
pelo meu colega Fernando Barriga, com a colaboração de Rui Galopim de
Carvalho, na qualidade de gemólogo. |
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Essencial na composição
dos granitos e de algumas outras rochas, o quartzo é um dos minerais
mais característicos e abundantes, ao nível dos continentes, onde ocupa
a segunda posição, com cerca de 16%, logo a seguir aos feldspatos (60%)
e entre mais de três mil e quinhentas espécies conhecidas.
Pela sua abundância,
diversidade e características químicas (grande resistência aos processos
de meteorização) e físicas (elevada dureza e tipo de fractura,
difaneidade, cor, brilho e outras), o quartzo é uma das mais importantes
matérias-primas da sociedade industrial. Acompanhou a história do Homem,
desde a Idade da Pedra aos dias de hoje, como uma das mais procuradas
matérias-primas. Estas potencialidades fazem deste mineral um importante
recurso nas indústrias do presente (com destaque, entre outras, para a
fundição, a cerâmica, a vidraria, a cristalaria, a óptica, a química, a
medicina reconstrutiva, a electrónica, a relojoaria e a joalharia) e com
imensas perspectivas nas tecnologias do futuro.
A abertura ao público do
Museu do Quartzo, edificado junto à escarpa da pedreira abandonada, no
Monte de Santa Luzia, é hoje, felizmente, uma realidade fruto de uma
estreita colaboração entre a Câmara local e o Museu Nacional de História
Natural da Universidade de Lisboa.
Concebido para, numa
primeira fase, de âmbito local, servir as escolas da região e divulgar
conhecimentos entre o cidadão comum, este museu reunirá uma
representação significativa de exemplares desta espécie mineral (nas
suas múltiplas variedades) e das suas numerosas aplicações industriais e
artísticas, a par de equipamentos interactivos adequados e de oficinas
pedagógicas.
A médio prazo, numa
segunda fase, de âmbito nacional, aspira-se a uma colaboração activa com
as universidades e as empresas interessadas no quartzo como
matéria-prima nas mais variadas tecnologias.
Na eventualidade de
previsível sucesso deste embrião do saber, e se as entidades competentes
(a autarquia e/ou o poder central) assim o entenderem e apoiarem, esta
estrutura, por enquanto meramente pedagógica, poderá e deverá evoluir
numa terceira fase para um centro de investigação científica e
tecnológica em torno desta temática, a nível internacional, domínio
amplamente justificável e, por si só, susceptível de atrair patrocínios
por parte de grandes empresas interessadas nesta investigação, como são,
por exemplo, as da relojoaria.
Todos sabemos que não
basta criar uma estrutura como esta que hoje inauguramos. É
absolutamente necessário mantê-la e fazê-la crescer em qualidade e,
também, em quantidade. Para tal há que continuar a dispor do
aconselhamento científico e pedagógico do Museu Nacional de História
Natural da Universidade de Lisboa, previsto no referido protocolo. Numa
perspectiva de futuro, será fundamental criar uma estrutura do tipo de
um conselho científico/pedagógico, integrando elementos das escolas, das
universidades, de outros museus e de centros de ciência, que garantam
aos decisores autárquicos o suporte necessário a fazer deste Museu a
instituição de referência que todos aspiramos.
Será necessário
proporcionar-lhe condições materiais que lhe permitam aceder a locais
referenciados, no território nacional, como jazidas ou simples
ocorrência de quartzo e relacionar-se com entidades envolvidas neste
sector da actividade industrial e comercial. Sendo as Feiras de Minerais
a via mais fácil e económica de adquirir bons e raros exemplares, será
necessário começar a frequentar estes certames quer no país quer no
estrangeiro.
Para tudo isto, todos
sabemos que é preciso financiamento e neste momento o que mais abunda
entre nós é falta dinheiro. É, pois, preciso procurá-lo. Há que explorar
a possibilidade de recurso a patrocínios por parte do sector industrial.
Num empreendimento desta natureza, a projectar internacionalmente, que
tem o quartzo por motivo central, não será difícil encontrar um ou mais
patrocinadores.
Ao terminar esta prosa,
não posso deixar de louvar a autarquia viseense, nas pessoas do seu
presidente, Dr. Fernando Ruas, e do seu vice-presidente, Dr. Américo
Nunes, com quem trabalhei directamente todos estes anos, pelo invulgar
interesse que puseram neste projecto, vencendo as mais diversas
dificuldades e permitindo a concretização de um sonho. |
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A.M. Galopim de Carvalho. Professor
jubilado da Universidade de Lisboa. Geólogo e escritor. Foi diretor do
Museu Nacional de História Natural de Lisboa.
Blogue:
http://sopasdepedra.blogspot.com/ |
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