“Irmãos da Pureza”, ou Ikhwan al-Safa' em árabe, foi
o nome de uma fraternidade de filósofos islâmicos do século X, que se
admite terem vivido em Bassorá, no Iraque. Colectivamente, escreveram
uma enciclopédia com mais de 50 volumes (Rasa'il Ikhwan al-safa')
inspirada nas filosofias pitagóricas, platónicas e neoplatónicas,
aristotélicas e na do próprio Corão.
O principal
objectivo destes “Irmãos” era o conhecimento do Universo, na sua grande
harmonia e beleza, apontando a necessidade de uma preocupação que fosse
para além da existência material.
Nesta enciclopédia, iniciada nos
primeiros anos de 900 e acabada por volta 980, descreveram, com notável
modernidade, os conceitos de erosão, transporte e sedimentação. Diz-se
aí que “a erosão destrói perpetuamente as montanhas e que o escorrer das
águas pluviais arrasta rochedos, pedras e areia para o leito das
torrentes e rios”; diz-se ainda que, “por seu turno, ao escoarem-se, os
rios acarretam tais materiais para os pântanos, lagos e mares, onde os
acumulam sob a forma de camadas sobrepostas”.
Escreveram aí que os continentes,
uma vez arrasados, ficavam ao nível do mar, um ensinamento que é uma
notável antecipação ao conceito de peneplanície formulado, em finais do
século XIX, pelo geomorfólogo norte-americano William Morris de Davis.
Uma outra ideia que, embora
errónea, testemunha a preocupação desta comunidade de filósofos pelo
conhecimento do planeta, diz que, “estando o mar cheio de sedimentos
trazidos dos continentes, o seu nível subia e as águas invadiam as
terras”. Assim, segundo eles, “periodicamente, todos os 36 000 anos, as
planícies se transformavam em mares”. Nesta concepção de ciclicidade,
errónea no que se refere ao tempo, já apontada por Aristóteles, no
século IV a. C., diz-se, ainda, que “as terras actuais são antigos
fundos marinhos e que os mares do presente serão futuros continentes”,
numa outra antecipação que importa registar.
O segundo António Monteiro (in “A Ordem Rosacruz”, Europa-América,
1981), “os Irmãos da Pureza estavam ligados aos Sufis (a corrente
mística e contemplativa do Islão) e aos Ismaelitas e, curiosamente,
regiam-se por normas de conduta semelhantes às que viriam a ser
adoptadas pelos Rosa Cruzes: Vestiam-se como os habitantes dos países
onde viviam, eram abstémios, ensinavam sem nada cobrarem e, acima de
tudo, praticavam gratuitamente a medicina”.”. |