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REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE |
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A.M. GALOPIM DE CARVALHO |
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Biodiversidade e geodiversidade |
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De biodiverdidade viva, ou seja, do conjunto das
espécies biológicas que povoam o nosso mundo, não só falam muito e bem,
biólogos e ambientalistas, como políticos, uns com propósitos sérios e
outros não tanto assim, e cidadãos esclarecidos. O mesmo não acontece
com a geodiversidade de que pouca gente fala e que, não é demais
lembrar, constitui o suporte da biodiversidade, seja na superfície do
planeta, seja nas profundezas oceânica onde ecossistemas muito
particulares vieram revolucionar as nossas ideias sobre a origem da
vida. Assim, sem deixar de falar em biodiversidade, é preciso dar à
geodiversidade a importância que ela tem na sociedade.
Numa primeira aproximação, geodiversidade pode ser entendida como o
conjunto de todas as ocorrências de natureza geológica, com destaque
para rochas, minerais e fósseis (testemunhos de uma biodiversidade
morta, passada), dobras e falhas, grutas naturais e galerias de minas,
relevos e depressões terrestres e submarinos, o rios, glaciares,
desertos, vulcões, etc.
Em terra
e em condições favoráveis, agentes físicos, químicos e biológicos
alteram a capa externa das rochas, dando origem ao solo[1],
definido como uma entidade presente na imensa maioria das terras
emersas, na interface da litosfera com as restantes geosferas que a
rodeiam, ou seja, a atmosfera, a hidrosfera e a biosfera. O solo
estabelece, assim, a fronteira entre a geodiversidade e a
biodiversidade. Sem
solos não
haveria prados, charnecas ou florestas, nem hortas, searas ou olivais,
nem toda a biodiversidade animal que povoa a superfície da Terra.
Sabemos que a componente oxigenada da
atmosfera que nos rodeia e nos assegura a vida é o resultado de uma
interacção constante e contínua que sempre existiu entre os seres vivos
e a cobertura gasosa do planeta. Muito diferente da actual, a atmosfera
primitiva, praticamente, não tinha oxigénio. Foram organismos muito
simples, como cianobactérias e algas marinhas microscópicas, que
produziram, por fotossíntese, todo o oxigénio que viria a ser necessário
à respiração dos animais. Trata-se de um processo que continua a ser
assegurado por todas as plantas que nos rodeiam. É por isso que dizemos
que os parques arborizados, no interior das cidades, são os seus
pulmões. E é por isso que lutamos pela defesa de todas as florestas, de
todas as latitudes e altitudes, das quentes e húmidas, como a amazónica,
à taiga canadiana e siberiana, pois são elas que fabricam a parte mais
importante do ar que respiramos. As
rochas, a água, o ar e os seres vivos ou, por outras palavras, a
litosfera, a hidrosfera, a atmosfera e a biosfera sempre interagiram ao
longo da história do “Planeta Azul”. Deste modo, nós e a biodiversidade
que hoje nos rodeia somos uma consequência dessa interacção, sendo a o
cérebro humano o mais recente e complexo resultado desse convívio.
Para além das rochas, dos minerais,
dos fósseis e dos aspectos fiiográficos atrás referidos, a
geodiversidade abarca outros temas de estudo, não menos importantes,
como o magmatismo e o metamorfismo, o nascimento e a evolução das
montanhas, a destruição do relevo e o rasoirar das imensas planícies e
acumulação das rochas sedimentares, os sismos e a deriva dos
continentes. Os recursos minerais, nomeadamente, os minérios de ferro,
de alumínio, cobre, ouro e muitos outros, bem como as fontes
energéticas, sejam elas os combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás
natural), a geotermia ou a nuclear, foram e são determinantes na
História da Humanidade. As águas subterrâneas e o conhecimento dos
terrenos, com vista à construção de barragens, pontes, estradas e outras
grandes obras de engenharia, são suportes fundamentais da civilização.
Todos estes domínios da geodiversidade e, ainda, a defesa do ambiente
natural e a preservação do património geológico e paleontológico
representam aspectos práticos ao serviço de uma sociedade em
desenvolvimento sustentado, com profundas implicações económicas,
sociais e políticas, à escala local, regional e global. Acresce ainda, e
é bom não esquecer que, nos seus domínios fundamentais, a geodiversidade
sempre teve a maior importância no pensamento filosófico, desde a
Antiguidade aos nossos dias. |
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[1]
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Corpo natural, complexo e dinâmico, formado na capa superficial da
terras emersas, decorrente do processo de meteorização, constituído por
elementos minerais e orgânicos, caracterizado por uma vida vegetal e
animal própria, sujeito à circulação do ar e da água e que funciona como
receptor
e redistribuidor de energia solar. |
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A.M. Galopim de Carvalho. Professor
jubilado da Universidade de Lisboa. Geólogo e escritor. Foi diretor do
Museu Nacional de História Natural de Lisboa.
Blogue:
http://sopasdepedra.blogspot.com/ |
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