"tu és eu e a minha circunstância"
Instalação com fotografias de JOSÉ BARRIAS e PAOLA MATTIOLI na GALERIA
DIFERENÇA
Inauguração: Sábado 17 de Setembro 2005, das 15h00 às 20h00
às 18h00 - BAILE com os O'QUESTRADA!
(Exposição patente de 17 de Setembro a 29 de Outubro 2005)
tu és eu e a minha circunstância
A história desta exposição de José Barrias e Paola Mattioli é a história de
um reencontro e de uma cumplicidade.
Que se diga então, para que se saiba, que Paola e José se reencontraram há 3
ou 4 anos numa inauguração de uma Galeria em Milão. E que se diga, pelo
interesse estatístico do facto, que Paola nessa ocasião teria dito a José
que "quando o via se sentia mais tranquila", acrescentando: "não somos mais
de 500" Š Esta declaração optimista soou ao ouvido de José como uma espécie
de convite para uma contracção da "parentela" relativamente à ideia de uma
melhoria do bem-estar, do género daquele que este ano Renzo Arbore sugeriu
com o mote "meno siamo, meglio stiamo" (menos somos, melhor estamos) e que
foi o mote do programa televisivo dedicado a si próprio e à sua música
preferida (Jazz e Blues), transmitido ao Sábado pelo canal I da RAI a partir
da meia-noite e um quarto. Hora ingrata para as multidões, perfeita para os
fiéis (menos somos, mehor estamos) Š Foi um sucesso, de público e de crítica
não obstante a hora tardia, como sempre acontece no caso de Arbore, pela
invenção. Pode-se assim dizer que Paola e José se apresentam na Diferença
com este conceito de fidelidade e, por isto, progressivamente satisfeitos.
Depois do reencontro Paola e José participaram juntos em 2 exposições, em
Milão uma, perto de Milão a outra, ambas em 2004. Começaram a frequentar-se
com assiduidade e com recíproco proveito para as própias cabeças. Até que um
dia, aproveitando uma dessas exposições, Paola fotografou José. Fez-lhe o
retrato, uma série de retratos, em frente de uma parede que ele pintara e na
qual escrevera a giz um poema de Carlos Drummond de Andrade. José escreveu e
por vontade de Paola escreveu-se também, de maneira que o seu corpo escrito
se inscrevesse e confundisse nos retratos com o corpo da escrita mural. São
4 destes retratos que Paola mostra agora na Diferença. E na parede da
Galeria renasce o poema de Drummond, passando José a ocupar em fotografia de
Paola o lugar que outrora realmente ocupou quando ela o fotografou em corpo
vivo.
Do lado de Paola a luz, do lado de José a sombra que é, como se sabe, o
outro lado da luzŠ Quatro retratos de José feitos por Paola e cinquenta
auto-retratos de José em visita ao seu próprio estúdio em Milão. Dois
olhares, um único sujeito: tu és eu e a minha circunstância, portanto.
É a primeira vez que Paola revela os retratos de José em público e é a
primeira vez que José mostra a sua série Desdobramentos em Lisboa. Mostrou-a
anteriormente no Porto, no CPF, em Setembro de 2004. Expõe-a agora em Lisboa
a outros olhares e noutro contexto. Mas também aos mesmos olhares que já
viram e se calhar não viram bem. De resto só se repete aquilo que nos dá
prazerŠ Salvo os erros, que sendo inevitáveis por isso se repetem sempre,
mas sem prazer. Não é o caso, neste caso. Porque o inconsciente usa sempre
sapatinhos vermelhos.
PAOLA MATTIOLI
Paola Mattioli nasceu em Milão. Estudos de filosofia, concluídos com uma
tese sobre a linguagem da fotografia. Foi assistente de Ugo Mulas. Em 1970
assume-se como fotógrafa, seja do ponto de vista profissional (colabora com
vários jornais e revistas italianas), seja "en artiste" (inicia a expor
colectivamente e individualmente).
Sobre o seu método de trabalho pode-se dizer que este se articula
fundamentalmente a 2 níveis relacionais. Um nível narrativo "eu conto uma
história" e um nível conceptual "eu conto uma história em fotografia.
Estes dois planos da linguagem "eu conto uma história e conto-a em
fotografia" percorrem uma trajectória oscilante entre o marco e o micro
mundos : entre as histórias de empenho social e político e o retrato como
história de empenho individual. Mas entre estes 2 mundos algo é comum : é
comum a tentativa de compreender, através da linguagem fotográfica, a
história das histórias contadas, interrogando com o olhar aquilo que lhe é
dado a ver. Estas 2 atitudes materializam-se no trabalho de Paola Mattioli
através dos meios eleitos da sua formação : o meio mecânico ( a máquina
fotográfica), o meio químico (a câmara escura), e o meio filosófico ( o seu
pensamento pensante). Daqui resulta que o seu trabalho se manifeste de uma
forma híbrida, compósita, onde o elemento lúdico e o elemento emotivo se
misturam com a distância que é a forma "obrigatória" do seu instrumento (a
máquina fotográfica), a qual todavia é posta ao serviço de um humaníssimo
desejo de identificação dos significados cruciais e emblemáticos das
histórias que narraŠ
Últimamente o seu olhar curioso viaja frequentemente em África. Os retratos
africanos (as Sinhares, Sene Camara, e outorsŠ) são a sua mais recente
aventuraŠ Por detrás vigiam-na o seu "Capolavoro" (empenho social e
político) e os seus retratos de Ungaretti (empenho individual), editados por
Vanni Scheiwiller.
JOSÉ BARRIAS
José Barrias nasceu em Lisboa. Entre 1950 e 1967 viveu no Porto onde passou
fugazmente pelo Curso de Pintura da Escola de Belas-Artes. Em 1967/68 viveu
em Paris e desde 1968 até hoje em Milão, salvo uma passagem por Lisboa entre
1979 e início de 1981.
Desde 1971 a sua obra começa a configurar-se de certo modo como uma metáfora
de um trajecto cinematográfico composto de curtas e médias metragens
encadeadas entre si com episódios focalizados no horizonte de uma longa
metragem. O ciclo Obstbuch / O livro dos frutos situa-se entre 1972/73 e
marca a descoberta das características que em seguida se viriam a revelar
estruturais do seu trabalho: a cadência cíclica, a consciência da obra como
legado de histórias anteriores, a adição de fragmentos dentro de um sistema
narrativo polissémico, interactivo e em movimentoŠ
O seu trabalho consiste numa tentativa conciliatória de 2 princípios
aparentemente antitéticos: se por um lado, como um artifício ou uma astúcia,
adopta o critério de ciclos irrequietos (quase todos) para reforçar o
princípio da "sabedoria da incerteza" como forma de resistência à
experiência da arte como pura ortodoxia, por outro lado defende o princípio
da "suspensão da incredulidade" (Coleridge) como regra fundamental para o
apuramento da verdade na arte, ou seja como um pacto de recíproca aceitação
fabulatória entre autor e espectadorŠ Ambos convergem para uma aporia que é
a razão pela qual, como disse Umberto Eco, "os homens, desde o princípio da
humanidade, contam histórias" na tentativa de "dar forma à desordem da
experiência" Š
GALERIA DIFERENÇA
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