MARIA ALICE MILLIET:
Irene Buarque, Pinturas

28 de Novembro de 2006 / 13 de Janeiro de 2007
A obra de Irene Buarque constitui desde sempre uma indagação sobre as potencialidades gestálticas do espaço plástico. Tendo trabalhado com insistência sobre o suporte bidimensional – inicialmente na prática da serigrafia, depois na pintura e na fotografia – o fenómeno da terceira dimensão ilusória, evolui para o agenciamento tridimensional da forma, ou seja para a criação ambiental.

A redução do repertório formal ao predomínio de figuras geométricas deriva do rigor intelectual que norteia toda a sua produção e permite uma clara sintaxe plástica. Convém lembrar que para os artistas jovens na década de 70, o ideário construtivo era referência importante, fruto do desenvolvimento dos movimentos concreto e neoconcreto no Brasil dos anos 50.

Na experimentação do efeito de profundidade com imagens planas realiza séries de pinturas, onde os prismas inscritos num quadrado descrevem giros no espaço sugerindo uma tridimensionalidade virtual. Nestas obras as sobreposições e as transparências obtidas pela variação cromática reforçam a ilusão espacial.

Numa evolução consequente, a pintura de Irene assume carácter objectual quando feita sobre triângulos, prismas ou quadrados recortados em madeira. A presença física da obra impõe-se por sua dimensão relacionando-se com o espaço circundante. Nesta fase há uma restrição cromática à bipolaridade branco-preto e às nuances cinza-pratas de modo a concentrar a atenção nos efeitos ópticos. Cada obra retém a sua autonomia enquanto sistema fechado de relações internas podendo aparecer isolada ou em conjunto quando a artista confere à organização do todo uma forte conotação ambiental. Fica claro que a introdução de formas iniludíveis num dado ambiente instaura o questionamento fenomenológico do espaço desestabilizando as relações pré-existentes.

 

 

Maria Alice Milliet

MAM São Paulo