Fragata D. Fernando II e Glória

 

NUNO GONÇALVES RODRIGUES


O seu nome de baptismo advém do rei-consorte D. Fernando II (1816 – 1885) e da rainha D. Maria II (1819 – 1853), cujo segundo nome era Glória.

Fragata D. Fernando II e Glória

A história desta fragata começa em 1821 quando o Almirante Cândido José Mourão Garcez Palha (1775-1850), chefe de esquadra,  Intendente da Real Marinha de Goa e Inspetor dos arsenais de Goa, propôs ao rei D. João VI (1767 – 1826) – por intermédio do Governo Geral – a sua construção em Damão, uma vez que, a mão de obra era mais barata e tinha o bónus de estar perto de uma floresta de árvores de teca. Este tipo de madeira era considerado o mais apropriado para a construção de navios.

A aprovação real acabou por chegar – vários anos depois – juntamente com os desenhos e as instruções para a construção da “Fragata Nova de Damão” como foi primeiramente conhecida. Foi financiada com os rendimentos obtidos do comércio do tabaco e subsídios do governo de Macau.

Encarregados da construção estiveram Jadó Simagi (Mestre, 1º Construtor) e Gil José da Conceição (Guarda Marinha Construtor Naval). Um dos pormenores mais importantes era o espaço e boas acomodações, dado que, fazia viagens de três meses (sem escala) e podia transportar, entre passageiros e tripulação, até 650 pessoas.

A 22 de Outubro de 1843 foi lançada à água comandada pelo Capitão-de-fragata Torcato José Marques. A fragata fez a viagem para Goa com guindolas, ou seja, mastros improvisados e seria nesta cidade que os mastros foram colocados, para além do massame (conjunto de cabos fixos e de laborar usados no aparelho do navio) e das velas que vieram de Lisboa.

Em 1845, ainda não completamente concluída na parte interior, parte de Goa – com 273 pessoas a bordo – a 2 de Fevereiro e chega a Lisboa a 4 de Julho. Na primeira viagem oficial transportou para a Madeira, D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil (1798-1834) e sua segunda esposa D. Amélia (1812-1873) e respetiva família. Durante 33 anos fez 100.000 milhas naúticas – o que equivale a cinco voltas ao mundo –  fazendo a ligação entre a metrópole e os nossos territórios na Índia, Moçambique e Angola.

Em 1878, e já retirada da sua atividade de carreira da Índia, faz uma última viagem aos Açores e Madeira, com o objetivo de assegurar a instrução aos aspirantes de Marinha.

Apesar de ser um navio de passageiros estava preparado para receber sessenta canhões e a sua guarnição variava entre 145 a 379 homens, talvez por essa razão, em 1889, iria ser transformada para servir como escola de artilharia.

Já no século passado, mais concretamente em 1938 serviu como Navio Chefe das Forças Navais de Portugal continental, isto depois de já ter servido como prisão para os presos políticos.

Em 1940 novas obras são realizadas para que passe a ter a função de orfanato – fundeada a meio do rio Tejo – e com estas funções ficaria até 1963, ano em que um incêndio destruiu praticamente todo o navio – felizmente sem perda de vidas – tendo sido depois rebocada para uma parte do rio onde não afetasse a navegação e por lá permaneceu encalhada até 1992.

No ano seguinte, foi para o estaleiro Ria Marine, em Aveiro, onde com o apoio técnico do Arsenal do Alfeite foi remodelada com o intuíto de ficar o mais aproximadamente possível da construção original.

Em 1998 o navio é reintregado na Marinha de Guerra Portuguesa como Unidade Auxiliar, ficando pouco tempo depois ao cargo do Museu de Marinha.

Esteve em exposição na Expo’98, sendo visitada por cerca de 900.000 pessoas.

Em Setembro desse ano e reconhecendo que a fragata é um marco na preservação e restauro do Património Marítimo Mundial, a World Ship Trust atribuiu-lhe o Maritime Heritage Award, premiando a excelência do restauro, preservação e musealização levada a cabo neste histórico navio.

Poucas pessoas sabem que a última nau portuguesa da carreira da Índia se encontra aportada em Cacilhas (Almada) desde 2007 e que está aberta ao público para quem a queira visitar.


Fontes:

http://dfernando.marinha.pt

http://www.revistademarinha.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1444:dfernando-e-gloria&catid=108:historia-maritima&Itemid=295

http://www.m-almada.pt

http://www.guiadacidade.pt/pt/poi-fragata-dom-fernando-ii-e-gloria-21215

https://ccm.marinha.pt/pt/dfernando/historia/viagens?fbclid=IwAR0xN9RBi3ujfV_lgmP234MEpbXz3FTet81pxPlmamD9gLQ8E3CL5wjJpf4

http://www.arqnet.pt/dicionario/garcezpalhajm.html