Formação permanente do professorado

PATRÍCIA AP. BIOTO-CAVALCANTI  &  DÉBORA NERY CIRILO

Formação permanente do professorado: novas tendências, de Francisco Imbernón
Tradução de Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Cortez Editora, 2017, 118 páginas.


Patrícia Ap. Bioto-Cavalcanti (Brasil). Pedagoga, Doutora em Educação pela PUC-SP com tese sobre a configuração do professor moderno nos tratados pedagógicos dos séculos XVI e XVII. Professora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão e Práticas Educacionais (PROGEPE) da UNINOVE-SP. Autora de livros e capítulos sobre formação de professores, currículo e políticas educacionais. Também pesquisa sobre a história da formação de professores. Líder do Grupo de Pesquisa Formação de Professores: contextos, epistemologias e metodologias.

 

Débora Nery Cirilo. Nascida em Santo André, município do estado de São Paulo, Brasil, em 1982. Possui Graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia, pela Universidade Paulista (2011), Pós-graduação em Educação Inclusiva e Políticas Educacionais e em Psicopedagogia. Mestranda em Gestão e Práticas Educacionais pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Atualmente atua como Professora Assessora de Educação Inclusiva na Prefeitura Municipal de Santo André -SP.

 


Francisco Imbernón, mestre e doutor em Filosofia e Ciências da Educação. É catedrático da Faculdade de Didática e Organização Educacional da Universidade de Barcelona. Em suas obras o autor sempre expressa sua preocupação com a teoria e a prática educativa e na formação permanente dos professores nos diferentes níveis educacionais.

A obra Formação permanente do professorado: novas tendências, foi dividida em 12 capítulos que instiga o leitor refletir sobre o papel e atribuição do professor, além da necessidade de mudanças na formação docente. Logo na apresentação, escrita pelo próprio autor, é destacada a necessidade de delimitar bem a função dos professores, bem como como propor mudanças na formação dos professores de maneira a garantir que os protagonistas sejam os professores e, além disso é preciso considerar o contexto em que os sujeitos estão envolvidos, pois como diz o autor “O contexto condicionará as práticas formativas e sua repercussão no professorado e, é claro, a inovação e a mudança” (p.10).

No capítulo 1 “Os avanços na formação permanente do professorado”, o autor destaca que, apesar dos avanços, os estudos sobre a formação inicial são muito mais antigos que a formação permanente do professorado. Porém, ambos aspectos formativos exibem a mesma preocupação que é a de compreender quais caminhos seguir para sua efetiva realização. Para tanto faz-se necessário arriscar-se buscando novas alternativas a fim de promover uma prática formativa que seja capaz de superar a desmotivação e acomodação dos professores e que resulte em mudanças tanto conceituais quanto atitudinais.

O autor, no capítulo 2 intitulado “As mudanças sociais orientam-nos o caminho”, inicia com a afirmação de que é preciso analisar o que devemos desaprender, reconstruir sobre o velho ou mesmo construir de novo. A partir daí as questões “É possível modificar as políticas e as práticas da formação permanente do professorado? Como as mudanças atuais repercutem na formação do professorado?” (p. 18), são pontos centrais para o desenvolvimento do capítulo. O autor ainda nos apresenta elementos que influenciam na educação e na formação do professorado remodelando a ação docente, “Em qualquer transformação educativa, o professorado deve […] perceber um benefício profissional em sua formação e em seu desenvolvimento profissional” (p. 23).

O olhar, reflexivo e questionador, que o professor deve ter para si mesmo e seu desenvolvimento profissional é tratado no capítulo 3 cujo título é “O que aprendemos?”. Segundo o autor a formação do professorado requer um clima colaborativo e de disponibilidade para conquistar uma melhoria na aceitação de mudanças e de inovação das práticas. Os professores precisam se sentir valorizados, para isto é fundamental que participem de todas as etapas do processo, isto é, planejamento, execução e avaliação e suas opiniões devem ser consideradas.

No capítulo 4, “Também aprendemos que há obstáculos a transpor”, Imbernón destaca alguns obstáculos que a formação do professorado encontra e que podem vir a ser limitadores. Seguindo para o capítulo 5, intitulado “Novas tendências na formação permanente do professorado”, o autor, nos conduz a reflexão, expondo as formações cujo formato é predominantemente transmissor e constante, que não consideram o contexto escolar e muito menos o professor como protagonista. Segundo o autor, além das mudanças nas políticas educacionais os professores devem reivindicar maior autonomia profissional e sua capacidade de se formar e gerar mudanças.

Mudanças no processo formativo apresentado aos professores é foco de discussão no capítulo 6, denominado “A formação permanente do professorado deve incidir nas situações problemáticas do professorado”, pois nos momentos formativos são apresentadas soluções para situações genéricas que julgam ser comum a todos os professores. Desta forma, a crítica é feita a fim de que seja considerada a realidade de cada escola e professor, ou seja, considerar o contexto no qual professor e aluno estão ineridos.

O autor segue com essa discussão no capítulo 7, “A formação permanente do professorado deve desenvolver a colaboração”, destacando o quanto é preciso progredir num trabalho colaborativo, mas que não seja forçado, já que o individualismo faz parte de uma cultura escolar. Essa transformação deve ser feita por meio da formação permanente do professorado, assim o autor destaca o trabalho colaborativo do coletivo docente e o clima afetivo como pontos fundamentais. Vale ressaltar também que o autor traz de uma maneira muita objetiva a diferença entre o individualismo, barreira para o trabalho colaborativo e, a individualidade, sendo esta uma característica necessária ao professorado para que possa refletir sobre sua própria prática.

O capítulo 8, intitulado “A formação permanente do professorado deve potencializar a identidade docente”, faz uma abordagem muito direta sobre a necessidade de se construir uma identidade docente a partir do momento em que o professorado deixa de ser objeto para ser sujeito nas tomadas de decisão das próprias formações. Como bem destaca o autor “[…] esse protagonismo é necessário e, inclusive, imprescindível para poder realizar inovações e mudanças na prática educativa e desenvolver-se no pessoal e profissional.” (p. 77).

“A formação permanente do professorado deve criar comunidades formativas”, é o título do capítulo 9, que reforça a importância do trabalho colaborativo por meio do conceito de comunidade, em que os envolvidos nos processos educativos possam refletir e aprender, de forma conjunta, sobre sua prática.

Imbernón no capítulo 10, “A formação permanente do professorado deve ser introduzida no desenvolvimento do pensamento da complexidade”, aponta que as mudanças solicitadas ao professorado na formação fazem parte de um processo muito complexo, visto que mudanças não são simples. O autor reforça ainda que ensinar nunca foi tarefa fácil e que atualmente se tornou mais complexa devido aos diferentes elementos que compõem os contextos que precisam ser considerados.

É preciso também cuidar do desenvolvimento atitudinal e emocional do professorado, uma vez que a baixa autoestima, desmotivação e passividade são elementos que interferem na conquista das mudanças educativas que buscamos com a formação permanente. Esse é o foco de discussão do capítulo 11, cujo nome é “Formação permanente do professorado deve ter em conta o desenvolvimento atitudinal e emocional do professorado”. O autor destaca ainda que as formações devem colaborar para que os vínculos afetivos entre o professorado sejam estabelecidos e que nas formações seja trabalhado o autoconhecimento, em que os sujeitos possam conhecer-se, motivar-se e juntos desenvolverem a autoestima docente.

No capítulo 12, “E o papel dos formadores de formadores na formação permanente do professorado?”, o autor faz esse questionamento provocativo e no decorrer do texto nos faz refletir sobre o papel dos formadores. Faz uma crítica às formações em que os formadores são “experts” e que seu papel seria o de apenas atualizar o professorado. O que se espera realmente é que “[…] o formador deve assumir mais um papel de prático colaborador num modelo mais reflexivo […]” (p. 103). Isso também nos revela a urgente necessidade de mudanças nas modalidades e estratégias formativas.

O autor traz em seu livro diferentes conceitos importantes a serem discutidos para que se possa efetivamente trabalhar com a formação permanente do professorado num viés reflexivo, colaborativo e dialógico.

Esse livro é interessante para professores bem como para coordenadores pedagógicos e gestores que atuam na formação docente, pois contribui para uma reflexão sobre a necessidade de se pensar uma formação permanente que considere o professor como protagonista, o contexto em que está inserido e os aspectos necessários para desenvolver um trabalho colaborativo no ambiente escolar.