Nenhum pressentimento erra por si mesmo.
É efeito de um entusiasmo propenso à sabedoria.
O acaso seria então fruto de um erro clássico: o presságio imprudente.
Porém o que fazer com a prévia escolha de rumores e suspeitas?
Como planejar o esmo se a fortuna é incerta?
O erro está direcionado contra o inimigo.
A flutuação de caráter, a subversão, a dúvida – este joio infesta o jogo,
ao tecer uma constância que não passa de camuflagem.
Um simples erro tipográfico já causou muitas mortes.
Porém a contrafação do erro tem sido um grande negócio,
a fraude como uma inesgotável fonte de energia.
Quanto mais desvairada a doutrina, mais acerto:
moeda sempre apropriada à beatice e à corrupção.
Não se trata de uma encenação. O erro está escrito.
Lutamos contra ele, mas erramos ao querer preservar
certa ordem de erros. Como confiar nos livros,
se sabemos como foram escritos? Porém como escapar deles,
eliminar a crônica do que somos e não somos,
as falsas atribuições, a crença em reinos intemporais,
brochuras de frustrações e exorcismos?
Haverá livro sem julgamento? Afinal, sua publicação
estabelece uma verdade, e acaba por eliminar as demais.
Não há então uma heresia possível? A narração do erro,
sua indução, um escalpo divino, acaba confirmando
toda sorte de desvario que o inquisidor não soube evitar.
Como pressentir o original, se a cópia é tão perversa?
Como se desfazer da cópia, ante a presunção do original?
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