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Floriano Martins..... |
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Eunice |
Tua ausência me enfeitiça e renasces
como uma fraude por repetidas noites.
Pressinto a espreita dos gemidos pegajosos:
teus lábios sempre no limite. Nada em mim
jamais esteve a salvo de tua voragem.
Quando me encontraste eu estava louco.
Recolhia pequenos pássaros congelados
e mascava seus vôos em rituais de pranto.
Tu me deste a efígie negra de teu ser,
como um último recurso e livre rota celeste
por entre deuses, desertos, misérias, nomes.
Moí o vazio à procura de como empregá-la,
a imagem lutuosa de teu afastamento.
Percorri os círculos brancos da memória,
com suas bestas cochichando ardilezas,
até que não houvesse mais noites em mim
sem a tua nudez invisível: falso terror
com que me golpeias o vôo cristalizado
dentro dos pássaros que se foram comigo.
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Floriano Martins (Brasil, 1957) é editor da Agulha – Revista de Cultura (www.revista.agulha.nom.br), e curador da Bienal Internacional do Livro do Ceará. |
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