Finlândia & outros poemas

 

JOAQUIM SAIAL


Joaquim Saial (1953, Vila Viçosa, Portugal) é mestre em História da Arte e licenciado em Ciências Humanas e Sociais e em Serviço Social. Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e docente dos ensinos médio e superior (Instituto de Novas Profissões e Universidade Católica Portuguesa), publicou “Estatuária Portuguesa dos Anos 30. 1926-1940” (1991): “Manuel Gamboa. A Arte por Vida” (1998); “Capitania, Romance de Cabo Verde” (2001); “Seixal. Arte Pública” (2009) (livros esgotados) e “Poemas para a Hora de Ponta” (2020). Participou em outros oito livros e escreveu centenas de artigos em publicações de Portugal, Cabo Verde, Espanha e Roménia e em catálogos de arte. Realizou dezenas de palestras sobre arte, cultura e história e diversas outras actividades, na área da cultura e das artes, em Portugal e no estrangeiro. Foi director da revista de cultura “Callipole” (Vila Viçosa), onde escreve há 26 anos e é cidadão honorário da Ribeira Grande de Santiago, Cabo Verde. É autor dos blogues “Ibn Mucana” (poesia) e “Textos da Tinta Permanente” (prosa). Publicou poesia na revista galega “Palavra Comum” e nos blogues “Ibn Mucana”, “Gazeta da Poesia Inédita” e “Casa do Atalaião”.


Finlândia

 

Pátria encaixada entre Suécia, Noruega

e o urso russo, eterno inimigo,

é banhada pelo Báltico.

 

E a capital é Helsínquia,

toda a gente o sabe.

 

Depois, conhecemos…

 

Alvar Aalto, o homem da arquitectura orgânica

e do mobiliário de design incomum,

as sete (ou oito) sinfonias de Jean Sibelius,

não esquecendo a majestosa Karelia Suite,

e a Guerra de Inverno contra o adversário do costume

em cujo topo esteve Simo Häyhä, o “Morte branca”,

sniper mais mortífero de sempre.

 

Pois, também temos a Lapónia,

as renas,

o sol da meia-noite,

lagos e mais lagos

e Urho Kekkonen, longo presidente.

 

Pronto, aí temos a Finlândia

nossa conhecida.

 

Pouco, não é?

Mas, enfim, falem lá do Togo…

ou do Burundi.


Estereótipos

 

Os cheyennes são vermelhos e tocam flauta.

Os russos são brancos e tocam balalaica.

Os portugueses também e tocam guitarra.

E os gregos aspas, aspas e tocam bouzouki.

E os argentinos igualmente e tocam bandoneón.

Os cabo-verdianos são crioulos e tocam cavaquinho.

Os mulatos brasileiros tocam cuíca.

Os chineses são amarelos e tocam guzheng.

Os negros do Harlem tocam trompete.

Os marcianos são verdes e tocam…

…mas que raio de instrumento tocam os marcianos?


A porta-bandeira e o mestre-sala

 

O porta-bandeira e o batalhão de Cavalaria

desfilam no Rossio, sala de visitas da cidade,

lembrando a data em que o exército inimigo

içou bandeira branca junto à Porta d’El-Rei.

 

Sobre a porta da Repartição de Finanças

tremula uma bandeira nacional, de pano,

e a sobrepujar a porta da sala de espera

rasga-se uma bandeira de vidro colorido.

 

Mencionado isto, parece-me, já não vou aqui falar

nem na porta-bandeira nem no mestre-sala,

reis da escola de samba Filhos do Sol

que deram título a este poema,

assim a modos de esquisito,

de portas, bandeiras e salas.