Falta da face feminina na matriz cultural

 

ANTÓNIO JUSTO


A matriz cultural (talvez mais adequado dizer “patriz” cultural!) em que vivemos, é masculina e, como tal, discrimina de maneira sistemática a mulher ao não evidenciar o rosto da feminilidade nela! Nesta matriz ainda se aceita como natural ver os homens a explicar o mundo, partindo do princípio que eles é que sabem como o mundo funciona. A não integração da feminidade de maneira sistémica na matriz provoca discriminação e lutas correspondentes à forma de estar desse modelo cultural…

O que se mantém em silêncio é que esta atitude é a consequência da matriz masculina que nos orienta e por isso estamos a lidar principalmente com um problema sistemático que se expressa em papéis e evita o talento feminino na qualidade de perito. Seria trágico para a sociedade se homens e mulheres entrassem numa luta de uns contra os outros na sequência sistémica orientada para o poder e para a dominação…

O importante será ter um espaço em que se questione tudo para que os estereótipos sejam quebrados e se possibilite o surgir de uma nova cultura de relações a um nível básico interior e exterior….

As mulheres não são melhores nem piores que os homens; umas e outros são diferentes, mas ambos portadores dos princípios da masculinidade e da feminilidade com diferentes predominâncias…

A injustiça feita às mulheres assenta no paradigma masculino que dá forma a todas as culturas e sociedades mundiais, obstruindo, basicamente, o surgir de uma igualdade dos dois rostos na sociedade…

… Como a estrutura masculina se afirma pela luta, também elas usam como estratégia essa forma de afirmação, ainda condicionada mais ao ter e adquirir do que ao ser!   É demasiado evidente a falta da face feminina na matriz cultural: uma nova matriz em que masculinidade e feminilidade fluem poderia ser simbolizada e expressa numa mesma moeda composta da face feminina e masculina!…

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski pretende concretizar a obrigatoriedade do alistamento de mulheres no serviço militar (1).

Tal intento, já antes legalizado, é, no meu entender, uma medida contra a feminilidade!…

Salvaguardada a liberdade de decisão da mulher, não é justo o argumento de que a mulher, para assumir responsabilidade pelo seu Estado, tenha de fazer o serviço militar e tenha de participar diretamente na guerra (mesmo com o argumento da igualdade!), dado ela, também nesse esquema, poder assumir diferentes formas de serviço. Além disso é um facto que grande parte das mulheres já contribuem significativamente para a sociedade ao terem e criarem filhos (facto que numa sociedade de modelo não tão masculino deveria recompensar a mãe, monetariamente, como se fosse, durante um certo período, um soldado militar em serviço) …

É preciso apostar no poder renovador que a mulher tem (3).


António da Cunha Duarte Justo

Texto completo e notas em ©Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7166