NICOLAU SAIÃO & JOAQUIM SIMÕES
Vítima de doença prolongada morreu a poetisa Ana Luísa Amaral, aos 66 anos.
Também tradutora e ensaísta, é autora de mais de três dezenas de livros. Na academia, dedicou-se às áreas de poéticas comparadas e estudos feministas. Foi galardoada, por várias vezes, com prémios significativos certificando a sua alta qualidade de escritora.
Citamos, dos jornais: No ano passado, em entrevista à Lusa a propósito da edição do livro “Mundo”, defendeu que a “poesia não tem de ter mensagem nenhuma”, criticando mesmo a “galeria de diferentes verdades” que “extremaram” as discussões de forma “insuportável”. O que tem de haver na poesia, dizia, “é a paixão pela língua e pelo que os outros escreveram. Todo o escritor é um leitor. Sempre”. “Isso é uma ideia um bocadinho neorrealista, na chamada poesia comprometida, que a poesia tem que ter uma mensagem, de passar uma mensagem da desigualdade, da luta de classes. Nós, enquanto seres humanos e cidadãos e cidadãs, sendo comprometidos com o mundo, é natural que essas preocupações de alguma maneira transpirem para aquilo que nós fazemos, que nós escrevemos”, explicou.
E mais adiante: Foi por isso que a “chocou bastante”, certa vez, quando alguém lhe disse que “as palavras não lhe interessavam para nada, o que lhe interessava era o que elas convocavam”. “Mas então, onde está a poesia? A poesia é feita de palavras”.
Evidentemente que quem lhe disse tal coisa tinha plena consciência do facto. Mas o que lhe interessava realmente, ao veicular tal conceito, era cifrar um dado: para esse tipo de gente o que conta é a supremacia da propaganda – e da mais rasteira. Como a que se praticava nas ditaduras, todas elas, de que este tipo de gente é partidária.
Ana Luisa Amaral, era pois não só uma autora de qualidade mas também uma pessoa sensata e lúcida.
Lamentamos profundamente o seu desaparecimento e apresentamos à sua família as nossas condolências.
Nicolau Saião
Joaquim Simões