EXTRA!!! EXTRA!!! Culpa! Pecado! Juízo Final!!!

 

ZUCA SARDAN


Escrito no muro: Só Jesus tira o demônio das pessoas

Reytor (pálido) – E é verdade. O demônio tem um grude terrrível… Na classe C, naturalmente, o demônio gruda mais.

Bentinho Ferraz – E porque justamente na classe C?

Reytor, sottovoce – C é a letra preferida do demônio …

Bentinho – E porque a letra C é a preferida do demônio ?

Reytor (irritado) – Ora, Bentinho !… vá lá, e pergunte pra ele !

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EXTRA!!! EXTRA!!! CULPA!!! PECADO!!! AUTOFLAGELAÇÃO!!! NO LYCEO PITANGA: REFLEXÕES ESCOLÁSTICAS, AULA DA DISCIPLINA “JUÍZO FINAL”E SERMÃO DA PAPISA!!! COLABORAÇÃO ESPETACULAR DE JAVIER GÁLVEZ!!!

POESIAS DE JAVIER GÁLVEZ

transcrição e apresentação  de Zuca Sardan

Javier Gálvez, o fotógrafo das chapas pretas, é um poeta singular… Um surrealista erótico, com fortes marcas de Mallarmé e da Pataphysica. Escreve em folhas longuíssimas, de cerca duns 50 cm. e estreitíssimas, de cerca duns 10 cm. Volta e meia as letras, meio esfumadas, vão por cima das fotografias de cascas de árvores, de velhas portas rachadas, de muros desmoronados, dalguma risonha musa maneta, um botequim miserável, um cachorro dormindo, uma tabuleta rachada, que Javier flasha a meio metro de distância, ao crepúsculo, o que transforma as cascas das árvores em visões fantasmagóricas …  Como me faltam, veteraníssimo escritor que sou, os conhecimentos das modernas técnicas de reprodução eletrônica, me sobraria de utensílios tão só um toco de lápis e um papel carbono, que não dão conta do recado. Daí, a exemplo do século XIX, onde a fotografia em jornais e revistas eram uns simples borrões, as revistas e livros de arte eram obrigados  a contratar um explicador dos quadros reproduzidos, através de uma recensão: “belíssimos borrões: aqui um interior, onde, no canto à esquerda vemos uma dama languidamente espraiada num sofá, acolá um relógio pêndulo nas sombras… o pintor é muito elíptico, com pinceladas espessas e velozes, há um quadro na parede, não se pode detectar o que reproduz… talvez melhor assim, ameaça ser uma feroz, pouco recomendável bacanália…” Enfim, aí estão as razões desta recensão que ora vos fiz. A seguir, algumas transcrições de

poesias de Javier Gálvez

LA CIUDAD PARALELA

Entramos en la ciudad como a tientas, pero no por azar.

Parte de la memoria de una ciudad queda registrada en los nombres de sus calles, cuya nomenclatura está colmada de personajes supuestamente relevantes: políticos, militares, escritores, artistas… cuando no verdaderos tiranos y opresores.

Frente a semejantes esquelas de muertos, queremos reivindicar el sentido lúdico, poético y subversivo de los nombres de la CIUDAD PARALELA que a modo de luz de sombra, relumbra en cada ciudad del mundo.

HAQUÍ HOY

 

okaso             nuestro            DESGASTE

OLVIDO          SUEÑOS          las aceras

memoria        NO                   duermen

Alba                CABEN

 

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SEZZÃO ANUNZIOS DO PASCO

por Zuca Sardan

Prefira a PHARMACIA SYSIPHO – alicates, martelos, e tamancas portuguesas para eliminar todo tipo de Micropatas COVIDES Corocas e carrapatos.

Phone: 22.07.21- Encomendas serão consignadas com selo de cera de garantia de qualidade e dedicatória ao comprador, com autógrafo do  Doutor Galeno.

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 EROSIONES

por Javier Gálvez

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SEZZÃO ANUNZIOS DO PASCO

por Zuca Sardan

VENTILADOR TUFÃO sopra fora pela janela os Covides Corocas.
Contribui pra mudança energética do Planeta.
Proteja nossa Floresta Amazônica. Jogue fora seu fogão de lenha.

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A assistência informe emite borborigmos enquanto aguarda a realização do programa de preleções sobre o “Juízo Final sob o prisma das artes plásticas”. O lente, que ninguém percebeu chegar, encontra-se instalado em um púlpito, ladeado por duas titânicas projeções, para as quais se dirige a atenção da massa.

Projeção à direita:  pirâmide Jaz-eh, cindida ao meio por macacos mecânicos em forma de suástica.

Projeção à esquerda: teste nuclear realizado no aterro de Timbuktu.

Lente (apontando uma área indefinida da projeção à direita) : _ Vejam: as almas dos barões assinalados iniciam sua prodigiosa escalada em direção a Marte… Reparem que a princesa Nefreteta e seu séquito são de uma inconsistência singular.

Primeira interrupção da platéia: _ Responda, Lente, se eles não estariam sendo guiados pelos fachos de luz amarela emitidos pelos olhos da múmia de felino carregada pela princesa ?

Lente: _ Responderemos às perguntas, desde que se mantenha o foco da preleção… É sabido que o Juizo Final pratica uma distinção da qualidade das almas, mas seria possível fazê-lo sobre a base de uma singular inconsistência ?

Segunda interrupção da Platéia: _ Na projeção esquerda existe sem dúvida a sobreposição em transparência de um mapa do reino subterrâneo de Timbuktu…

Terceira interrupção da Platéia: _ Mas a escada celeste que conduz a Marte corresponde ou não à objetivação do conceito do DNA, onde se reproduzem todas possibilidades do expurgo das Almas ?

Quarta interrupção: _ Só para complementar: expurgo ou expiação mística de aspargos aspergidos em rios subterrâneos ?

Lente: _ Vamos retomar a trilha da singular inconsistência! Alguém se propõe a indicar o sentido plástico de um juízo final sobre o ovo cósmico?

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EROSIONES 3

por Javier Gálvez

Depois de Deus é Brasileiro (Editora Zouk, Porto Alegre), o tradutor holandês Harrie Lemmens lança novo livro caleidoscópico com fotos de Ana Carvalho: Licht op Lissabon – stadsverhalen (“Luz sobre Lisboa – histórias urbanas”). Lembranças, impressões, conversas com escritores e encontros com garçons e outros personagens nas ruas de Lisboa, a cidade mais bela do mundo!

Editora De Arbeiderspers, Amsterdam 2021, 404 páginas

Maravilha, Harrie!

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 A CULPA

(sermão da Papisa Borgia, da série “A Bíblia como ela é”)

A Culpa é o verdadeiro veneno do Jardim do Éden. Ela é o autêntico pecado original, pecado não cometido pelos nossos pais, mas inoculado pelo Pai nos seus primeiros filhos, que depois nos geraram assim, já com o código das suas almas corrompido. Foi o Pai quem pecou contra nós. A Culpa é veneno sem serpente, à qual se responsabilizou (na verdade Ele tentou culpá-la, mas a Serpente é patrona da psicanálise e não entrou no jogo, impedindo com a sua indiferença risonha pelos julgamentos do Pai que o veneno se espalhasse em sua alma), à qual se responsabilizou, retomo, pela alegre perversidade de… amar o conhecimento e oferecê-lo a Eva na forma de uma fruta: alimento para o espírito, ensinando-nos já de entrada os imensos ganhos da rebeldia. A Serpente é o Prometeu dos povos judaico-cristãos e como Prometeu, foi castigada por seu amor pela humanidade.

Ao perceber o que tinha acontecido, a raiva do Pai originou-se, incontrolável e terrível, de duas fontes. A primeira – e mais importante –, foi a desobediência em si, a desobediência de Eva e a escolha de Adão, que preferiu escutar sua companheira e não a Ele. Não há nada que incomode mais um patriarca do que a desobediência e se vier de uma mulher… Aí mesmo é que ele quer matar todo mundo – e de fato, o Pai inventou a Morte depois do evento. E em segundo lugar, seus filhos ficarem sabendo do que não era para eles saberem. O Pai os queria sempre ignorantes e infantis. Entrando na, por ele assim considerada, cena do crime para tomar satisfações, depois do encontro com um Adão patético, chorão e covarde posando de “enganado”, viu Eva, que tinha se afastado do local para conversar com a ema – e de passagem dar origem à frase de cartilha Eva viu a ema –, voltar correndo e de imediato perguntar: “Pai, cadê a nossa mãe? Ou as nossas mães?”

Ele ficou vermelho da mais pura fúria. E agora? Como recompor as relações de poder, quando os filhos sabiam como tinham sido feitos? Como, agora que eles sabiam que o Pai não conseguia criar sozinho? Que eles mesmos, seus filhos, podiam criar?

Foi então que inventou a Culpa. A Culpa manteria os filhos, e os filhos dos Seus filhos, numa infância eterna: dependentes, dominados e obedientes. O castigo “para inglês ver” da desobediência de Adão e Eva foi a expulsão do paraíso; mas o castigo mesmo, pra valer, foi a Culpa. E a primeira Culpa, a original, foi aquela sentida pelos primeiros filhos: a de terem sido “maus”, desobedientes, sendo que o “terem sido” na verdade já nasceu como um “serem”. A Culpa paralisa para que ninguém exerça o direito natural à insubordinação e ao agir segundo-seguindo a própria consciência. Atentem a como funciona e exercitem-se em não se deixarem capturar, expulsando-a ao primeiro sinal da sua presença maligna.

O veneno da Culpa tem uma ação quádrupla, atuando nesta ordem: primeiro deforma a percepção, depois paralisa, logo corrói a alma e finalmente impede o nascimento da ética e da responsabilidade. Ilustremos com um exemplo.

Suponhamos que alguém recebe a notícia de que um ser muito querido que depende dessa pessoa, digamos uma gata, uma criaturinha assim, singular, amorosa e divina, está com uma doença fatal que poderia ter sido evitada com uma simples vacina. A culpa atinge essa pessoa como um raio. Primeiro, deforma a percepção: todo o amor dado e recebido, os cuidados, as brincadeiras, as tentativas de comunicação de lado a lado, o dormir junto com o bichinho, o colo disposto àquela forma toda enroladinha em si, tudo isso desaparece e fica apenas a acusação: “você não deu a vacina e nunca mereceu a companhia desse animalzinho”. A próxima conclusão é, claro: “você é uma pessoa horrível e é sua a Culpa dessa morte.”

Deformada desse modo a percepção, a pessoa paralisa. Como dar um passo sequer, quando se é tão horrível? Quando, sendo horrível, se agir só poderá fazer coisas horríveis? Como poderia procurar outro ser para amar, como poderia continuar amando em paz os demais seres que ama, se agora acredita ser incapaz de amor? Se o seu amor mata? A única ação possível é a procura de punição, de autopunição, porque com o castigo vem, dizem, a expiação. Mas esta é outra mentira. Por mais que maltrate, o sofrimento culposo não permite o crescimento da alma porque se esgota em si – ainda que dure talvez a vida toda: quem está sendo punido, se punindo, esgota no sofrimento a necessidade – e o poder, e a energia – de se reinventar. Reinventar-se é mudar crescendo e portanto pecar contra os desejos do Pai (sendo esta última parte sussurrada pela Culpa no ouvido das nossas almas). Assim imobilizada, incapacitada para a ação transformadora de si, a alma vai se deixando corroer pelo veneno, se autocanibalizando até vomitar-se em algo parecido ao que era, mas pior, em vez de se transformar. E é por esta incapacidade para a ação que a ética – sempre uma tomada de posição ativa no mundo e para o Outro – fica impossibilitada.

Com culpa só há castigo. Sem ética não há vida adulta. Sempre crianças, viveremos para realizar o castigo do Pai. A culpa cumpre seu objetivo: promover a dominação. Até dizermos “chega” e chutarmos o Pai da barranca. Isso demora, mas pode acontecer sim. E também dói, mas a dor aqui é meio, não fim. E por não ser fim, ao contrário da outra, tem fim.

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 EROSIONES 4

por Javier Gálvez

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 QUESTÕES DE ESCOLÁSTICA

(poesia e imagem phirosophica de Zuca Sardan)

A BRECHA
Só Deus fala bem
de Deus…
Tod’a Escolástica
é uma brecha
na sebenta
de Tio Finel

*RODAPÉ
Reitor Finel é professor
de Theologia Recauchutada
no renomado Lyceo Pytanga
sua Sebenta Perdida
é uma referência
pra Cola de Lyceo

DERVIXE GIRATÓRIO

E o Dervixe apronta seus rodopios devocionais, de Roleta do Destino… Há uns numerozitos distribuídos em círculo, à volta do Dervixe. Quando ele cair em transe, sua cabeça mostrará o número vencedor. À sua volta, os místicos cameleiros fazem suas apostas.

(Acima, tio Phinel, muito jovem, debatendo phirosophia com o Capeta)

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